O jornal dinamarquês "Jyllands-Posten", que em 2005 publicou uma polêmica série de charges sobre Maomé, apelou à "responsabilidade" de seus funcionários para não reproduzir nesta quinta-feira (8) desenhos do jornal francês "Charlie Hebdo", vítima de um atentado no qual morreram 12 pessoas.
Em entrevista divulgada no site do jornal, seu redator-chefe, Jorn Mikkelsen, recorreu à "situação especial" do "Jyllands-Posten", que sofreu várias tentativas de atentado nos últimos anos, para não publicar caricaturas da revista francesa, ao contrário da maior parte dos periódicos dinamarqueses.
A "Charlie Hebdo" foi um dos meios que reproduziu então algumas das 12 caricaturas de Maomé publicadas pelo jornal conservador dinamarquês, e que originaram meses mais tarde fortes protestos no mundo islâmico, com distúrbios em vários países e um boicote comercial aos produtos dinamarqueses.
"O certo é que teria sido irresponsável imprimir velhos ou novos desenhos do profeta agora. Muitos não o reconheceriam, eu sim, embora a meu pesar. O 'Jyllands-Posten' tem uma responsabilidade em relação a si mesmo e a seus trabalhadores, mas também além, infelizmente", avaliou Mikkelsen.
O redator-chefe do jornal rejeitou que se trate de autocensura e falou de "reflexão necessária" e de mostrar "um cuidado extraordinário", embora mantenha o direito a publicar todo tipo de charges mais adiante.
"Durante anos tentamos contribuir para que o debate avançasse, acima da antiga luta sobre os desenhos de Maomé de há quase dez anos. Se o 'Jyllands-Posten' os publicar - antigos, novos, com ou sem Maomé - tudo giraria sobre isso e escureceria o que aconteceu desde 2005", disse.
"Solidarizamo-nos com os colegas da 'Charlie Hebdo', compartilharam a carga conosco. Mas decidimos pela solução correta para nós, nossa situação é especial. Temos que cobrir esta história importante, por sua vez somos uma parte dela. Não é fácil", concluiu Mikkelsen. EFE