Um antigo segurança do prédio situado na Avenida da República, número 84, onde um jovem casapiano alega ter sido abusado sexualmente pelo arguido Jorge Ritto, garantiu esta segunda-feira em tribunal nunca ter visto o diplomata naquele local, refere a Lusa.

João Correia Amaro, que foi vigilante naquele edifício, defronte da antiga Feira Popular, entre Outubro de 1998 e 2004, relatou ao tribunal nunca ter visto o embaixador nas instalações do prédio, de nove andares.

A testemunha, arrolada pela defesa do embaixador Jorge Ritto, disse ainda que o prédio, onde funcionavam apenas serviços, estava fechado aos fins-de-semana e que ele tinha acesso a todos os andares, com excepção do nono.

O segurança foi chamado a depor como testemunha depois de um jovem, nascido em 1986 e que ingressou na Casa Pia de Lisboa em 1993, ter declarado em fase de instrução do processo ter sido abusado pelo arguido Jorge Ritto naquele local.

O jovem fez a identificação daquele edifício, tendo no interior reconhecido os pavimentos, degraus e o corrimão em mármores brancos e cinzentos e indicando que a casa se localizava no quinto andar direito, conforme refere o despacho de pronúncia que levou Ritto e outros seis arguidos a julgamento.

Como a irmã do jovem declarou em tribunal que este lhe contou que a dita casa ficava num prédio que foi deitado abaixo, com excepção da fachada, a defesa de Ritto juntou notícias de jornais sobre um prédio situado na Avenida da República 76 que ruiu em 1999 e em que só o rés-de-chão era habitado.

Durante o dia de hoje foi ainda ouvida uma outra testemunha, moradora na Alameda Afonso Henriques, número 47, outro dos locais apontados pelo jovem alegadamente abusado, que nada disse saber sobre Jorge Ritto ou abusos sexuais.

Jovem começou a aparecer com roupa de marca

Durante a sessão da manhã, o tribunal ouviu Maria de Fátima Pinto, educadora do Colégio de Santa Clara, que lidou de perto com um jovem casapiano, nascido em 1986, que em fase de instrução disse ter sido abusado pelos arguidos Carlos Silvino, Manuel Abrantes e Jorge Ritto e Paulo Pedroso (este último ilibado nesta fase processual).

Exercendo funções de educadora naquele colégio a partir de Outubro de 2000, a testemunha contou que o jovem foi «obediente, meigo e frontal» numa primeira fase, que durou até ao final do Verão de 2001, altura em que mudou de comportamento, passando a faltar às aulas, a regressar tarde ao lar e a aparecer com ténis, uma mochila e roupa de marca.

O procurador João Aibéo confrontou a testemunha com um relatório de Abril de 1999 em que demonstrava que o jovem era seguido em consultas de pedopsiquiatria, exibindo um comportamento ora meigo, ora agressivo, bem anterior ao constatado pela educadora em finais de 2001.

Adiado depoimento de Raquel Cruz

O tribunal que tencionava ouvir hoje o ensaísta e especialista em cinema João Bénard da Costa como testemunha (abonatória) arrolada por Jorge Ritto, acabou por adiar a sua audição, a pedido da defesa, por data a definir oportunamente.

O colectivo de juízes, presidido por Ana Peres, decidiu também adiar para dia 14 de Fevereiro a audição das testemunhas Raquel Cruz e de Marluce, respectivamente, mulher e ex-mulher de Carlos Cruz, que deveriam ser ouvidas no decurso desta semana.

Em contrapartida, Roberta Revoredo, sobrinha de Cruz, será ouvida quarta-feira `as 14:00.