Placar Maio 2009

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DENTINHO

PARA ENCHER O COFRE CORINTIANO, ELE VAI SAIR

PÔSTER A EVOLUÇÃO DO FUTEBOL: A BOLA

O FENÔMENO MOSTROU QUE DÁ PARA JOGAR NO BRASIL, GANHAR BEM E AINDA CURTIR A VIDA. SAIBA QUEM MAIS QUER VOLTAR...

ELES QUEREM E D 1 3 3 0 • M A I O 2 0 0 9 • R$ 10,00 0 1 3 3 0> 9 770104 176000

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S M S : P L ACA R PA R A : 2 2 74 5

SER RONALDO

OS MACETES DA EVASÃO DE RENDA ROGÉRIO CENI FÁBIO, DO CRUZEIRO GRAFITE TAISON PARREIRA FÁBIO COSTA ALEX, DO CHELSEA

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E D I Ç Ã O

maio

1 3 3 0

2009

k 42

58

D E S TAQ U E S

42 Efeito Ronaldo Adriano e companhia miram-se no Fenômeno e querem voltar ao Brasil

50 Evolução do futebol A transformação das bolas, de forma ilustrada, em novo capítulo da série

53 Penetras liberados Os macetes de um problema quase insolúvel: a evasão de renda

58 Não olhe para trás Fábio, do Cruzeiro, virou gigante após o maior frango de sua vida

66 Menino prodígio O garoto Taison rouba a cena no centenário e vencedor Internacional

©2

78

©1

72 O predador

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Os dois lados de Fábio Costa: o milagreiro e o encrenqueiro

78 Segunda dentição Dentinho ensaia o adeus depois de ter devolvido o Corinthians à elite

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SEMPRE NA PLACAR

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VOZ DA GALERA

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TIRA-TEIMA

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PLACAR NA REDE

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IMAGENS

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AQUECIMENTO

36

MEU TIME DOS SONHOS

38

MILTON NEVES

83

PLANETA BOLA

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CHUTEIRA DE OURO

94

BATE-BOLA: ALEX, DO CHELSEA

96

BATE-BOLA: CARLOS ALBERTO PARREIRA

98

MORTOS-VIVOS

©1 EUGÊNIO SÁVIO ©2 EDISON VAR A ©3 RENATO PIZZUT TO

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vozdagalera M E TA O PA U , E L O G I E , FA Ç A O Q U E Q U I S E R . M A S E S C R E VA . . .

Li “As duas faces de Ronaldo”. Nada surpreende. A mídia o colocou como semideus. Ele nunca esteve preparado para a fama. Edson Varon, por e-mail

têm em seu DNA muito da cultura platina. Isso parece não ser levado em conta para quem nasce fora da região Sul. Aliás, é até compreensível essa forma de pensar num país que faz de tudo para mostrar no exterior que o Brasil é só Carnaval, Samba e Floresta Amazônica. Luciano Duarte de Melo, luciano@clicheriagravan.com.br

E o Robinho Arantes? Cada vez mais me surpreendo com a cara de pau do jornalista Milton Neves.

O Leão ruge

Sacanagem, pô!

Confesso que fiquei muito honrado e

Sacanagem essa reportagem sobre o

feliz ao saber que na edição de abril

Ronaldo bem na reta final do Paulista.

sairia uma matéria especial sobre o

Seria interessante deixar o Ronaldo um

Sport. Mas fiquei decepcionado ao ler

pouco de lado e falar da competição.

o tópico “As armadilhas da Ilha”. Essa

Carlos Alberto Ignacio de Oliveira,

prática (de soltar fogos perto do hotel

cignacio@uolinc.com

do visitante) também se repete em todo o país pelas torcidas. Todos os adversários que vêm nunca reclamaram da nossa estrutura. Bruno Batista, Recife (PE)

Caro Bruno. A matéria era sobre a festa e

Tardelli Devorei em minutos a matéria sobre o Tardelli. Muito bem escrita, com muitas informações e detalhes interessantes. Rosa Santos, rosa.silva99@gmail.com

deixarem de secar o Neymar e pararem de fazer comparações dele com Pelé ou Robinho. Mas, quando o Robinho surgiu, ele o chamava de Robinho Arantes do Nascimento... Daniel Collyer, Rio de Janeiro (RJ)

E R R ATAS

EDIÇÃO DE ABRIL ■ Na pág. 34 da edição de abril, há uma

incorreção. A Wolff Sports & Marketing não comercializou o patrocínio no uniforme do Corinthians no jogo contra o Palmeiras.

a ótima estreia do Sport na Libertadores.

A empresa intermediou a comercialização

Corinthians, Inter e Vasco, que passaram

Alma castelhana

recentemente por Recife. Como sempre,

Acho que o Grêmio e os gremistas não

■ Diferentemente do que foi publicado

Placar ouviu os dois lados. A defesa

querem ser argentinos, como sugere a

na página 88, o “floorball” não é praticado

do Sport foi publicada em cada item.

reportagem “Están locos?”. Os gaúchos

com patins, e sim com tênis.

As informações do “As armadilhas da Ilha” foram colhidas com clubes como

Ele teve a petulância de dizer para

do patrocínio da Locaweb para o time na partida Corinthians x Estudiantes.

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tirateima AS DÚVIDAS MAIS CABELUDAS RESPONDIDAS PELA PLACAR

Quais eram as dez maiores torcidas do Brasil em 1970? Luiz Henrique C. da Silva, Rio de Janeiro (RJ)

É difícil precisar esse ranking, Luiz, mas dá para oferecer uma ideia das torcidas brasileiras em 1971. Foi quando Placar publicou sua primeira pesquisa, realizada pelo Instituto Gallup de Opinião Pública. Foram ouvidos torcedores nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, mas os resultados foram divididos por estado. A primeira pesquisa nacional da Placar, também feita pelo Gallup, foi realizada em 1983. Na parte de cima do ranking não há muitas novidades; Flamengo e Corinthians já eram as maiores. Mas nota-se, por exemplo, o crescimento da torcida do São Paulo e a decadência da do Bahia.

k

©1 Givanildo era parte do elenco que voltou invicto do Oriente Médio e da Europa e recebeu a Fita Azul

Sou torcedor do Sport e tenho um amigo tricolor que insiste em um tal título do Santa Cruz chamado Fita Azul. Segundo ele, trata-se do único título internacional de um time do Nordeste. Favor esclarecer melhor esse torneio — além de dizer que ele não vale nada...

duas, tendo vencido inclusive a seleção do Kuwait, treinada por Carlos Alberto Parreira. Agora, daí a considerar a Fita Azul efetivamente um título internacional, são outros quinhentos...

PESQUISA PLACAR GALLUP 1971

PESQUISA PLACAR GALLUP 1983

OS JOGOS DO SANTA CRUZ SÃO PAULO 1/3 SANTA CRUZ

FLAMENGO

31%

29%

CORINTHIANS

17%

PALMEIRAS

17%

PALMEIRAS

9%

SÃO PAULO

15%

VASCO

9%

SANTOS

7%

ATLÉTICO

7%

5 X 1 SELEÇÃO DO KUWAIT CORINTHIANS

6/3 SANTA CRUZ

1 X 1 SELEÇÃO DO KUWAIT

8/3 SANTA CRUZ

3 X 0 SELEÇÃO DO BAHREIN

11/3 SANTA CRUZ 4 X 0 SELEÇÃO DO CATAR SANTOS

9%

13/3 SANTA CRUZ 4 X 1 SELEÇÃO DO CATAR RIO DE JANEIRO 14/3 SANTA CRUZ 2 X 1 SELEÇÃO DE DUBAI FLAMENGO

35%

SÃO PAULO

6%

VASCO

18%

BOTAFOGO

5%

FLUMINENSE

16%

CRUZEIRO

5%

BOTAFOGO

14%

BAHIA

5%

17/3 SANTA CRUZ 3 X 0 SELEÇÃO DE ABU-DABHI

Marconi Maciel, Caruaru (PE) 18/3 SANTA CRUZ 3 X 0 AL-AIM

Seu amigo tricolor está certo,

k

Marconi, ao menos em relação

à existência do título. O Santa ganhou a Fita Azul, mas na verdade tratava-se de

20/3 SANTA CRUZ 6 X 2 NASSER ESPORT CLUB 23/3 SANTA CRUZ 3 X 0 ALHLAL, DA ARÁBIA SAUDITA PORTO ALEGRE

GRÊMIO

5%

INTERNACIONAL

47%

FLUMINENSE

4%

GRÊMIO

44%

INTERNACIONAL

4%

30/3 SANTA CRUZ 4 X 2 SELEÇÃO DA ROMÊNIA 1/4 SANTA CRUZ

2 X 2 PARIS SAINT-GERMAIN

um título honorário concedido pela CBD

O ELENCO DO SANTA CRUZ

BELO HORIZONTE

(posteriormente pela Gazeta Esportiva )

GOLEIROS: JOEL MENDES E CLÁUDIO

ATLÉTICO

43%

aos clubes que permanecessem

LATERAIS: CARLOS ALBERTO BARBOSA,

CRUZEIRO ZEIRO

42%

invictos em excursões ao exterior.

VACIL E PEDRINHO

Portuguesa de Desportos (11 jogos em

ZAGUEIROS: ALFREDO SANTOS E PARANHOS

1951), Portuguesa Santista (15 jogos

MEIO-CAMPISTAS: GIVANILDO, DEINHA, JADIR,

em 1959) e Coritiba (6 jogos em 1972)

BETINHO E GONÇALVES

também receberam o título. Em 1979,

ATACANTES: VOLNEY, NEINHA,

o Santa jogou 12 partidas no Oriente

ZÉ ROBERTO E LULA

Médio e Europa. Venceu dez e empatou

TÉCNICO: EVARISTO DE MACÊDO

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Edição de 31/12/1971, que trouxe a primeira pesquisa Placar de torcidas

© 1 F O T O N I C O E S T E V E S © 2 F O T O A L E X A N D R E B AT T I B U G L I

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placarNarede OVERDOSE DE FUTEBOL EM WWW.PLACAR.COM.BR

NOVO SITE BOLA DE PRATA Prêmio de maior credibilidade no futebol brasileiro, a Bola de Prata ganhou um site só seu. Confira o desempenho dos atletas e dos clubes durante o Campeonato Brasileiro, rodada a rodada.

BANCO Um arquivo completo com todos os jogadores que disputaram o Brasileiro desde 2003. Para as edições anteriores, Placar também disponibiliza um campinho com os premiados em suas respectivas posições desde 1970.

FICHAS Agora você pode acompanhar o desempenho individual de todos os jogadores durante o Brasileiro. Isso porque o novo site da Bola de Prata traz uma ficha personalizada de cada atleta, na qual é possível comparar, em gráficos, jogadores, clubes e os melhores em cada posição. Também é possível acompanhar o retrospecto de cada jogador em anos anteriores.

NOVIDADES O que já era bom ficou melhor. O novo site da Bola de Prata agora terá vídeos com os gols da rodada, podcasts com análises das notas dos jogadores, sobe-e-desce, enquetes, além do Bola de Prata pelo celular.

Bolão Placar Acabou a brincadeira: a Placar agora tem um bolão. Enfim, uma grande oportunidade de você tirar um sarro dos seus amigos e provar que realmente entende de futebol. Em um aplicativo do Bolão Placar no Orkut estarão disponíveis para apostas todos os principais torneios de futebol do Brasil e do mundo. Para completar, os cinco melhores colocados no ranking no fim do mês terão seus nomes devidamente divulgados na revista. Não perca tempo, entre na disputa.

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Dores do crescimento No jogo de ida das quartas-de-final da Champions League, contra o Chelsea, “El Niño” Fernando Torres começou como um gigante, marcando um gol logo aos 5 minutos. Mas o Liverpool permitiu a virada, perdeu a partida por 3 x 1 e a vaga nas semifinais no jogo seguinte, um épico 4 x 4 FOTO PAUL ELLIS/AFP

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Telefone sem fio A mensagem deveria ser clara: contra o Santos, no Palestra Itália, só a vitória deixaria o Palmeiras vivo no Paulistão. Mas o time de Luxemburgo e Marcos não se entendeu em campo e deu adeus ao sonho do bicampeonato FOTO RENATO PIZZUT TO

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Quero-quero driblar Na partida contra o Paranavaí, no Couto Pereira, Carlinhos Paraíba parece combinar um drible de corpo com um quero-quero, frequentador assíduo de nossos gramados. A parceria deu certo: vitória dos donos da casa por 3 x 0 FOTO RODOLFO BUHRER

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I M A G E N S ,

N O T Í C I A S

E

C U R I O S I D A D E S

D O

F U T E B O L

aquecimento Rogério Ceni e Marcos: admirado pelos colegas, odiado pelas torcidas dos rivais

k P E R S O N AG E M

D O

M ÊS

O anticristo Por que Rogério Ceni é tão admirado no meio do futebol e tão odiado pelos torcedores rivais? POR SÉRGIO XAVIER FILHO

Se pudesse, Rogério Ceni riscaria o mês de abril da folhinha. No dia 5, falhou nos dois gols do São Caetano. No dia 9, calculou mal uma bola alta e entrou com bola e tudo na partida contra o Defensor pela Libertadores. No dia 12, quase engoliu dois frangos contra o Corinthians na semifinal do Paulistão. Nos descontos, tomou um gol de fora da área num lance em que poderia estar mais bem posicionado. Um dia depois, em um treino recreativo, fraturou o tornozelo. De quatro a seis meses longe dos gramados. No fundo, talvez Rogério preferisse riscar o ano todo de 2009 de sua vida. Ele não marcou um único gol (uma raridade), já tinha falhado feio em um jogo contra o Bragantino, já tinha sofrido uma lesão muscular importante. O ano de 2009 só não foi para o vinagre por uma razão: na tarde de 4 de fevereiro, mesmo dia do peru contra o Bragantino e do problema muscular, Ceni renovou contrato com o clube. Uma demonstração de carinho e confiança incomuns nos dias de hoje. O São Paulo decidiu renovar com um goleiro veterano por longos quatro anos. Com 36 anos nas costas, Rogério está garantido no clube até 2012, quando completará 40. Nem TV Mitsubishi tem tanta garantia. A renovação de contrato coincidiu com a pior fase de sua carreira. E cada uma dessas falhas coincidiu também com uma explosão de alegria. Os torcedores rivais soltaram foguetes. Corintianos, palmeirenses e santistas odeiam Ceni. Dizem que ele é arrogante, marqueteiro, falso e enganador. Um anticristo. Quase comemoraram sua fratura. Os que EDIÇÃO RICARDO PERRONE

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não tiveram coragem de dizer isso abertamente duvidaram da contusão. Disseram que o raio X era falso, que ele simula lesões sempre que começa a falhar. Dá para acreditar? Seria de supor que uma figura tão abjeta assim despertasse os piores instintos no mundo do futebol. Mas não é o que acontece. Placar conversa diariamente com jogadores, técnicos e dirigentes. A opinião sobre Ceni é quase unânime. Ele é admirado. Os jogadores do São Paulo o enxergam como verdadeiro líder. Aquele que estuda os adversários, enche a bola dos colegas, briga pelas premiações. Os adversários o respeitam pelas mesmas razões. Alguém já viu um atacante chutar Rogério numa dividida? Quando alguém esbarra nele, é um tal de pedir desculpas e salamaleques... Como um sujeito assim desperta tanto ódio nos torcedores rivais? Talvez Rogério seja exatamente aquilo que mais incomoda o brasileiro. Seu sucesso não vem de um dom especial. Rogério não venceu pela bênção do talento, mas pelo trabalho. Há goleiros com mais reflexos, mas Ceni sobressaiu pelo conjunto da obra. É econômico nos gestos e tem foco no resultado. Não se verá Rogério dando pontes inúteis para sair na foto. Ele irá preferir esperar em pé a bola que talvez volte da trave. Romário, Robinho, Ronaldo e outros bafejados pelo talento são muito mais “Brasil” do que ele. Carregam a descontração do craque que se humaniza com os atrasos, sumiços ou noitadas. Sem a genialidade dos outros, Rogério vive só de seu trabalho. Quem sabe não seja essa eficiência que desperta o ódio dos rivais? DESIGN L.E.RATTO

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aquecimento ÍDOLO DO ÍDOLO

Caminho de volta

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MADSON

De segunda a sexta, Casagrande enfrenta rotina em consultórios de psicólogo e psiquiatra

MEIA DO SANTOS ÍDOLO: RONALDO, ATACANTE DO CORINTHIANS E DA SELEÇÃO NAS COPAS DE 1994, 1998, 2002 E 2006

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Meu ídolo de verdade sempre foi o Ronaldo. Quando ele surgiu no Cruzeiro, era tão rápido que fez com que eu observasse seus dribles e arrancadas. Depois o acompanhei no PSV, no Barcelona, na Inter, no Real e agora no Corinthians. Quando ele pegava na bola, eu sabia que alguma coisa boa ia acontecer.

©1 Ronaldo agora enfrenta admiradores

©2

©2

Mesmo longe do Morumbi, Denílson e Júlio Baptista geraram receita; shows de Madonna também

Eles deixaram o São Paulo no azul Denílson, Júlio Baptista e Madonna garantiram dinheiro para clube não fechar 2008 com as contas no vermelho Madonna, Júlio Baptista e Denílson evitaram que o São Paulo terminasse 2008 no vermelho. Segundo o diretor financeiro Osvaldo Vieira de Abreu, o clube encerrou o ano com superávit de 2,2 milhões de reais graças a receitas geradas pela cantora e pelos dois jogadores. O dirigente havia dito que o São Paulo poderia apresentar um déficit de até 12 milhões de reais em suas contas do ano passado. “Teríamos direito a um bônus se o Denílson fizesse um determinado número de partidas

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como titular pelo Arsenal. E ele alcançou essa marca. O dinheiro entrou no fim do ano e nos ajudou”, afirma o cartola. Entraram nos cofres do Morumbi cerca de 4 milhões de reais. Como clube formador, o Tricolor recebeu por volta de 1,3 milhão de reais com a mudança de Júlio Baptista, que trocou o Real Madrid pela Roma. Já os shows de Madonna renderam 2,4 milhões de reais. O prêmio pelo título brasileiro e as últimas rendas do Nacional também incrementaram as receitas. R I C A R D O P E R R O N E

Por uma noite, em março, Casagrande interrompeu a rotina solitária imposta por seus médicos para ser homenageado por torcedores do Corinthians e ex-colegas dos tempos de Democracia Corintiana. Estava assustado com a agitação num bar da zona leste de São Paulo. Natural para quem está saindo pouco e tem telefonemas atendidos por parentes, que filtram suas amizades. “Estou retomando o contato com as pessoas, vendo como me recebem. Não sofri preconceito, mas dependente químico é a segunda classe que mais sofre preconceito. A primeira é homossexual”, diz o ex-jogador. Em meio à algazarra, o ex-jogador corintiano Ataliba conta que ficou oito meses sem ver o amigo, que há seis meses deixou uma clínica para

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dependentes químicos. “Hoje é difícil falar com ele. Você liga no celular, tem que falar com o pai, com a mãe...”, diz Ataliba, antes de ser repreendido pelo ex-lateral Vladimir. Ele não gostou de Ataliba dizer que espera voltar a jogar com Casão no Veneno (time de várzea). Enquanto o garçom serve o segundo copo do que parece ser caipirinha, Casão fala do tratamento para tentar se livrar da cocaína. “Você quer saber qual é minha rotina? Segunda, quarta e sexta vou ao psicólogo. Terça e quinta, ao psiquiatra”, diz ele, que começou o caminho para voltar a comentar jogos pela TV Globo participando do programa Arena SporTV. Em abril, deixou de ir a um evento com outros ex-jogadores por ter ficado doente.

©5 A esposa Luanda curte o visual de Nego

TINTA FRESCA O lateral Nego, de 23 anos, que disputou o Paulista pela Ponte Preta e até o dia 20 de abril negociava com o São Caetano, cumpre um ritual a cada 45 dias. Pinta o cabelo de loiro para ficar parecido com o cantor Belo. E agradar à esposa, Luanda Cristina da Silva. Começou em 2005. “Em Natal (RN),

RICARDO PERRONE

se eu deixar o cabelo preto, ninguém ©4

me reconhece. Todo mundo me chama de Nego Belo”, conta. Ele só deixou de homenagear o pagodeiro enquanto defendeu o Atlético-MG. Afirma que a torcida pegou em seu pé por causa do visual. Graças à semelhança com Belo, o jogador aplicou uma pegadinha,

LENDAS DA BOLA

O inacreditável, o impressionante, o sobrenatural. As histórias que os gramados não contam

sem querer, no técnico Sérgio P O R M I LT O N T R A J A N O

Soares, que treinava a Ponte. Quando viu o lateral pela primeira

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vez, ele achou que estava diante do pagodeiro. “Foi um riso só”, diz Nego. O jogador vira alvo de gozações dos companheiros quando a tintura ©6

começa a desbotar. “Eles falam que fico parecido com o Tiririca.”

Casão entre Ataliba e Biro Biro; Placar revelou seu drama em 2008

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©1 RICARDO CORRÊA ©2 PIER GIAVELLI ©3 REGINALDO TEIXEIRA

©4 THIAGO BERNARDES ©5 RAC

ELIAS AREDES JÚNIOR

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aquecimento

Clube dos descamisados Fornecedora de 19 equipes das quatro séries do Brasileirão, a Champs enfrenta problemas para cumprir contratos e pode dar adeus a times maiores

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A Ponte rescindiu com a marca. “Ela abraçou vários clubes e não conseguiu desovar a produção”, afirma Márcio Della Volpe, diretor de marketing do clube. Segundo ele, a Champs entregou poucas peças para as lojas e a camisa alusiva aos 100 jogos do goleiro Aranha nem sequer saiu. O advogado da Champs, Adriano Di Gregório, culpa a torcida pontepretana pela rescisão “amigável”. “O problema era a Champs fornecer também para o Guarani”, afirma. Segundo ele, a fábrica passou por pequenos problemas de logística, cuja fusão com a Lupo deve equacionar. “A empresa cresceu muito rápido. Em breve todos os contratos estarão regularizados”, diz. Os descontentes já deram um ultimato. Com o Náutico, foi assinado um termo de ajustamento de conduta. Di Gregório fala até em sabotagem. M A R C O S S É R G I O S I L V A ©

COM QUE ROUPA EU VOU? CLUBES

ATUAL

BRASILEIRÃO 2009

ATLÉTICO-MG

LOTTO

LOTTO

ATLÉTICO-PR

UMBRO

UMBRO, KAPPA OU FILA*

AVAÍ

CHAMPS

CHAMPS*

BARUERI

KANXA

KANXA

BOTAFOGO

KAPPA

FILA

CORINTHIANS

NIKE

NIKE

CORITIBA

LOTTO

LOTTO

CRUZEIRO

REEBOK

REEBOK

FLAMENGO

NIKE

OLYMPIKUS

FLUMINENSE

ADIDAS

ADIDAS

GOIÁS

LOTTO

LOTTO

GRÊMIO

PUMA

PUMA

INTER

REEBOK

NÁUTICO

CHAMPS

REEBOK CHAMPS, FILA, PENALTY OU TOPPER*

PALMEIRAS

ADIDAS

ADIDAS

SANTO ANDRÉ

FINTA

LOTTO

SANTOS

UMBRO

UMBRO

SÃO PAULO

REEBOK

REEBOK

SPORT

LOTTO

LOTTO

VITÓRIA

CHAMPS

CHAMPS*

* S I T U A Ç Õ E S I N D E F I N I D A S AT É 2 0 /4

Da grana ao caos. Eis a saga da Champs, marca que é comandada pela Leandrini Confecções e que está desde 2007 no mercado. Com 19 clubes das quatro séries do Brasileirão e a promessa de suprir a demanda de uniformes com contratos vantajosos, a fornecedora ampliou neste ano seu portfólio e também seus problemas. Vieram atraídos por ofertas que variavam de 1 milhão a 6 milhões de reais Náutico, Ponte Preta, Vitória e Vasco. Junto com eles, as primeiras reclamações. Jogos incompletos (o goleiro Eduardo, do Náutico, atuou com o uniforme antigo, com o logo da Wilson coberto por um esparadrapo) e quantidades insuficientes (a Ponte realizou cinco partidas com a mesma roupa). Talvez o maior pecado tenha sido enviar para a Ponte uniformes verdes, a cor do rival Guarani, vestido pela mesma grife.

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NÃO PERCA!

Camisa da Ponte com a faixa fora de lugar

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GUIA DO BRASILERÃO A partir do dia 6 de maio, começa a chegar às bancas a mais completa edição do Campeonato Brasileiro. São fotos e fichas detalhadas de 680 jogadores das séries A e B, com o tempo de contrato de cada atleta, os autógrafos e e-mails de seus ídolos, as tabelas destacáveis do campeonato... E, claro, nossos palpites sobre as chances de seu clube no Brasileirão!

©1 FOTO FUTURA PRESS ©2 DIVULG AÇÃO

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Partida de videogame

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Juiz virtual Saiba como atua um árbitro oficial de videogame Você vai ser árbitro de um campeonato de videogame de futebol. “Como assim, você pega o joystick e controla o juiz?” Essa é a pergunta mais comum quando comento que coordenarei a equipe de

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arbitragem na Fifa Interactive World Cup, o Mundial de futebol virtual. Nesse caso, um árbitro humano cuida da conduta de quem está com o controle, como o tempo gasto para fazer mudanças antes de cada partida.

A eliminatória latino-americana de 2009 rolou no dia 28 de março, no Museu do Futebol do Pacaembu. Há etapas em todos os continentes, e os vencedores fazem a final em Barcelona. Há gente que treinou duro e também jogadores de ocasião. Tanto que a primeira rodada mal começa e um jogador se recusa a jogar. “O meu controle não funciona e não consigo fazer as mudanças”, diz. Faço os testes, está tudo perfeito. Ele havia trocado Cristiano Ronaldo e Van der Saar de lugar no Manchester United. Não sabia o que fazia. Na final, Ruben Morales, mexicano, bateu o brasileiro Sergio Pires por 2 x 1 e tornou-se bicampeão. O dia termina após quase 12 horas de trabalho, mas a vontade de voltar em 2010 supera o cansaço. D A N I E L P E R A S S O L L I

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aquecimento

O estrategista Dirigentes do Atlético-PR têm repertório de “causos” de Roberto Fernandes, o técnico que comandou treino no Figueirense com um jogador usando vestido A imagem do volante Jairo, do Figueirense, treinando com um vestido rosa, que fez barulho nos meios de comunicação, não surpreendeu dirigentes do Atlético-PR. Eles colecionam histórias de Roberto Fernandes, o técnico do Figueirense, que trabalhou no Furacão por 72 dias em 2008. O repertório em Curitiba, segundo os cartolas, inclui dicas de moda para

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os jogadores e a frase “Falta testosterona ao elenco”. Os dirigentes também afirmam que ele ficava com os louros das vitórias e culpava os jogadores pelas derrotas. Em entrevista à Placar, o treinador primeiro negou a veracidade de todas as histórias, como negou ter obrigado Jairo a usar roupa feminina por treinar mal. Diz que o castigo foi escolhido pe-

los jogadores. Depois, afirmou que as perguntas “eram questões internas”, então não falaria sobre elas. Mas admitiu um dos casos e disse ter sido duro com os jogadores em certas ocasiões. Por fim, acusou os dirigentes de tentar denegrir sua imagem. “Querem me fazer de palhaço. Não vou aceitar”, retrucou, encerrando a conversa por telefone. A L T A I R S A N T O S

A DIRETORIA JURA QUE ACONTECEU

1

Na chegada ao Atlético-PR, Roberto Fernandes exige vaga no estacionamento coberto no CT do Caju. Nem o supercartola Mário Celso Petraglia desfrutava de tal regalia. O treinador teve de se contentar com uma vaga descoberta.

3 28

Diretores e funcionários do clube preparam-se para acompanhar um treino do time. Ficam surpresos ao serem barrados. “Se era um treino secreto, por que o administrativo tinha de estar lá? Eu não ia ao escritório do clube”, diz o treinador.

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A maneira como os jogadores se vestem desagrada ao treinador. Ele comenta que os atletas parecem ter se produzido para uma balada, e não para trabalhar. Sugere que usem camisa social ou polo em vez de camisetas estampadas e joias.

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Atento a tudo que ocorria no clube, Fernandes analisa o cardápio dos atletas e constata: precisam de alimentação com mais “sustância”. Sugere então iguarias típicas do Nordeste, como carne-seca com macaxeira. Não é atendido.

© ILUSTRAÇÃO FIDO NESTI

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aquecimento VOO PARA O BANCO

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Foram 18 anos longe de casa. Negociado com o Vasco em 1991,

Remo e Paysandu completaram 700 confrontos em abril; duelo paraense supera os outros dérbis do país

Jardel se tornou ídolo no Grêmio, brilhou em Portugal, envolveu-se em polêmicas e, nesta temporada, decidiu, enfim, retornar ao Ferroviário,

Ozir Ramos, presidente de honra do clube, grita com o time sem esquecer a cervejinha; falta dinheiro até para o ônibus

clube do Ceará que o revelou. Sua apresentação, em fevereiro, foi digna de um astro. Chegou de helicóptero ao estádio Elzir Cabral. Passada a festa, Jardel ralou um mês para entrar

É duro ser o pior

em forma. Fez sua reestreia contra o Quixadá, pelo Estadual. Balançou a rede em seu primeiro chute a gol. A poeira baixou e ele foi parar no banco. Não agradou ao técnico Arnaldo Lira.

Livro sobre a história do Íbis registra penúria do clube e até inesperadas goleadas a favor contra grandes de PE

“Não jogo porque ele não quer. Não vejo a hora de ele sair daqui”, disse o jogador.

De onde vem o Íbis? O Pássaro Preto — ou Fábrica de Artilheiros (dos adversários, claro) — nasceu no bairro de Santo Amaro das Salinas, em Recife, e migrou para Olinda, Paulista, Tracunhaém, Camaragibe, Goiana, Timbaúba e Bonito antes de ficar sem lar e sem lugar no Pernambucano da segunda divisão deste ano. Tentou a cidade de Carpina em vão: o prazo para definir o local de mando dos jogos já terminara. A trajetória do primeiro campeonato perdido por W.O. nos 70 anos do Íbis encerra O Voo do Pássaro

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MARCUS ALVES

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Jardel voltou e só agradou no início

Clássico do Pará ostenta recorde

Preto, livro assinado por Israel Leal. O jornalista pesquisou o rubro-negro e descobriu histórias além das “mentiras” contadas por aquele que se diz “O Pior do Mundo” (o retrospecto contra os grandes do estado inclui goleadas a favor, como o 5 x 3 contra o Náutico em 1948). Viu um clube sem bolas, água ou dinheiro para o ônibus. “Vencer desse jeito é difícil”, diz o alemão Kai Franz, coordenador técnico em 2008, talvez não entendendo que a missão é justamente esta: perder sempre. M A R C O S S É R G I O S I L V A

Não há lugar no Brasil em que dois clubes rivais tenham se enfrentado mais vezes quanto no Pará. Remo e Paysandu completaram em abril 700 partidas disputadas. É um número muito maior que o de qualquer outro dérbi nacional. Quem chega mais perto são Maranhão e Sampaio Corrêa, com 594 confrontos. As contas do Re-Pa cresceram recentemente. O jornalista e historiador Ferreira da Costa, autor do livro A História do Clássico Remo e Paysandu, “descobriu” quatro jogos que não constavam da estatística. “Nesses últimos seis anos, encontrei embasamento para mudar os números”, afirma. O

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A MAIOR GOLEADA PAYSANDU 7 X 0 REMO (22/7/1945) Seis dos sete gols foram marcados só no segundo tempo.

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POR ENRIQUE AZNAR

Não suporto mais o luto no futebol. Com todo o respeito aos mortos, ninguém precisa aguentar essas tarjas pretas coladas, sabe-se lá como, nas mangas das camisas. O que tem de comentarista confundindo jogador de luto com limpo. Uma zona só. De uma hora para outra, resolveram homenagear todos os conselheiros mortos. Pô. É quase todo mundo velhinho! Morre um por semana,

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© 1 J O S É L E O M A R © 2 I S R A E L L E A L © 3 I L U S T R A Ç Ã O M I LT O N T R A J A N O © 4 R E P R O D U Ç Ã O © 5 P E D R O P I N T O © 6 R O D O L F O B U H R E R

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©6 Apelido dado pela torcida vira alvo de disputa

DONO DO COXA? O Conselheiro do Coritiba Sedu Protágio Branco Júnior tenta desde 2007, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, tomar posse da marca Coxa. E trava uma batalha com o clube. Veja o que ele diz. A marca coxa-branca já não é de domínio público? Talvez o INPI entenda como domínio público. Eu acredito que não, pois o Palmeiras registrou a marca Porco e o Flamengo fez o mesmo com o Urubu. O que eu quero é zelar pela reputação da marca. Se o senhor ganhar, vai proibir a torcida de gritar “Coxa” no estádio? Quem falou isso é mal-intencionado. Querem jogar a torcida contra mim.

VIRADA EMOCIONANTE PAYSANDU 3 X 2 REMO (13/10/1971) O Papão empatou aos 35 minutos do 2º tempo e virou o jogo a 3 minutos do fim da prorrogação

O senhor sabe como surgiu

O MAIOR PÚBLICO REMO 1 X 1 PAYSANDU (29/4/1979) 64 000 torcedores no Mangueirão para ver a estreia de Dadá Maravilha no Paysandu

Cabral e Silva (ex-presidente do

O TABU REMO 3 X 1 PAYSANDU (7/5/1997) Entre 1993 e 1997, o Remo passou 33 jogos sem perder. No último jogo da escrita, o Leão venceu sem técnico, dirigido pelo zagueiro Belterra e pelo volante Agnaldo

e o Jofre o xingou do alambrado: “Vai

O RE-PA DO SÉCULO REMO 3 X 2 PAYSANDU (12/11/2000) Os dois rivais decidiram o terceiro lugar do módulo amarelo da Copa João Havelange e uma vaga nas oitavas-de-final da competição, além do acesso à elite do futebol brasileiro

capitão... No segundo tempo, tem uns quatro enlutados e o resto de uniforme

sério. Conseguiram vulgarizar os defuntos. Respeito aos mortos! É o mínimo.

primeiro Re-Pa foi em 10 de junho de 1914, nove anos depois do primeiro Botafogo x Fluminense, considerado o clássico mais antigo do Brasil. O que fez a diferença a favor do “Clássico Rei da Amazônia” foi a quantidade de torneios curtos e jogos amistosos. Em 1967, por exemplo, Remo e Paysandu ficaram frente à frente 17 vezes. “Para qualquer grande contratação de um dos clubes, tinha de haver um Re-Pa para apresentá-la”, afirma Quarentinha, o maior jogador da história do Paysandu — ninguém jogou tantos clássicos paraenses quanto ele: 135. “Os duelos entre os dois são sempre de muita emoção.” L E O N A R D O A Q U I N O

CINCO RE-PA’S HISTÓRICOS

O HOMEM MAIS IRADO DA CIDADE

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©2

o apelido Coxa-Branca? Dizem que foi cunhado pelo Jofre

Atlético) no primeiro Atletiba de 1941. Havia um zagueiro nosso alemão embora, coxa-branca!” A expressão tornou-se popular. O senhor é Coxa ou atleticano? Eu sou sócio remido do Coritiba desde 1967. Colaborei para construir o estádio, fui gandula do clube e já pertenci às torcidas organizadas. A LT A I R S A N T O S

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VIRADO À PAULISTA Como em São Paulo, a Federação Mineira aposta em um nome sem experiência prática na área para contornar uma crise no apito. O professor de educação física da Universidade Federal de Minas Gerais

oVENENO!

aquecimento ©2

©2

(UFMG) Jurandy Gama Filho assumiu

Reinaldo, tratado como promessa no Atlético-MG, agora banca o grupo de pagode em que toca

a presidência da comissão de arbitragem da entidade. Ele entrou na vaga de Lincoln Afonso Bicalho, que deixou o cargo em março, após o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, denunciar suposto esquema para beneficiar o Cruzeiro. A entidade já enfrentava problemas por causa do assalto que levou quase 1 milhão de reais de seu cofre e desencadeou investigações do Ministério Público sobre a procedência do dinheiro roubado. O escândalo envolvendo o juiz de São Paulo Edilson Pereira de Carvalho, em 2005, fez a Federação Paulista nomear o tenente-coronel da reserva da PM Marcos Marinho para chefiar a comissão de arbitragem. Foi para dar

E nquanto eu for presidente do Corinthians, o Vanderlei Luxemburgo não será o técnico Andres Sanches,, fechando as portas do Parque São Jorge para o treinador palmeirense

credibilidade. Ainda hoje há dirigente reclamando que ele não é do ramo. “Até o ano que vem, a arbitragem mineira será mais respeitada”, diz Jurandy. B R E I L L E R

©1

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PIRES

Jurandy: é ele quem apita na arbitragem mineira

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“ O Lulinha é meia, mas o Mano Menezes o escala como ponta, para marcar o lateral. Não funciona Wagner Ribeiro, agente de Lulinha

Separados no berço Reinaldo, concorrente de Ronaldo no começo de carreira, hoje toca pagode Ele chegou a deixar Ronaldo, o Fenômeno, no banco da seleção brasileira sub-17 antes que os dois formassem dupla de ataque no time. Quando foram lançados no profissional, aos 16 anos, em 1993, por Atlético e Cruzeiro, respectivamente, seu início foi superior, inclusive com um gol no clássico de estreia. Mais de 15 anos depois, porém, a situação vivida por ambos é bem diferente. O craque corintiano segue mostrando seu talento pelos gramados, a despeito das lesões. Reinaldo Rosa, 32 anos, cansado dos calotes dos últimos times que defendeu, trocou, pelo menos temporariamente, o futebol pelo pagode. O ex-atleticano toca tantã na banda Pagode do Rei, que começa a conquistar seu público na região metropolitana de Belo Horizonte. Bancada por Reinaldo, nada mais justo que a banda tenha sido batizada com o apelido que ele ganhou nos bons tempos como jogador. “O pagode sempre foi uma paixão. A banda começou de uma brincadeira, mas está indo bem”, afirma Reinaldo. O ex-atacante garante que voltará ao futebol. Tem uma chance de jogar no Chipre e mantém a forma numa academia. Contato com a bola? Só quando defende o Vila Nova, de Santa Luzia, num torneio amador. A L E X A N D R E S I M Õ E S

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© 1 F O T O P E D R O S I LV E I R A © 2 F O T O E U G Ê N I O S Á V I O

4/20/09 10:08:03 PM



aquecimento

A vida começa aos 40 A idade tabu, que significava a aposentadoria compulsória de um jogador de futebol, deixou de ser uma barreira. Saiba como os veteranos conseguem se manter na ativa O que Túlio, Viola, Clemer, Adãozinho e Fernando têm em comum? Todos eles chegaram aos 40 anos ainda nos gramados. O fenômeno antes restrito a poucos — a lenda inglesa Stanley Matthews só parou aos 50 anos e o longevo goleiro Manga inspirou até slogan de rádio (“Dura tanto quanto o Manga e é muito mais bonito”) — em breve deve receber Junior Baiano e Macedo, ambos com 39.

k

Mas não basta querer para chegar às quatro décadas em campo. “Todos que tiveram lesões graves não passam nem perto dessa idade”, diz Turíbio Leite de Barros, fisiologista do São Paulo. Para ele, a idade máxima em que um jogador poderia atuar seriam mesmo os 40, mas os atletas com técnica apurada compensam a falta do vigor físico — até o cansaço pesar bem mais nessa balança. “Ele começa a

sentir os efeitos dos muitos anos de prática, como lesões degenerativas nas cartilagens e meniscos nos joelhos, hérnias de disco na coluna lombar”, afirma outro especialista, Wagner Castropill, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e do Comitê Olímpico Brasileiro. A pedido de Placar, ele analisou as etapas de um jogador até chegar à fase em que a vida (de aposentado) começa.

COMO O CORPO DO JOGADOR REAGE...

25

30

ANOS

40

ANOS

ANOS

TECIDOS Começa a haver perda da elasticidade por causa da queda na produção de testosterona

MÚSCULOS Contusões e lesões. Detecção precoce facilita a recuperação

LIGAMENTOS Risco de entorses com lesões ligamentares e/ou meniscais

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TECIDOS O desgaste fica ainda maior

CORAÇÃO Aumentam os riscos de problemas cardíacos

COLUNA Hérnias de disco na coluna lombar

MÚSCULOS A recuperação é mais lenta. A massa muscular começa a diminuir 1% por ano

LIGAMENTOS Aumentam distensões, estiramentos, rupturas e tendinites

MÚSCULOS A perda de massa muscular se torna mais acentuada

LIGAMENTOS Lesões degenerativas na cartilagem e meniscos dos joelhos

© ILUSTRAÇÃO CÁSSIO BITTENCOURT

4/21/09 3:57:29 AM



meutimedossonhos OS 11 MELHORES DE TODOS OS TEMPOS PARA...

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★ GOLEIRO Taffarel “Tive a oportunidade de jogar com ele no Internacional e o vejo como um dos melhores do Brasil”

★ L AT E R A I S Carlos Alberto Torres

“Um dos primeiros

alas que defendiam e atacavam muito bem. Quando foi jogar de zagueiro, também atuou de maneira excelente”

Roberto Costa

Júnior

O ex-goleiro, bicampeão da Bola de Ouro em 1983 e 1984, monta sua equipe com cinco jogadores da seleção de 82

Era destro e jogava como ninguém na lateral esquerda”

“Apoiava, defendia, jogava no meio… Ele foi um

dos laterais que começaram a se infiltrar pelo meio-campo.

★ ZAGUEIROS Oscar “Um capitão. Sabia comandar. Era firme, bom nas bolas aéreas. Sobressaiu na Ponte Preta e mostrou grande futebol em todo lugar por onde passou”

Luizinho “Compunha a zaga da seleção de 82 com o Oscar. De muita técnica, foi um dos atletas mais clássicos que eu vi jogar”

★ VOLANTES Clodoaldo “Já jogava muito bem no Santos e se transformava quando ia para a seleção. Tinha suas limitações, mas desarmava e saía distribuindo o jogo”

Falcão “Tinha técnica apuradíssima. Era muito versátil. Ele atacava e defendia com extrema eficiência e elegância”

★ MEIAS Pelé “O título de rei do futebol o credencia para estar no meu time dos sonhos. Jogador completíssimo”

Zico “Com objetividade e criatividade, transformou o Maracanã no templo do futebol mundial”

★ ATAC A N T E S Romário “Um atacante que possuía uma qualidade ímpar para fazer gols, principalmente quando estava dentro da área”

Só escolhi brasileiros porque aqui estão os melhores talentos. Poucos se comparam aos que temos aqui

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Ronaldo “Finaliza muito bem perto do gol. Tinha explosão e rapidez difíceis de encontrar em jogadores hoje em dia. Ele está no meu time por tudo que passou no futebol”

★ TÉCNICO Telê Santana “É o técnico dessa equipe pelos títulos que conquistou no São Paulo e em todos os lugares por que passou” ©1 FOTO ARQUIVO PESSOAL

4/21/09 2:21:37 AM



miltonneves

Os cinco mais bonitos O concurso aqui não é de beleza exterior. Estamos falando de beleza da alma. E os eleitos são Garrincha, Nilton Santos, Zico, Marcos e... Ronaldo Não, não quero comentar a lista internacional dos mais feios jogadores “eleitos”, que saiu recentemente na Europa e foi encabeçada por um tal Dowie, do Queens Park Rangers, da Inglaterra. Até porque o Amaral Coveiro, o Rosemiro, o ex-lateral Paulinho, do Inter e do Operário de Campo Grande, o Luiz Carlos Beleza, que mora em Cuiabá, e o Acosta foram indecentemente injustiçados pelos arrogantes europeus votantes. E também não estou aqui analisando a beleza propriamente dita de Manicera, Perfumo, Raul, Doval, Kaká, Barbirotto, Bettega, Leivinha ontem e Sérgio Valentim. Essa relação foi escolhida a dedo e lupa pelo analista Mauro Beting, observador de tudo e de todos, ontem e hoje, em seu imbatível best seller “A vida é a vida”. Na verdade, o que importa para mim são os cinco históricos jogadores brasileiros mais bonitos em sua alma, em seu interior, no respeito e no carinho que recebem ou receberam do torcedor. São eles o goleiro Marcos, do Palmeiras, o campeoníssimo do tema Garrincha, o glorioso Nilton Santos, o querido Zico e... Ronaldo! Pelé perde essa e não entra no top 5 porque a torcida do Corinthians, a mais importante de todas, não gosta dele por seculares traumas a ela transmitidos pelo Rei nos anos 50 e 60. Agora, Ronaldo, sim, e como! Ronaldo, esse Bill Gates da grana, Madre Teresa de Calcutá da humildade, Pelé da artilharia das Copas e Edmundo da falsa malandragem! Quanto dinheiro ele merecidamente tem, quanta paciência transmite, quanto gol importante fez e quanto rolo burro ele arruma, hein? 38

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Ronaldo: tudo nele acaba sendo especial

“Ronaldo é esse Bill Gates da grana, Madre Teresa de Calcutá da humildade, Pelé da artilharia das Copas e Edmundo da falsa malandragem!” © F O T O R E N AT O P I Z Z U T T O

4/21/09 2:20:10 AM



TODOS QUEREM

SER RONALDO

VOLTA DO FENÔMENO AO BRASIL INFLUENCIOU ADRIANO E BALANÇA CRAQUES COMO RONALDINHO E ROBINHO POR RICARDO PERRONE, SÉRGIO XAVIER FILHO E BERNARDO ITRI DESIGN K.K.U. L.

I LU ST R AÇÃO ST E FA N

©FOTO ILUSTRAÇÃO RODRIGO MAROJA

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EFEITO

RO NAL D O

oncentrados para enfrentar Equador e Peru, jogadores da seleção conversam sobre a felicidade de Ronaldo por voltar a jogar no Brasil. E debatem: valeria a pena retornar da Europa antes dos 30 anos? Ganhar menos num clube de seu país em troca de curtir a vida ao lado dos amigos de infância e da família? A resposta fica no ar. Mal a seleção se desfaz e Adriano, 27 anos, abandona a poderosa Internazionale de Milão. Para empresários e dirigentes, a deserção do Imperador é o início do “efeito Ronaldo”. Que, segundo eles, também faz Ronaldinho e Robinho balançarem. Ronaldo se encarrega de espalhar que está radiante e provoca uma ponta de inveja nos colegas, aparentemente fartos de seus clubes europeus. “A noite de São Paulo é ótima e estou a 40 minutos de avião do Rio”, diz aos amigos, por telefone. Gente que convive com Adriano assegura que o exemplo de Ronaldo influenciou na decisão. E que se aposentar agora não passa por sua cabeça, apesar de o atacante acenar com essa possibilidade, após passar dias na favela em que foi criado no Rio. O plano é seguir os passos do Presidente (apelido de Ronaldo entre os boleiros) e tocar a carreira no Brasil. Agora pra valer, sem data para voltar à Europa, como na passagem pelo São Paulo. O comentário entre os colegas de seleção é que o atacante está apalavrado com o Flamengo. Lá voltaria a ser amado por uma torcida, como Ronaldo é hoje. Ficaria mais perto dos amigos, que vão até Milão atrás dele. Enquanto isso, membros do estafe de Ronaldinho e Robinho afirmam

C

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Ronaldinho, no Grêmio, onde era o bom menino

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Cartolas e agentes brasileiros se preparam para o retorno de uma nova leva de jogadores. O lateral Roberto Carlos, com o Palmeiras na mira, deve puxar a fila Enquanto dirigentes brasileiros acre-

Arábia ou em outros mercados fora

do momento em que suas atuações

ditam que o “efeito Ronaldo” fará

da Europa, em que há mais dinheiro,

lá fora decepcionam. “Muitos atletas

mais atletas voltarem, empresários

a vê-los no Brasil. Já os atletas se

que voltam ao Brasil o fazem por

da maioria dos veteranos tentam

queixam de saudade de parentes e

não estarem bem em seus clubes”,

segurar seus clientes no exterior.

amigos. O retorno desses jogadores

afirma o empresário Gilmar Veloz,

Eles preferem vê-los jogando na

fica cada vez mais próximo a partir

sobre o regresso dos jogadores.

ROBERTO CARLOS

O RONALDO MOSTROU O CAMINHO. MOSTROU QUE É POSSÍVEL UM GRANDE JOGADOR ATUAR AQUI MURICY RAMALHO, TÉCNICO DO SÃO PAULO

EMERSON

LINCOLN

ÚLTIMO CLUBE REAL MADRID

ÚLTIMO CLUBE REAL MADRID

ÚLTIMO CLUBE SCHALKE 04

CLUBE ATUAL FENERBAHÇE

CLUBE ATUAL MILAN

CLUBE ATUAL GALATASARAY

CONTRATO 12/2010

CONTRATO JULHO/2009

CONTRATO JUNHO/2011

Mesmo com contrato longo, ele

Seu contrato com o Milan está

Foi procurado pelo São Paulo no

quer ainda jogar no Santos. Mas

prestes a terminar e a renovação

ano passado, mas a negociação

empresários dão como certos sua

é muito difícil. Veterano, não tem

não deu certo. Está insatisfeito

volta e seu destino: Palmeiras.

muito mercado na Europa.

no Galatasaray, da Turquia.

©2

DIDA

No Santos, Robinho logo forçou a saída para o Real Madrid

Cartolas do Flamengo afirmam que Adriano não dava trabalho © F O T O 1 E D I S O N VA R A © F O T O 2 A L E X A N D R E B AT T I B U G L I

44

ELES PODEM PINTAR POR AQUI

MINEIRO

ZÉ ROBERTO

ÚLTIMO CLUBE CORINTHIANS

ÚLTIMO CLUBE HERTHA BERLIN

ÚLTIMO CLUBE SANTOS

CLUBE ATUAL MILAN

CLUBE ATUAL CHELSEA

CLUBE ATUAL BAYERN

CONTRATO JUNHO/2010

CONTRATO JUNHO/2009

CONTRATO JUNHO/2009

Reserva até outro dia, tem pou-

Já não havia jogado bem no Her-

Foi disputado a tapas pelos gran-

cas perspectivas de continuar

tha Berlin. A pedido de Felipão,

de de São Paulo e fez o Santos

fora. Sua volta deve causar dor

foi para o Chelsea, pouco jogou

pagar alto para tê-lo. Empresá-

de cabeça em goleiros do Brasil.

e agora está no time B do clube.

rios dizem que ele está voltando.

©FOTOS PIER GIAVELLI

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4/21/09 12:51:20 AM


EFEITO

RO NAL D O

que ambos sonham regressar ao Brasil com a mesma intensidade com que um dia sonharam partir. Mas hoje suas multas contratuais não deixam. “Ouvi de um veterano que voltou ao futebol brasileiro o seguinte: a melhor fase da vida de um homem é dos 25 aos 30 anos. Jogador passa esse período longe da família e dos amigos. O Ronaldo mostrou para o pessoal que dá para voltar mais cedo e aproveitar a vida por aqui”, afirma o empresário Wagner Ribeiro, que trabalhava com Robinho até a transferência do atacante para o Manchester City. “Acho que os jogadores pensam mesmo em voltar mais cedo. Hoje não é difícil ganhar 150000 reais jogando aqui. Tem gente que recebe 300000, isso dá uns 150000 euros. Com a crise, não está fácil fazer um contrato desses na Europa”, diz Júlio Mariz, presidente da Traffic. Ronaldo ganha 400000 reais mensais livres de impostos. E pode chegar a 1,5 milhão por mês com cotas de patrocínio no Corinthians. Adriano fatura 1,75 milhão de reais mensais na Inter. Robinho, que tem mais três anos de contrato, abocanha cerca de 1,4 milhão no Manchester City. O exsantista triplicou os rendimentos que tinha no Real Madrid. Mas está infeliz, como o clube com ele. “O desejo do Robinho é voltar ao Santos, mas agora é meio impossível”, diz Evandro Souza, o “Bad Boy”, funcionário de Robinho, do tipo faz-tudo. “Campeão, estamos bem no Milan. São 30 milhões de euros em jogo”, afirma Assis, irmão e empresário de Ronaldinho, lembrando o valor da multa rescisória. Entre os principais agentes brasileiros, Assis é visto como a única pessoa que impede Ronaldinho de antecipar seu regresso. 46

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ELES NÃO DEVERIAM ESTAR AQUI Crise mundial emperrou a venda de jogadores para o exterior e forçou clubes brasileiros a segurarem seus craques. Ao mesmo tempo, jogadores infelizes lá fora voltaram

Robinho chegou ao Real prometendo ser o melhor do mundo

No Barça, Ronaldinho viveu o auge de sua carreira

A última janela de transferências

e Guilherme, do Cruzeiro. “Além de

A expectativa é que no segundo

para a Europa foi uma das mais fra-

o dinheiro estar curto, tem muito

semestre a situação melhore. “Se o

cas para os clubes brasileiros. Entre

brasileiro fazendo feio lá fora.

Kaká for vendido, o dinheiro acaba

os jogadores da elite, poucos foram

Isso também atrapalhou”, diz

chegando aqui de alguma maneira”,

negociados, como Alex, do Inter,

o empresário Wagner Ribeiro.

afirma o empresário Carlos Leite.

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RONALDO

ADRIANO TEM DEFEITOS QUE MUITAS PESSOAS TÊM. E QUALIDADES QUE POUCAS TÊM GILMAR RINALDI, AGENTE DE ADRIANO

FRED

THIAGO NEVES

ÚLTIMO CLUBE MILAN

ÚLTIMO CLUBE LYON

ÚLTIMO CLUBE HAMBURGO

CLUBE ATUAL CORINTHIANS

CLUBE ATUAL FLUMINENSE

CLUBE ATUAL FLUMINENSE

CONTRATO DEZEMBRO/2009

CONTRATO DEZEMBRO/2013

CONTRATO JULHO/2009

Ficou sem clube na Europa e veio

Vivia de cara amarrada no Lyon.

Não emplacou na Alemanha, onde

se recuperar no Brasil. Acabou

Estava inconformado por não ser

ficou seis meses. Vendido ao

contratado numa jogada de mar-

titular no clube francês. Bateu

Al-Hilal, forçou seu empréstimo

keting e agora inspira colegas.

o pé para ir para o Fluminense.

ao Flu antes de ir para a Arábia.

©3

O Imperador na Inter: depois do sucesso, problemas com álcool

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D'ALESSANDRO

© F O T O 1 G I U L I A N O B E L I L A C Q U A © F O T O 2 A L E X A N D R E B AT T I B U G L I © F O T O 3 P I E R G I AV E L L I

©4

©5

NILMAR

KLEBER

ÚLTIMO CLUBE SAN LORENZO

ÚLTIMO CLUBE CORINTHIANS

ÚLTIMO CLUBE PALMEIRAS

CLUBE ATUAL INTERNACIONAL

CLUBE ATUAL INTERNACIONAL

CLUBE ATUAL CRUZEIRO

CONTRATO AGOSTO/2010

CONTRATO SETEMBRO/2011

CONTRATO DEZEMBRO/2013

O Inter só o trouxe graças ao em-

Sua contusão impediu o Corin-

Descontente na Ucrânia, não

presário Delcir Sonda. Torcedor

thians de vendê-lo. A crise mun-

atraiu mercados mais fortes nem

colorado, ele investiu num atleta

dial dificultou, mas ele deve sair

indo bem no Palmeiras. Foi para

fora do perfil jovem promissor.

na próxima janela europeia.

o Cruzeiro como moeda de troca.

© F O T O 1 R E N AT O P I Z Z U T T O © F O T O 2 P H O T O C A M E R A © F O T O 3 E D U A R D O M O N T E I R O © F O T O 4 E D I S O N VA R A © F O T O 5 E D U A R D O S Á V I O

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4/21/09 12:51:38 AM


PISCINA E BARALHO NA FAVELA A decisão de Adriano de não voltar à Inter surpreendeu os amigos que o recepcionaram na favela da Vila Cruzeiro. “Ninguém entendeu, ficou todo mundo se perguntando o que estava acontecendo. Aí alguns ligaram para o Adriano, que disse que está tudo bem. Mas as pessoAdriano já sentiu o gosto de voltar a atuar no Brasil

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as ainda estão tentando entender”, afirmou o volante Ives, que acabou de ser rebaixado no Campeonato

Carioca com o Mesquita e conhece

LIGUEI E O ADRIANO ME DISSE: “ESTOU BEM, DEU MEU TEMPO LÁ. ELES QUE NÃO QUEREM VER ISSO” CARLOS ALBERTO, JOGADOR DO VASCO

o Imperador de longa data. O amigo assistiu a uma pelada de veteranos com o atacante. Depois foram para a piscina e, mais tarde, encontraram outros moradores numa pracinha. “O Adriano jogou baralho, eu prefiro dominó. Lá,

Robinho não demonstra felicidade na Inglaterra

Ronaldinho no Milan: frequentador do banco

ele anda descalço e sem camisa. Ninguém repara, é normal. Onde mais pode fazer isso?”, diz Ives. Enquanto isso, a torcida italiana se desiludia. “Acho que a relação entre Adriano, a Inter e nós se deteriorou. A solução é o fim do casamento”, diz Gaetano Chiappini, de uma das torcidas mais antigas do time. O treinador José Mourinho também irritou-se com o brasileiro. “O Mourinho estava bravo, mas expliquei a

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situação do Adriano e ele entendeu.

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Aliás, essa história do Adriano

A trajetória de Adriano e Robinho fora dos gramados cada vez mais se assemelha com a de Ronaldo: o gosto pelas noitadas, escândalos e casos de polícia. A situação do Imperador é mais dramática. Não consegue se livrar do álcool e vez por outra tem de negar a pessoas próximas que usa drogas. Para piorar, é vítima de uma série de boatos. De acordo com o mais re48

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cente, ele teria morrido na favela. Ronaldinho gosta da noite, mas consegue aparecer menos nos jornais. As derrapadas fora do campo podem ser perdoadas por torcedores e dirigentes. Desde que eles sejam recompensados com gols e boas atuações. E o Fenômeno ensinou ao trio que no Brasil, diante de adversários menos qualificados, essa missão é bem mais fácil.

não gostar do técnico é mentira”, declara o agente Gilmar Rinaldi. Na Vila Cruzeiro e em Milão, a pergunta sem resposta é: qual o problema de Adriano? A dúvida gera boatos. “Garanto que ele não usa drogas”, diz Rinaldi. Mas há uma certeza: o atacante não se livrou do álcool.

POR FLÁVIA RIBEIRO E

FERNANDA C. MASSAROTTO

© F O T O 1 A L E X A N D R E B AT T I B U G L I © F O T O 2 A F P © F O T O 3 P I E R G I AV E L L I

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★ a evolução do futebol ★ 03 Uma bexiga de porco coberta com couro ou uma composição de fibras sintéticas? Século 19 Chega de inflar bexigas animais: Charles Goodyear (o do pneu) cria a bola de futebol com câmara de borracha. Ela é usada na invenção do basquete, em 1891 Câmara de borracha (A) sob o couro (B)

B

A BOLA POR BRUNO SASSI, L.E. RATTO, RODRIGO MAROJA, SATTU E LUIZ IRIA

1950

1986

2006

Modelos como a Superball, usada na Copa, já têm a válvula no exterior. Em 1951, para facilitar a visualização na TV, surgem as primeiras bolas brancas

A Adidas Azteca é a primeira bola 100% sintética na história das Copas do Mundo. O couro é substituído por uma camada de fibras desenvolvidas em laboratório

Na Adidas +Teamgeist, o “padrão Buckminster” é abandonado e não há mais costuras: os 14 gomos são unidos por meio de um processo de soldagem térmica C

Costura externa para dar acesso à válvula

Válvula externa, entremeada na costura dos gomos

B

O formato clássico da Telstar: um icosaedro truncado

Câmara (A), camada de fibras (B) e espuma de polietileno (C)

A

Linha e agulha para quê? Basta soldar os gomos termicamente

A câmara (A) agora é coberta por uma camada de fibras (B)

1930 Na final da Copa, curiosidade: o primeiro tempo é jogado com uma bola dos argentinos e o segundo, com uma dos uruguaios, que viram o jogo

1970

B

A Adidas passa a fornecer as bolas da Copa. A Telstar, de 1970, consagra o “padrão Buckminster”, de 20 gomos hexagonais e 12 pentagonais

A

A

Pentágonos maiores e mais encaixados nos hexágonos

1994

2009

A inovação da polêmica Adidas Questra, usada na Copa dos EUA, é uma camada de espuma de polietileno que deixa a bola mais veloz e macia

Em uma década, a Nike entra firme na briga dos novos materiais e formatos. A Total 90 Omni tem pentágonos maiores e mais esfericidade

Século 16 A bola mais antiga já encontrada pertencia à rainha Maria I da Escócia. Eram placas de couro costuradas sobre uma bexiga de porco inflada

B

Simples: bexiga de porco (A) envolta em couro (B)

A

Charles Miller (pioneiro do futebol no Brasil)

BALL IS FASHION As constantes inovações já não têm a ver apenas com tecnologia, mas também com o visual

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Guillermo Stábile (artilheiro da Copa de 1930)

Ademir Menezes (artilheiro da Copa de 1950)

Gerd Müller (artilheiro da Copa de 1970)

Gary Lineker (artilheiro da Copa de 1986)

Hristo Stoichkov (artilheiro da Copa de 1994)

Miroslav Klose (artilheiro da Copa de 2006)

Lionel Messi (um dos melhores do mundo hoje)

Na caçapa

Da pátria

Viva a cor

Pessoal

Tribal

Exclusiva

Uso único

A sinuca inspirou a “Bola 8”, da Penalty, cujo nome se refere ao número de gomos que tem

Em tempos de Copa surgem modelos para o torcedor, como o que a Nike fez para o Brasil em 2006

Até em torneio oficial os tons de branco sumiram: foi na Copa Africana de Nações de 2008

O marketing pede produtos com a cara dos ídolos, como esta bola personalizada para Ronaldinho

As cores vivas da África do Sul dão o tom do modelo oficial da Copa das Confederações de 2009

O Paulistão adota modelo com selo para identificar o Corinthians x Palmeiras da volta de Ronaldo

Para cada jogão, uma bola: a da final da Liga dos Campeões foi lançada meses antes da partida

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QUEIJO SUÍÇO CONHEÇA ALGUNS DOS TRUQUES QUE OS PENETRAS USAM PARA ENTRAR NO PRINCIPAIS ESTÁDIOS DE SÃO PAULO

Arquibancada

Arquibancada

Numeradas

NOME NA LISTA Quem conhece funcionários e dirigentes tenta colocar o nome numa lista de pessoas que poderão entrar sem ingresso. Quem não tem nome na lista chega ao portão e telefona para o amigo. Depois de alguns minutos, alguém do clube aparece para liberar a entrada.

S

abe aquela sensação de que o público no estádio é maior que o divulgado pelo placar eletrônico? Você arriscaria dizer o que policiais militares e civis, jornalistas e dirigentes têm a ver com essa história? Placar acompanhou a rotina em portões vulneráveis no Morumbi, no Palestra Itália e no Pacaembu. Ouviu diretores, teve acesso a relatórios e flagrou penetras. O resultado é um roteiro com policiais, cartolas, jornalistas e funcionários de clubes como personagens que contribuem consideravelmente para a evasão de renda.

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JORNALISTA-TORCEDOR

ALGEMA INVISÍVEL

Portão principal

INGRESSO PARA INGLÊS VER

CARTEIRADA

DEU PAU

Em vez de se dirigir ao portão destinado à imprensa, os jornalistas procuram portarias nas quais os funcionários não estão acostumados a lidar com eles. Exigem que o porteiro libere a entrada de seus parentes. Mesmo com credencial de trabalho, há quem vá com a camisa do time de coração.

Relatório feito por conselheiros do Palmeiras registra caso em que políciais passam pelo portão como se estivessem conduzindo torcedores presos. Eles estão cabisbaixos e com as mãos para trás. Mas ninguém consegue ver as algemas. Os torcedores são conduzidos para dentro do estádio.

Do lado de fora, o amigo de um funcionário do clube promete colocar torcedores no estádio sem ingresso, com preços menores ou no mesmo valor de bilheteria quando a venda já acabou. Pequenos grupos são formados e levados até um portão. Rapidamente, o funcionário deixa todos passarem.

O torcedor apresenta ao porteiro uma carteira qualquer, que não serve para liberar a entrada. As preferidas são as que têm o brasão da República. Se não der certo, o torcedor ainda solta a frase: “Sabe com quem está falando?” Já teve gente usando carteira de funcionário de cartório.

O fiscal de uma das catracas fica de costas para os torcedores, impedindo a passagem deles. Simula um defeito no equipamento. A fila aumenta e a torcida se irrita. Sob o pretexto de evitar confusão, ele recolhe os ingressos manualmente, libera a roleta e passa os bilhetes para cambistas.

A prática gera perda de receitas para os clubes e pode provocar superlotação. Acontece um pouco de tudo nas portarias antes dos jogos. Como um torcedor ser liberado para entrar no Palestra Itália por ser padre. Ou um juiz de futsal ganhar passe livre no Morumbi como recompensa por trabalhar em um jogo do São Paulo. Dois dirigentes do São Paulo pedem anonimato ao apontarem a PM como principal responsável pela evasão de renda. E jornalistas que usam credenciais para assistirem a jogos como torcedores em segundo lugar. Contra o Fluminense, no Brasileiro de 2008, o São Paulo, de acordo com um de seus diretores, registrou em

listas nas portarias a entrada de 300 policiais militares ou convidados deles sem comprarem ingresso. O clube iniciou operação para tapar os buracos de seu queijo suíço. Quatro funcionários foram demitidos por facilitarem a entrada de torcedores. Segundo a diretoria, algumas partidas tiveram 20% do público formado por bicões. “Melhoramos, mas há muito a fazer”, diz Adalberto Dellape, diretor de marketing são-paulino. O problema está mesmo longe de ser resolvido. Contra o Palmeiras, pela primeira fase do Campeonato Paulista de 2009, entraram ao menos 60 pessoas sem pagar no Morumbi usando o nome da PM, de acordo com

um fiscal da Federação Paulista de Futebol (FPF). “Ninguém da PM entra sem ingresso. São Paulo, Palmeiras e Corinthians nos mandam entradas como cortesia. Para o jogo do São Paulo contra o Palmeiras foram 50”, afirmou o tenentecoronel Hervando Velozo, comandante do 2º Batalhão de Choque da

PM, que cuida dos estádios. “Tenho todo interesse em apurar isso. Mas os clubes têm que fazer a denúncia. Ouvi falar que existia lista de convidados da PM antes do meu tempo. Agora não”, completou. O São Paulo nega que mande ingressos aos policiais. O Corinthians confirma. “Tratamos a PM como par-

ceira. Não queremos o constrangimento de barrar um PM”, diz Lúcio Blanco, do setor de arrecadação do clube do Parque São Jorge. Quando cede ingressos “oficiais”, o clube deixa de ganhar, mas paga impostos e evista o risco de superlotação. Antes do jogo com o Botafogo, pelo Campeonato Paulista, o Palmeiras fez reunião para declarar guerra aos bicões. Porém, a reportagem viu dezenas de penetras. “Infelizmente, tem diretor que acha que pode colocar amigos de graça. Vamos explicar que isso faz parte do passado. Tem gente com carteira da Federação, e tem o pessoal da PM”, diz Wlademir Pescarmona, diretor administrativo do Palmeiras.

SÃO PAULO F.C. INDICA POLICIAIS MILITARES COMO OS QUE MAIS “INVADEM”. PM NEGA E DIZ GANHAR INGRESSOS DOS CLUBES

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BIC O

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F ESTA

Este é o portão mais vulnerável do Morumbi

MORUMBI, 28 DE MARÇO “DEIXE ENTRAR. É NOSSO INTERESSE. ELE APITOU JOGO DO SÃO PAULO” Faltam 20 minutos para São Paulo x Palmeiras pelo Campeonato Paulista. Um fiscal da Federação Paulista, conhecido como “seu” Guedes, cuida do portão ao lado da entrada principal, por onde passam os ônibus dos times. Ele avisa à recepcionista: “Vão chegar 60 japoneses do Osmar”. Dito e feito. Descem de um ônibus 60 jovens japoneses. São acompanhados por seis brasileiros. Ninguém tem ingresso, mas o grupo é bem recebido. Depois, a diretoria do São Paulo afirmou que deve se tratar de convênio feito pelas categorias de base. Mas que o ideal seria que eles tivessem recebido entradas e passado pelas catracas. Na sequência, no mesmo portão, um grandalhão, com jeito de segurança, dá o recado: “O sargento Gonzaga vai en-

trar por aqui, com duas crianças”. Está quase na hora do clássico. Mas não para de chegar gente. Um PM passa com dois torcedores que vestem a camisa do São Paulo. Atravessam a apertada recepção, e ele pergunta em que lugar do estádio os são-paulinos ficarão para ver o jogo. Chega um PM fardado, com a identificação “soldado Vieira” no uniforme. Orgulhoso, diz: “Oi, seu Guedes. Hoje não vim para assistir jogo, vim para trabalhar”. Mais dois tricolores uniformizados aparecem. “O Eduardo do futsal mandou a gente procurar o tenente Mello [funcionário do clube]”. O fiscal da Federação pede o nome de um deles e confere uma lista. Não está lá. Aí vem o tenente Mello, que confunde o repórter de Placar com um funcionário do São Paulo e solta: “É de interesse nosso, deixa entrar, ele apitou o jogo de futsal do São Paulo”. Um dos torcedores confirma: “É, fui eu que apitei, sou o Roberto Paganini”. No dia 10 de março o árbitro atuou na vitória do Tricolor por 4 x 2 sobre o São José, pelo Troféu Cidade de São Paulo de futsal. Mello entra com os dois e dá um tapinha no peito do repórter, num gesto de cumplicidade. Minutos depois, Mello, um dos responsáveis pela segurança no Morumbi e policial militar aposentado, desconfia que cometeu uma gafe. Aborda o repórter de Placar. “Pensei que você fosse subordinado à nossa diretoria.” Questionado, diz que por lá só entra quem trabalha. Na partida entre São Paulo e Corinthians, pelas semifinais do Paulista, a reportagem flagrou policiais fardados passando pelo mesmo portão com gente sem ingresso.

PALESTRA ITÁLIA, 5 DE ABRIL “PODE DEIXAR ESSE AÍ ENTRAR, NEM PRECISA ANOTAR O NOME DELE. ELE É PADRE” Faltam 55 minutos para começar Palmeiras x Botafogo, pelo Campeonato Paulista. Dois homens se aproximam do fiscal da Federação Paulista que controla o portão por onde entram os times. Parece que vão perguntar algo, mas percebem que o representante da Federação está concentrado na retirada de uma placa com o escudo do Palmeiras. Aproveitam e entram. O portão fica perto do vestiário e do acesso às arquibancadas. É a portaria mais vulnerável do Palestra Itália. Agora a placa já foi retirada. Dois fiscais da FPF estão por lá, junto com seguranças do Palmeiras. Um casal chega, cumprimenta a todos e entra. Em seguida, seis homens passam. Nem deixam os nomes numa lista que os fiscais carregam. Jean Patrick, diretor do clube, orienta os seguranças: “Mesmo quando a pessoa estiver autorizada, demorem um pouco. Senão, quem está por perto acha que é fácil e tenta”. Em se-

guida, um torcedor e uma torcedora ra pedem passagem. São 10 minutos até té a liberação. O fiscal tenta anotar os nomes, mas ouve de um homem chamado Valdeci: “Não precisa, deixe entrar. Ele é padre”. E lá se vai o padre para a arquibancada, vestindo a camisa do Palmeiras com o nome de Jorge Preá nas costas. Pronunciar o nome de Valdeci é como proferir uma palavra mágica que abre o portão. “O Valdeci liberou”, diz um torcedor, acompanhado de dois amigos. Deixam os nomes na lista e estão dentro. Um segurança do clube sai apressado pelo portão. Volta com o volante Pierre, que não vai jogar, e dois amigos. Eles passam, mas são barrados no vestiário. Pierre os deixou para trás. Questionado pela reportagem, Jean Patrick diz que entram somente as pessoas que estão trabalhando, mas ressalta que não está autorizado a falar pelo Palmeiras.

Bilhete vendido por cambista

CAMBISTA OFICIAL INGRESSO DADO PARA CARTOLAS E ATLETAS ACABA REVENDIDO Os clubes costumam dar ingressos para jogadores, membros da comissão técnica e funcionários de seus departamentos de futebol distribuírem a amigos e parentes. A prática, às vezes, facilita a ação de cambistas. No jogo do Corinthians contra o Santos, pela primeira fase do Campeonato Paulista, ao menos um desses bilhetes acabou com um cambista. Um torcedor corintiano comprou o tíquete e depois da partida o entregou à reportagem de Placar. No verso do bilhete, no local reservado para o nome do cliente, está escrito: “Diretoria do Corinthians”.

PACAEMBU, 31 DE MARÇO

Segundo Lúcio Blanco, do setor de

DELEGADO ENTRA EM JOGO DO CORINTHIANS EXIBINDO IDENTIFICAÇÃO. CARTEIRINHA DE DIRIGENTE DO CLUBE SERVE COMO INGRESSO

significa que o ingresso faz parte

Faltam 25 minutos para Corinthians x Ituano pelo Campeonato Paulista. Um homem de terno chega ao portão por onde entram jornalistas. Pega uma credencial e diz: “Delegado”. É o suficiente para entrar. Ele não explica se está a trabalho. Segundo a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação não há lei que permita a entrada gratuita de policiais no estádio da prefeitura. O decreto municipal 25202, 56

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arrecadação do Corinthians, isso

de 1987, reserva 54 lugares no Pacaembu para a Secretaria. São ainda 64 para a Federação Paulista de Futebol e 54 para membros dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Depois do policial, chegam seis conselheiros corintianos, alguns da oposição. A maioria apresenta um convite de papel, e um deles mostra a carteirinha do Conselho Deliberativo. Ninguém é barrado, apesar de a diretoria alegar

que precisariam de ingressos. Outro torcedor exibe carteirinha com o escudo do time e diz: “Diretoria”. Também passa facilmente. Uma mulher põe a cara no portão e chama o repórter de Placar: “É você que está esperando ingresso?” Diante da negativa, fica parada com o bilhete na mão. Enquanto isso cambistas gritam: “Ingresso sobrando eu compro”. E há bilhetes nos guichês.

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do lote destinado pelos dirigentes aos componentes do time. Nos casos de compra feita na bilheteria, aparece o nome do torcedor. “Às vezes, o jogador se sensibiliza com alguém que está no portão Este é o portão mais problemático do Palestra Itália. É o mesmo por onde entram as equipes

e dá o ingresso. Aí o cara joga na mão do cambista”, diz Blanco. Ele afirmou que poderia identificar quem no clube recebeu o bilhete, mas não respondeu à reportagem depois de receber os dados do ingresso.

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PODE UM GOLEIRO QUE SOFREU UM GOL HUMILHANTE EM UM CLÁSSICO RECUPERAR O PRESTÍGIO JUNTO À TORCIDA? O CRUZEIRENSE FÁBIO PROVOU QUE SIM, FAZENDO DO PIOR MOMENTO DE SUA CARREIRA O COMBUSTÍVEL PARA DAR A VOLTA POR CIMA P O R ALEXANDRE SIMÕES E JONAS OLIVEIRA D E S I G N L . E . R AT T O F O T O S E U G Ê N IO SÁV IO

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FÁ BIO

imagem rodou o mundo: o goleiro caminha cabisbaixo em direção ao gol, de costas para o círculo central, quando o atacante do time adversário rouba a bola, ganha a dividida do zagueiro e chuta para o gol vazio. O gol, o quarto da vitória por 4 x 0 do Atlético sobre o Cruzeiro no primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro de 2007, teve efeito devastador no clube. Jogadores dispensados, pedido de demissão do treinador, protestos da torcida. Grande protagonista do lance, o goleiro Fábio, que já era tido como irregular por parte da torcida do Cruzeiro, conquistou a unanimidade, mas pelo lado negativo. Além de aturar as piadas dos rivais — que foram desde o apelido “Fábio de Costas” à imagem de um suposto novo uniforme, com um espelho retrovisor —, o goleiro teve de ser afastado devido a uma séria contusão, sofrida em um lance do mesmo jogo. Era a senha para o término de seu ciclo no clube. O que poderia ter sido o fim se tornou o começo de tudo para Fábio. De improvável, seu retorno se transformou em uma surpreendente volta por cima. De renegado, Fábio passou a capitão e ídolo da torcida (apesar de ainda dividir opiniões). Até o fechamento desta edição, Fábio já havia

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Acima, o momento em que Fábio busca as duas bolas, após o “gol de costas”. Desde então, ele e o Cruzeiro somam uma invencibilidade de dez jogos contra o rival, que seria posta à prova nas finais do Mineiro

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atingido a marca de 259 jogos pelo clube, e estava prestes a tomar de Paulo César Borges (263 partidas) o posto de quarto goleiro que mais atuou com a camisa do clube. Ainda que sua média de gols sofridos após o fatídico episódio do gol de costas não tenha se alterado de forma muito significativa — caiu de 1,16 para 1,13 gols por partida —, a percepção de seu desempenho melhorou de forma considerável. O Fábio que antes cometia falhas tão espetaculares quanto algumas de suas defesas deu lugar a um goleiro mais regular. Tanto que, no ano passado, ficou atrás apenas de

FÁBIO É UM ÓTIMO PROFISSIONAL. ERROS ACONTECEM E, NO TRABALHO, SEI QUEM É QUEM Paulo Autuori, ex-técnico do Cruzeiro

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Rogério Ceni, do São Paulo, e Victor, do Grêmio, entre os goleiros na Bola de Prata de Placar — foi o quinto melhor jogador do Brasileirão. Era de esperar que Fábio quisesse esquecer a todo custo o lance do gol sofrido quando estava de costas. Mas o jogador usou o fato como combustível para sua volta por cima. “Foi um dos momentos mais difíceis da minha carreira. Mas para mim tudo começou ali. Foi onde encontrei o verdadeiro caminho, que leva a Jesus Cristo, e comecei a segui-lo. Hoje, agradeço a Deus por ter sido na dor”, diz o goleiro, que já era evangélico, mas só se tornou praticante de fato após o episódio. “Passei a encarar a vida de outra maneira. Eu achava que era o melhor, que não precisava fazer esforço por ter uma qualidade acima da média. Achava que ia pegar qualquer bola e justamente as bolas fáceis se tornavam as mais difíceis, e assim aconteciam os erros”, afirma o jogador. Fábio afirma ter pedido para sair do clube, mas foi convencido pelo dire© 1 F O T O E U G Ê N I O S Á V I O © 2 F O T O A N D R É P O S S AT I / O T E M P O

“Ti h

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tor de futebol Eduardo Maluf e o então presidente Alvimar de Oliveira Costa a permanecer. “Eles disseram que eu era o menos culpado pela derrota. O Paulo Autuori [então treinador do Cruzeiro] também foi muito importante naquele momento. Ele me disse que sabia que eu tinha feito o

máximo para ajudar o Cruzeiro”, diz. Paulo Autuori também defende o jogador. “Fábio é um ótimo profissional, uma boa pessoa e um cara de perfil vitorioso. Aquele foi um lance incomum. Fui conversar na ocasião com Fábio, sim. Fiz isso porque essa é minha maneira de viver, não apenas de trabalhar. Vivo sempre entendendo que erros acontecem e, no trabalho, sei quem é quem”, diz Autuori, atualmente no Al-Rayyan, do Qatar. Quem assumiu o Cruzeiro logo após as finais do Mineiro foi Dorival Júnior, que hoje dirige o Vasco. “Já conhecia o Fábio e sabia o que ele representava para a equipe. Por isso, logo que cheguei ao Cruzeiro disse que era para ter tranquilidade, pois, assim que estivesse recuperado da contusão, voltaria a ser o titular”, diz o treinador, que não poupa elogios a Fábio. “Qualquer treinador gostaria de contar com um atleta como o Fábio no seu grupo. Ele é uma liderança muito positiva, um jogador equilibrado. Na recuperação daquele grupo do Cru-

zeiro, no Brasileiro de 2007, ele foi fundamental”, diz Dorival.

CONTUSÃO Não bastassem a goleada e o caráter inusitado do quarto gol, Fábio ainda sofreu uma grave lesão. No segundo gol, após levar um chapéu do atacante Danilinho, Fábio chocou seu joelho esquerdo contra a trave e rompeu o ligamento cruzado posterior. “Na hora senti que tinha machucado, mas estava com o corpo quente ainda e minha musculatura é muito forte. Estava jogando porque não tinha mais como entrar um jogador. Ia ficar pior ainda se alguém da linha fosse para o gol. Falei que ia para o sacrifício”, diz Fábio. Na época, a contusão do goleiro chegou a levantar suspeitas, pelo fato de ele ter continuado em campo após a contusão (o lance ocorreu aos 37 minutos do segundo tempo). “O ligamento que o Fábio lesou é menos exigido nos movimentos executados por um goleiro, pois ele é mais forçado no giro e o goleiro trabalha k

ACIMA DA MÉDIA ENTRE OS MAIORES GOLEIROS DA HISTÓRIA DO CRUZEIRO, APENAS ANDRÉ TEM PIOR MÉDIA DE GOLS SOFRIDOS QUE FÁBIO

Paulo César Borges 1989 a 1993 e 1998 263 J 189 G

Raul Plasmann 1966 a 1978 549 J 434 G

Dida 1994 a 1998 303 J 301 G

Gomes 2002 a 2004 110 J 110 G

Fábio* 2000 e desde 2005 259 J 298 G

André 1999 a 2003 123 J 147 G

0,71

0,79

0,99

1,00

1,15

1,19

Tem a menor média de gols sofridos. Foi o goleiro dos títulos da Supercopa em 1991 e 1992 e Copa do Brasil de 1993.

Maior goleiro da história do clube, conquistou 11 títulos — entre eles a Taça Brasil de 1966 e a Libertadores de 1976.

Último grande ídolo a vestir a camisa 1. Foi fundamental nas conquistas da Copa do Brasil em 1996 e da Libertadores de 1997.

Chegou à seleção, mas também não era unanimidade. Foi o goleiro do título brasileiro e da Copa do Brasil em 2003.

Como titular, venceu apenas dois Campeonatos Mineiros. A torcida o acusa de falhar nos momentos decisivos.

Sofreu várias lesões que o impediram de ter uma sequência no clube. Foi o goleiro do título da Copa do Brasil de 2000.

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FÁ BIO

k mais com movimentos laterais, para a frente e para trás e saltos. Além disso, a força muscular dele ajudou na sua permanência em campo até o fim da partida”, afirma o médico do Cruzeiro, Sérgio Freire Júnior. Caso semelhante aconteceu com o goleiro André, que sofreu rompimento do ligamento cruzado com lesão do menisco no joelho esquerdo. Foi num lance com Fábio Aurélio, aos 27 minutos do segundo tempo, em 16 de agosto de 2000, num empate por 2 x 2 entre Cruzeiro e São Paulo, no Mineirão, pela Copa João Havelange. No mesmo dia seu reserva, Rodrigo Posso, sofreu uma lesão muscular no aquecimento. “Na hora senti o estalo no joelho, mas não deu para parar porque o lance estava correndo. A dor era grande, mas deu para controlar e continuar em campo”, afirmou André na época. No dia seguinte à contusão, André foi convocado para a seleção brasileira por Vanderlei Luxemburgo, para uma partida contra a Bolívia, pelas Eliminatórias. Acabou cortado e Velloso foi chamado em seu lugar. Enquanto Fábio se recuperava da lesão, o goleiro Lauro (hoje no Internacional) assumiu o gol do Cruzeiro:

em cinco partidas, sofreu dez gols. Em seguida, o próprio Lauro se contundiu e deu lugar ao jovem Gatti, que sofreu 12 gols em seis jogos — embora tenha se notabilizado por defender um pênalti em um clássico contra o Atlético, vencido por 4 x 2 pelo Cruzeiro. A torcida, que aguardava a contratação de um novo goleiro, surpreendeu-se com o retorno de Fábio, antes do tempo esperado. O Cruzeiro optou por um tratamento não-cirúrgico, que no geral exigiria quatro a seis meses de recuperação. No entanto, o goleiro voltou a campo dois meses e meio depois da contusão. “Voltei sem fazer esforço nenhum. A torcida, que tinha pedido minha saída, estava pedindo minha volta ao gol do Cruzeiro”, diz Fábio. Para Sérgio Freire Júnior, o sucesso da recuperação se deveu à dedicação do atleta. Para Fábio, tratou-se de um milagre. “Fiz uma oração diante da TV. Estava assistindo a um programa do pastor R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, de São Paulo, e depois daquele momento tive a certeza de que iria voltar e bem. Cheguei a sentir o joelho queimar durante a oração”, afirma o goleiro.

Em sua primeira passagem pelo Cruzeiro, em 2000, Fábio não foi aproveitado e acabou emprestado ao Vasco. Lá, foi convocado pela primeira vez para a seleção

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SELEÇÃO A última convocação de Fábio para a seleção foi em setembro de 2006, para os amistosos contra Argentina e País de Gales. Ao todo, o goleiro tem 16 convocações para o time brasileiro, embora não tenha atuado um minuto sequer. “Sou o único goleiro que foi convocado e não teve a oportunidade de jogar. Outros que passaram, como Gomes, Júlio César, Doni, Renan, Hélton, todos tiveram oportunidade. Na seleção é fundamental poder ser analisado, e isso só aconteceu comigo em treinos”, diz. De lá para cá, Fábio perdeu o espaço para outros goleiros, como Doni, da

GOLEIRO DE DEUS Um dos grandes mentores de Fábio é, quem diria, um dos maiores ídolos da história do Atlético. “O João Leite foi um precursor, que começou com os Atletas de Cristo. Ele conta a dificuldade que era, que havia muito preconceito, mas com fé e perseverança Deus o colocou num lugar de destaque e ele segue carregando isso até hoje”, diz Fábio, que espera tomar emprestado de João Leite o título de “Goleiro de Deus”. “Espero que não só eu, mas outros goleiros também.” Também evangélico, João Leite ganhou a alcunha por ter o hábito de entregar Bíblias aos adversários antes das partidas. João Leite retribui a admiração de Fábio. “Estive com Fábio algumas vezes nos encontros dos Atletas de Cristo e ele e a esposa são líderes junto aos outros jogadores. O Fábio é um excelente goleiro”, afirma o ex-goleiro. 62

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ACHAVA QUE IA PEGAR QUALQUER BOLA E JUSTO AS FÁCEIS SE TORNAVAM AS MAIS DIFÍCEIS ” Roma, e Renan, do Valencia, que defendeu a seleção na Olimpíada. Ainda assim, com 28 anos, Fábio acredita merecer a terceira vaga para a Copa de 2010. “O Fábio Costa já é mais velho [31 anos]. Felipe e Fernando Henrique se destacam, mas são muito novos [ambos têm 25]. Acho que fica mais entre o Hélton e o Gomes. O importante é analisar quem está bem, independentemente de em qual país joga”, diz Fábio. Dorival Júnior endossa a candidatura de Fábio. “Vejo o Fábio tecnicamente como um dos melhores goleiros do Brasil, incluindo os que atuam fora do país. Ele tem totais condições de brigar por uma vaga na seleção e, se ele mantiver a regularidade e a sequência que vem tendo, com cer©1 FOTO EDUARDO MONTEIRO

teza será convocado”, afirma. No início do ano, Fábio renovou o contrato com o Cruzeiro até dezembro de 2011. Seu salário, em torno de 120 000 reais, seria o segundo maior do clube, menor apenas que o de Kléber, estimado em 150 000. “Tive a chance de ir para o Osasuna, da Espanha, logo depois que voltei da lesão. Este ano, o Cruzeiro fez o máximo que podia para me segurar. Em termos financeiros, o que tenho aqui é o que ia ganhar lá fora”, diz o goleiro, que pretende jogar por mais 12 anos. “Tenho a oportunidade de tirar o passaporte italiano, isso vai ajudar muito. Este ano tive proposta de um clube da Escócia, de um clube menor da Inglaterra, que seria uma ponte para um clube maior, depois que tirasse o passaporte. Estava sendo tratado pelo Kia [Joorabchian, ex-presidente da MSI] desde o ano passado. Mais recentemente, recebi proposta de um clube russo”, diz Fábio. A meta de ser o terceiro goleiro em 2010 parece distante, mesmo com as boas atuações de Fábio. Para quem esteve nas primeiras convocações de Dunga, ficar fora do Mundial da África do Sul pode parecer um sinal de fracasso. Mas, partindo do pressuposto de que seria reserva, ir à Copa não o faria dar o grande salto que falta em sua carreira: vencer um grande título como titular — conquistou uma Copa do Brasil pelo Cruzeiro, um Campeonato Brasileiro pelo Vasco e uma Copa América pela seleção, todos como reserva. Fábio precisa contar de novo com seus milagres, e com a ajuda de seus companheiros, para conquistar a Libertadores e entrar de vez na galeria dos grandes goleiros do Cruzeiro. E poder olhar para trás, desta vez para enxergar sua bela volta por cima. ✪

ATAQUE E DEFESA Na comunidade do Cruzeiro no site de relacionamentos Orkut, os temas mais populares costumam render até 300 comentários. O tópico recordista, criado em novembro de 2007, se chama “Fábio...... O PEGA NADA...”, e já tem mais de 38 600 mensagens. “Pelas manifestações, acho que pelo menos 30% dos cruzeirenses não gostam dele”, diz Paulo Couto Lessa, 36 anos, criador da comunidade. Em contrapartida, Fábio tem um fã-clube com 150 associados. “Quando ele sofreu o gol de costas, chegaram a mandar mensagens xingando ele e a gente. Mas não nos intimidamos”, diz Bárbara Olimpia, de 15 anos, que preside o fã-clube.

Fábio: malhado no Orkut, amado pelo fã-clube

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INFÂNCIA MISERÁVEL, FALTA DE COMIDA, DESNUTRIÇÃO... QUEM VÊ O BRIGADOR TAISON VOANDO NO INTER NÃO TEM IDEIA DO QUE ELE PASSOU. ATÉ ONDE ESSE RAPAZ OBSTINADO E EVIDENTEMENTE FOMINHA PODE CHEGAR? POR LEANDRO BEHS

DESIGN K.K.U. L.

FOTOS EDISON VARA

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O

LUTAD O R

izer que a maioria dos jogadores surgidos no Brasil saiu da base da pirâmide social é lugar-comum. Geralmente os que vencem vieram de famílias pobres, com poucos recursos, e passaram por uma infância de dificuldades. O novo ídolo do Inter, porém, vivenciou o lado mais doloroso da miséria: a fome. Nas noites de frio em Pelotas, para ter o que comer em casa, Taison precisava entrar na fila do “sopão do pobre”, na porta lateral da Igreja Cabeluda (como é conhecida a Catedral Anglicana de Pelotas, que recebeu o apelido depois que uma trepadeira cobriu o prédio de folhas e galhos). Panelinha na mão, geralmente vestia um abrigo e um par de chinelos. Horas antes de se juntar a muitos outros necessitados, ele já havia passado a tarde nas ruas do bairro Fragata, trabalhando como flanelinha, cuidando de carros por alguns trocados. Ganhava de 7 a 8 reais por dia. Dava 5 para auxiliar a mãe, Rosângela Barcellos

Freda, a manter os 11 filhos. “Guardava 2 reais para jogar fliperama”, afirma Taison, que tinha então 10 anos, lembrando alguns dos poucos momentos de alegria de sua infância. Com um time de futebol para cuidar e separada do pai de seus filhos, dona Rosângela diz que teve um presságio na hora em que foi registrar o oitavo filho. Se os demais se chamavam Tatiana, Felipe, Fabiana, Leandro e Márcio (gêmeos), Diego, Jaqueline — e, depois de Taison, ainda vieram Yasmin, Camila e Humberto —, por que dar um nome americanizado, de um boxeador famoso, à criança? “Acho que tive um ‘cutuque’. Ele nasceu ‘pequeninho’ demais, precisaria ser forte para vencer na vida. Gostava de ver o Mike Tyson lutar na TV. Era forte, como sempre sonhei para meus meninos. Só que o meu Taison se escreve diferente, né? Registraram assim no cartório. Mas o som do nome é o mesmo”, diz a mãe coruja. Aos 15 anos, mesmo menorzinho que os demais guris de sua idade, Taison ganhou de presente de uma vizi-

nha de Navegantes 2 (uma vila popular que ficou grande demais e ganhou status de bairro) a inscrição nas escolinhas do Brasil de Pelotas. Ficou pouco tempo lá; afinal, era preciso pagar para frequentar o clube. A vizinha não teve condições de continuar quitando as mensalidades, e os Barcellos Freda tinham outras prioridades naquele momento. Taison saiu, mas seguiu batendo bola em times de várzea. Até que um dia foi visto pelo presidente do Progresso — equipe amadora da cidade, que revelou o volante Émerson, do Milan, e Daniel Carvalho, do CSKA, entre outros —, Alcione Dornelles. Encantado com os dribles em velocidade do meia-atacante magricelo e de pernas fininhas, ele foi até dona Rosângela. Queria levar o menino para o Progresso. Descobriu que Taison tinha anemia e dificuldades alimentares. “Ele foi para o Progresso. Passou por um tratamento com sulfato ferroso para recuperar a saúde e começou a fazer as refeições no clube. Em três meses, virou outra pessoa”, afirma Dornelles.

A TRANSFORMAÇÃO Em 2008, Taison foi promovido aos profissionais e entregue ao coordenador de preparação física do Inter, Élio Carravetta. Precisava aumentar a massa muscular. Ganhou 5 kg. Passou para 69,5 kg, com 49,5% de massa muscular. Uma conquista à base de treinamento e carboidratos. Ganhou em explosão muscular, força, arranque, agilidade e velocidade. “Modificamos a estrutura genética do Taison e a adaptamos para o futebol”, resume Carravetta. Hoje, Taison é um dos jogadores mais velozes do Brasil. Ele e Nilmar correm a cerca de 30 km/h, conforme os fisicultores colorados. Taison é mais rápido em linha reta, Nilmar tem maior agilidade para se livrar de adversários. Problemão para as defesas inimigas. 68

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Comemorando um título, como um boxeador: ainda faltam músculos

Como passar de promessa a principal jogador do time?

Contra o Novo Hamburgo, pelo Gauchão: o melhor do campeonato

Para Taison não foi fácil. Não fosse um desafio proposto pelo dirigente Fernando Carvalho, talvez a história fosse diferente. Incomodado com a falta de apetite pela artilharia, Carvalho propôs uma aposta. Caso Taison marcasse 20 gols até a metade do ano, teria 100% de aumento; passaria de 15000 para 30 000 reais mensais. Até a fim do Gauchão, o atacante já havia marcado 17...

Mas não foi só por dinheiro

ELE PRECISAVA SER FORTE PARA VENCER NA VIDA. POR ISSO O NOME: TAISON

D O N A R O S Â N G E L A , m ã e d e Ta i s o n e f ã d o o u t r o , o b o x e a d o r

que Taison passou a marcar gols. Após a transformação física, ele foi treinado para destruir goleiros. Desde outubro de 2008, o auxiliar-técnico Cléber Xavier vem trabalhando finalizações com o guri. Neste ano, ele trabalha escanteios,

A cada jogo do Progresso, Taison começava a se destacar. Aos poucos, foi se tornando o dono do time. Em 2004, então com 16 anos, o atacante foi levado por Dornelles ao Beira-Rio para um teste. Acabou reprovado. Disseram que ele era muito mirrado, não tinha corpo para aguentar as pancadas dos zagueiros. Naquele mesmo ano, Progresso e Inter se encontraram na semifinal do Estadual Juvenil. Jogando em Pelotas, Taison foi o destaque da vitória do Progresso sobre os colorados. No jogo de volta, em Porto Alegre, o Inter acabou eliminando o adversário. E Taison nem voltou para casa. Ficou morando na concentração do Beira-Rio, com Alexandre Pato, que o considera seu “sucessor”. F O T O R E N AT O P I Z Z U T T O

Sempre antes de entrar em campo, Taison cumpre um ritual. Telefona para a mãe e pede a bênção. Só assim joga tranquilo. Apesar dos 21 anos, ainda tem uma ligação umbilical com dona Rosângela. Foi ela quem conseguiu criar os filhos com dignidade, longe das drogas, algo comum entre a garotada da Navegantes 2. Talvez por esse apego à mãe ele tenha custado a estourar no Inter. Após dois anos de clube, Taison voltou para Pelotas e não apareceu mais no Beira-Rio. Era o fim da temporada 2006, e ele surgia como o grande trunfo do Inter... “Ele havia sido eleito o melhor jogador em um torneio na Holanda. Havia europeus de olho, estávamos investindo pesado nele, realizando k

faltas e pênaltis. “Taison é do nível de Nilmar, de Keirrison, mas vai atingir o auge lá por 2010, 2011”, afirma Xavier. ©1

Carvalho: apostando em seu menino

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Contratado pelo Inter em julho, D’Alessandro chegou a Porto Alegre como o grande nome do futebol gaúcho. No vestiário, encontrou o conterrâneo Guiñazu, o primeiro a dar-lhe as boas-vindas. Aos poucos, porém, percebeu que um guri curioso se aproximava. Era Taison. Dos primeiros dias de convivência nasceu uma grande amizade. Taison ensinou os primeiros palavrões a D’Alessandro, que em troca abriu sua casa para o guri. Taison passou a conviver com a esposa do meia, Erika, e os Com Nilmar: a dupla mais rápida do futebol brasileiro

filhos, Martina e Santín. Taison ensinou D’Alessandro a gostar de pagode. “Taison é um menino de ouro. Teve uma infância sofrida, certamente muito

k um trabalho de reforço muscular. Mas ele foi para casa, sentia muita falta da mãe e sabia que precisava trabalhar para ajudar a família”, diz Jorge Macedo, diretor da base do Inter. “Só conseguimos convencê-lo a voltar quando dissemos a ele que a melhor forma de ajudar em casa seria se tornando profissional.” Assim que começou a ganhar melhor, logo nos primeiros meses de profissional, Taison comprou um apartamento de dois quartos próximo ao Beira-Rio e trouxe dona Rosângela para a capital — junto com o irmão caçula, Humberto. Adquiriu também um Ford Fiesta, mas ainda não tem carteira para dirigir. “Sempre ouço a mãe. Ela costuma dizer para eu jamais esquecer de onde saí. Nunca vou mascarar”, assegura ele, garantindo que, se um dia for para a Europa, dona Rosângela embarcará junto. 70

Por enquanto, o Inter pode curtir o ídolo à vontade. Ele é o jogador do ano do Colorado. Por conta dele, o clube abriu mão de Alex, principal atleta da equipe em 2008. “Ele amadureceu muito rápido”, elogia o técnico Tite. O dirigente Fernando Carvalho acredita que Taison será a grande revelação do ano no Brasil. Nilmar até pode ser vendido na abertura da janela européia. Taison, não. A multa contratual é de 40 milhões de euros — os direitos federativos do jogador pertencem 80% ao Inter e 20% a Alcione Dornelles, seu descobridor. Nos próximos dias, Taison terá personalizada a camisa 7 — assim como D’Alessandro é o 10, e Guiñazu, o 5. Com a autoridade de capitão do time, Guiña vai além. “Não quero me meter com a seleção de vocês, mas, em breve, Taison estará pedindo passagem no time de Dunga.” Alguém duvida?

mais dramática que a de qualquer um de nós. Hoje é ídolo do Inter, algo difícil para qualquer um”, diz D’Alessandro. “Eu me inspiro muito nele. Quero ter uma carreira tão bonita quanto a do Dale”, devolve Taison.

D’Alessandro: fã incondicional de Taison

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FERA ACUADA

COM UM CURRÍCULO CHEIO DE ENCRENCAS E DEFESAS EM JOGOS DECISIVOS, FÁBIO COSTA ENFRENTA RESISTÊNCIA NA VILA BELMIRO. E, ADIVINHE, NÃO ESTÁ NEM AÍ POR THIAGO BASTOS DESIGN K.K.U. L. FOTO MAURÍCIO DE SOUZA

oze de fevereiro de 2009, Estádio Bento de Abreu. No intervalo do jogo contra o Marília, Fábio Costa chega ao vestiário e se desentende com o zagueiro Fabiano Eller. Eles são apartados, após discussão que descambou para a agressão. O goleiro tenta usar uma tesoura como arma. Jogadores e seguranças têm de intervir, enquanto o técnico Márcio Fernandes acompanha a cena, perplexo.

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O episódio é só mais um na extensa lista de confusões que envolvem Fábio Costa, desde que chegou à Vila Belmiro em 2000. De lá para cá, foram mais de 330 partidas com a camisa do Santos, alternando defesas espetaculares, falhas grosseiras e explosões de fúria. Chamado pelos fãs de “Fera” ou “Muralha”, o goleiro convive também com duras críticas de quem reclama de seu temperamento e o acusa de estar sempre acima do peso. “Não me considero polêmico. Defendo minhas ideias.

As pessoas estão acostumadas com jogadores que dizem ‘sim senhor’ pra tudo”, afirma ele. Após a briga com Eller, conselheiros do clube pediram a cabeça do camisa 1 ao presidente do Santos, Marcelo Teixeira. Fábio reagiu como uma fera arredia. “Recomendaria ao clube buscar um outro goleiro, desde que esteja disposto a trazer alguém que não vai entrar em campo. Porque quem vai jogar sou eu. Sempre foi assim”, afirma o goleiro de 31 anos. k

Antes mesmo de chegar ao Santos, o goleiro já revelava seu destempero. No Brasileirão de 1999, num jogo entre Vitória e Atlético-MG, deu golpes

k © ILUSTRAÇÃO SOBRE FOTOS DE AFP/IMAGEFORUM/MAURICIO LIMA E DIVULGAÇÃO NIKE

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FÁ BIO

CO STA

©1

©2

©3 ©3 Acima, o início de sua carreira, no Vitória, onde arrumou uma briga memorável em um jogo contra o Atlético-MG. Pela seleção brasileira, fez parte do grupo que conquistou o torneio PréOlímpico, em 2000. Ao lado, sua passagem pelo Corinthians — onde protagonizou lance polêmico com Tinga, no Brasileirão de 2005 — antes de retornar ao Santos

Antes mesmo de chegar ao Santos, o goleiro já revelava seu destempero. No Brasileirão de 1999, num jogo entre Vitória e Atlético-MG, deu golpes de capoeira em Lincoln e Gallo, armando uma briga generalizada no Estádio Independência, em Belo Horizonte. Apostando em seu talento, o Santos deu de ombros e trouxe no ano seguinte o goleiro tão promissor quanto problemático. Na Vila, Fábio Costa goza de muito prestígio com o presidente, que o considera um filho. Seu retorno ao clube, em 2006, após duas tempora-

k

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das no Parque São Jorge, aconteceu pelo fato de o dirigente nunca ter engolido a saída de seu protegido. Mesmo no Corinthians, o goleiro recebia ligações do cartola todas as semanas. “Logo que assumi, em 2000, fomos buscar o Fábio no Vitória. No Santos, ele tem uma trajetória vitoriosa, sendo injustiçado em convocações para a seleção, pois está entre os melhores do mundo”, diz Teixeira. No ano seguinte à conquista do Brasileiro de 2002, Fábio estava no auge da carreira. Pelas oitavas-de-final da Libertadores, pegou três pênal-

tis contra o Nacional de Montevidéu, na Vila Belmiro. Por que não foi convocado? A explicação está no lado negativo da Fera. No fim de 2001, o Peixe trouxe Carlos Alberto Parreira. O descontrole do goleiro contribuiu para encurtar a permanência do treinador na Vila Belmiro, e provavelmente fechou suas portas na seleção — mesmo antes de reassumir o comando do time nacional, Parreira tinha trânsito na CBF. Durante um período de treinamentos no interior de São Paulo, o massagista Ari Jarrão lançou um copo de água para o golei-

© F O T O 1 F E R N A N D O V I VA S © F O T O 2 J A D E R D A R O C H A © F O T O 3 R E N AT O P I Z Z U T T O

ro. O copo explodiu no peito da Fera. Foi o suficiente para Fábio agredir o funcionário. Contra o Internacional, em novembro de 2001, o roupeiro esqueceu em Santos a camisa que Fábio utilizava de seu patrocinador. O goleiro explodiu em xingamentos no vestiário, enquanto Parreira tentava orientar os jogadores. No retorno a Santos, o técnico pediu demissão. “O Parreira é um cara muito culto e eu era muito jovem, queria abraçar o mundo. Ele me tirou de três coletivos seguidos com 5 minutos. Minha cabeça foi a mil. Discuti com ele. Mandei [o técnico] para aquele lugar. Não foi correto, mas entendo que fui sincero. Pelo menos não fui fazer panelinha para derrubá-lo pelas costas”, diz o jogador, que acredita que o desentendimento o tenha tirado da seleção. “Adoraria ter disputado uma Copa, mas aprendi a conviver sem isso. Não me arrependo. O Leonardo deu uma cotovelada na Copa [de 1994] e continuou sendo bonzinho. Nas cagadas que faço, só eu me ferro.” Quem convive com Fábio Costa diz que ele é de lua. Capaz de descer para o café da manhã e abraçar os companheiros e mudar de comportamento no almoço, horas depois. O temperamento difícil inibe quem é novo no Santos. Fábio odeia quem chega ganhando muito, sem ter identificação com o clube. Os zagueiros temem errar, alguns treinadores se sentem pressionados. “É muito mais cômodo elogiar que cobrar por um posicionamento errado. Não faço nada para agradar ninguém. É meu jeito. Jamais mando recado; digo na cara. Sempre fui assim e perdi muitas coisas no futebol por causa disso. Minha cachaça é ser autêntico. Quem gosta, bem, k quem não gosta, azar”, dispara.

O MÉDICO E O MONSTRO FÁBIO COSTA COLECIONA ATUAÇÕES MEMORÁVEIS, ESPECIALMENTE EM JOGOS DECISIVOS. MAS SEU CURRÍCULO TAMBÉM TEM CONFUSÕES INESQUECÍVEIS

1

MARÍLIA 2 X 1 SANTOS

1

BOTAFOGO 0 X 1 SANTOS

12/2/09, Bento de Abreu

18/10/08, Engenhão

No intervalo, briga com Fabiano Eller

De volta após longo período lesionado,

no vestiário. O desentendimento é o

faz primeiro tempo de gala.

estopim para o pedido de demissão

AMÉRICA-MÉX 0 X 0 SANTOS

do técnico Márcio Fernandes.

2

2

SANTOS 1 X 2 BARUERI

16/5/07, Azteca

31/1/08, Vila Belmiro

Segura os mexicanos pelas

É afastado da concentração por

quartas-de-final da Libertadores.

Emerson Leão após discutir com o

SANTOS 0 X 0 BRAGANTINO

preparador de goleiros Pedro Santilli.

3

3

22/4/07, Morumbi

SANTOS 1 X 1 FLUMINENSE

20/9/06, Vila Belmiro

Na semifinal do Paulista, faz pelo menos três defesas importantes.

Torcedores reclamam da atuação do

SANTOS 2 X 2 NACIONAL

cenos. Na saída do vestiário, briga com

4

a torcida. Um funcionário do Santos se

07/5/03, Vila Belmiro

fere com vidro atirado pelo goleiro.

Defende três cobranças de pênalti

goleiro, que responde com gestos obs-

e classifica o time para as quartas-

4

INTER 3 X 0 SANTOS

15/11/01, Beira-Rio Desentende-se com o técnico Carlos Alberto Parreira por ter sido substituído em

de-final da Libertadores.

5

CORINTHIANS 2 X 3 SANTOS

15/12/02 Morumbi

um treino coletivo. Antes da derrota de 3

Com três defesas espetaculares,

x 0 sofrida para o Inter, em Porto Alegre, o

garante o título brasileiro.

técnico presencia Fábio Costa descontrolado no vestiário com o roupeiro.

5

AMISTOSO 14/7/01, Jalisco

Contra o Atlas, em Guadalajara (México), atravessa o gramado do Estádio Jalisco e acerta uma

©3

voadora no peito de um adversário.

Contra o Nacional, três pênaltis defendidos

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4/20/09 9:06:47 PM


FÁ BIO

CO STA

©1 Semifinal contra o Palmeiras: nem o frango ofuscou sua atuação

k Sobre seu comportamento muitas vezes intempestivo, Fábio se defende. “Campo de jogo não é convento. Não concordo em punirem um jogador com quatro ou cinco meses de suspensão. Tem bandido que mata e não fica nem uma semana na cadeia”, afirma o goleiro. “Tento me controlar, mas na hora não consigo. Acho que sou foco de muita coisa por ser capitão do time. Fico sobrecarregado. Não justifica, mas chega uma hora que acabo explodindo.” Francisco Lopes, ex-diretor de futebol do Santos, conviveu com o goleiro e conta que o clube desenvolveu uma téc-

nica para lidar com suas explosões. “Sempre colocamos o baú de roupa ao alcance do Fábio no vestiário. Quando o Santos perde, ele arrebenta o baú. Ele bate ali para não dar um soco no treinador ou no diretor”, diz Lopes. Fábio admite a histeria após um revés. “Já quebrei várias portas de vestiário pelo fato de um juiz meter a mão no time ou por uma discussão com alguém”, confirma. Mas, se treinadores menos tarimbados tinham receio de Fábio Costa, com Emerson Leão era diferente. A relação entre os dois era de respeito, embora um desafiasse o outro cons-

tantemente. “Com o Leão minha relação foi totalmente profissional. Saí do Santos [no fim de 2003] porque ele não queria trabalhar comigo e tinha um cara de confiança que era o Júlio Sérgio [goleiro reserva]. Mas não existe corpo mole comigo. Jamais me dedicaria menos pelo fato de o Leão ser o técnico”, afirma Fábio. Pelo Santos, Fábio não é só atleta. É também torcedor. Associado do clube desde 2006, comprou um camarote para a família na Vila Belmiro e ajuda os funcionários mais carentes. Em 2006, por exemplo, pegou o dinheiro da caixinha dos jogadores, no fim do ano, e comprou várias TVs de 29 polegadas para os funcionários mais humildes. Muito companheiros não concordaram. Fábio nem ligou. Fábio Costa tem contrato com o Santos até 2012. Até lá, seus desafetos terão de engolir seu temperamento — e suas inegáveis boas atuações em jogos decisivos. E, se seus planos derem certo, terão de suportá-lo ainda por muito tempo. “Quero parar bem daqui a quatro anos. Depois, tenho absoluta certeza de que vou contribuir como dirigente. Não vou dar moleza, mas também irei cumprir com minha palavra. Não serei como esses dirigentes que enrolam jogador.” ✪

CASO DE POLÍCIA

76

Em março, o nome de Fábio Costa

ser assassinada. O telefonema

esteve envolvido em um crime

foi apontado pelo acusado como

passional. A polícia teve acesso aos

o estopim para a briga entre o casal.

registros telefônicos do celular

Em entrevista coletiva concedida

de Ana Cláudia da Silva, 18 anos,

ao lado de sua esposa, Fábio disse

morta pelo ex-marido, Janken Ferraz

que conheceu a ex-mulher de Janken

Evangelista, e confirmou que a

em 2005, quando jogava no Corin-

vítima havia feito uma ligação para

thians. Ele negou, no entanto, ter

o goleiro santista, pouco antes de

tido um relacionamento com ela.

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©2 Ao lado da esposa, Fábio se explicou

✪ © 1 F O T O R E N AT O P I Z Z U T T O

©2 FOTO DIVULG AÇÃO

4/20/09 9:07:32 PM



SEGUNDA

DENTIÇÃO O SORRISO DE DENTINHO TEM DIAS CONTADOS NO CORINTHIANS: A ESPERANÇA É FAZER ALGUM DINHEIRO COM O GAROTO DE 20 ANOS, UMA DAS POUCAS CRIAS DO TERRÃO QUE DERAM CERTO NO CLUBE NESTA DÉCADA P O R M A R C O S S E R G I O S I LVA

DESIGN K.K.U. L.

F O T O S R E N AT O P I Z Z U T T O

Q

uando esta reportagem começou a ser apurada, tudo indicava que o destino de Dentinho seria a Itália. Inter e Juventus eram as líderes dos boatos. Certo é que Dentinho — ou Bruno Bonfim, como seu primeiro técnico, Paulo Cesar Carpegiani, gostaria que fosse chamado (“Um nome tão bonito...”, diz o treinador, lamentando) — não deve ficar para o segundo semestre. Aos 20 anos, o atacante é a esperança

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do Corinthians de fazer dinheiro com a safra que colheu a grama maldita dos rebaixados em 2007. “De 12 milhões a 15 milhões de euros a gente aceita negociar”, chuta seu “descobridor” José Ferreira, o Talquinho. Dentinho tem a idade e o estilo que o Velho Mundo procura. Corre, arma e não sentiu o baque da progressão repentina, que contemporâneos seus das categorias de base sofreram (veja texto na pág. 81). A camisa de titular lhe caiu bem. O caso é raro em se tratando das

crias corintianas nesta década. Desde a geração campeã da Copa São Paulo em 1999 um rebento da base não conquistava técnico e torcida. Nesse intervalo, não fixaram posição promessas como Jô e Rosinei. Dentinho age como se não fosse deixar o país tão cedo. Uma oferta de 7 milhões de euros dos Emirados Árabes já foi recusada em 2008 por clube, jogador e pelo empresário, o ex-lateral do Palmeiras Cláudio Guadagno. A venda faria três partes lucrarem: além do Corinthians, dono k

4/21/09 1:03:29 AM


O beijo nos nomes da mãe e do pai nos pulsos: marca própria

SORTE OU REVÉS Nem tudo são flores na carreira de Dentinho. Desde que foi promovido, teve que passar por algumas provações RONALDO O Fenômeno no time

Quando Ronaldo che-

trouxe projeção ao ata-

gou, Dentinho estava na

cante. Ronaldinho Gaú-

seleção sub-20. Voltou

cho, por tabela, já andou sem lugar certo no time, falando bem do garoto.

que ainda tinha Lulinha,

Arsenal, Juventus e Inter Souza, Jorge Henrique e se interessaram

Otacílio Neto na posição

A QUEDA O Corinthians pós-MSI

©1

Dentinho pulou etapas

era um time sem grana e e chegou rápido ao prosem atletas, o que facili- fissional, mas deixou de tou sua estreia. Na série aprender alguns fundaB, jogou contra equipes

mentos — o passe e o

mais frágeis, o que aju-

arremate, por exemplo,

dou em sua adaptação

precisam melhorar

Tem como empresários

Guadagno hoje é ad-

Talquinho (foto) e Cláu-

versário da direção do

dio Guadagno, que fez

clube, o que faz com que

com que fosse testado

seu salário seja um dos

no Corinthians depois

mais baixos do time —

de duas baterias prati-

45000 reais, inferior

camente ignorado

aos de Acosta e Lulinha

O AGENTE

80

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k de 52% do seu passe, o próprio Guadagno, que detém 20% com Talquinho, e o fundo de investimentos Sonda (outros 28%). “Não penso em ir para esses lugares afastados”, afirma o próprio jogador, amparado pelo discurso de Talquinho. “Se pensasse apenas na independência financeira, estaria tranquilo, mas seu futuro como jogador estaria comprometido”, diz Talquinho. De fato, Dentinho quer jogar fora do país, mas prefere escolher Espanha ou Itália. Dinheiro seria determinante para o garoto de família humilde, cria de uma escolinha de futebol na região do Rio Pequeno, zona oeste paulistana, e que dependia da ajuda de 70 reais mensais do São Paulo, primeiro clube em que tentou a sorte no futebol. Dentinho cresceu num conjunto residencial construído para abrigar funcionários do orfanato no qual seu pai, o vigia Adonias, e sua mãe, a assistente social Nilce, trabalhavam. Da mãe herdou a religião budista. Na casa adquirida com o salário de 45000 reais, abaixo do de colegas de elenco como Souza, Acosta e Lulinha, todos na reserva, guarda um oratório em que dedica suas preces. “É na religião que encontro a tranquilidade. Por isso estou sempre bem-humorado.” Antes de chegar ao Corinthians, Dentinho passou por algumas provações. Uma delas foi ser dispensado da base do São Paulo ainda menino. “Foi uma decepção muito grande”, afirma, lembrando a fase em que seu corpo franzino servia para questionar seu talento com a bola nos pés. “Sempre enfiei na cabeça que era magrinho, mas habilidoso, e tinha que tomar muito tapa para ganhar espaço”, diz. De lá, migrou para a escolinha do Rio Pequeno, mais tarde incorporada ao Molecaje, um celeiro de jogadores ©FOTO 1 EDISON VARA

comandado por Talquinho no vizinho Jaguaré. Sua primeira ficha como jogador foi preenchida no Força, clube ligado à central sindical, na terceira divisão do Campeonato Paulista. A estreia entre os profissionais viria no Brasileiro de 2007, na fatídica campanha do rebaixamento. “Fui o treinador das vacas magras”, afirma Paulo Cesar Carpegiani, obrigado a recorrer à base para repor as perdas. “Vieram só quatro jogadores do Bragantino. O restante tive que apelar para juvenis, como o Dentinho.” O elenco remendado não foi suficiente para manter o clube na série A. Em 2008, Mano Menezes assumiria como técnico e efetivaria Dentinho no ataque. Em breve o garoto que imitava as coreografias de Marcelinho estaria comemorando seus gols. Nas primeiras férias como profissional, tatuou nos pulsos os nomes do pai e da mãe. Desde então, beijá-los viraria marca registrada e de sorte: terminou 2008 artilheiro do time, com 24 gols. “Ele é veloz, finta com velocidade e é goleador”, diz Adaílton Ladeira, Com Ronaldo: “pai” e “filho” ou “Dentão” e Dentinho

técnico de Dentinho no curto espaço em que jogou nos juniores. “Mas ele deveria passar mais tempo no amador para ganhar nos fundamentos.” Segundo Ladeira, Dentinho aproveitou (bem) a série B para corrigir alguns defeitos. Melhorou no arremate, nos passes e nos cruzamentos, mas ainda está longe do ideal. “Ele tem dificuldade no domínio da bola”, afirma. Mas Dentinho ainda tem muito a aprender. Até mesmo com o “pai” postiço, Ronaldo Fenômeno, que praticamente adotou o menino nesses quatro meses de Parque São Jorge. “Ele não gostou muito quando disse que formaríamos a dupla Dentinho e Dentão”, diz, rindo, o jogador. “Pediu para arrumar outro parceiro.” No clássico contra o Santos, no Paulista, o brilho do menino ofuscou as outras duas estrelas — além de Ronaldo, Neymar — com o gol que decidiu o duelo. Mais forte, Dentinho prevê que o sorriso vai durar ainda mais nessa fase “adulta”: os dentes de menino podem dar lugar aos de astro do futebol, neste ou no Velho Mundo.

ELES AINDA NÃO VINGARAM Os três vieram na mesma leva de Dentinho. Entenda o que aconteceu com cada um deles ALLISON Artilheiro do Corinthians na Copa São Paulo de 2007, a mesma em que Dentinho jogou, não foi aproveitado pelo time profissional. Emprestado para o Atlético-PR no fim de 2008, ainda não teve chances na equipe principal.

RENATO Zagueiro, considerado o “Breno melhorado”, segundo Zé Augusto, técnico da base. O Grupo Sonda adquiriu 25% do passe no fim do ano passado. Subiu para o profissional no começo de 2008, mas não é aproveitado.

LULINHA Era a maior aposta das categorias de base: marcou 297 gols. Entre os profissionais, teve seu talento contestado pela torcida e só marcou um gol neste ano. Deve ser negociado.

Lulinha: talento empacado no clube

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C R A Q U E S

E

B A G R E S

Q U E

F A Z E M

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F U T E B O L

N O

M U N D O

planeta bola

k Grafite: em sua terceira temporada na Europa, ele reencontrou o gol

Pichando o sete Com uma carreira marcada por polêmicas e fatos inusitados, Grafite enfim passa a ser reconhecido na Alemanha por seu verdadeiro ofício: fazer gols Grafite deixou o futebol brasileiro, em 2006, com a carreira marcada por episódios polêmicos ou inusitados. Em 2004, estava ao lado do zagueiro Serginho, do São Caetano, quando ele teve uma parada cardíaca fulminante. Meses antes, marcou contra o Juventus no Campeonato Paulista e salvou o Corinthians do rebaixamento. Em 2005, foi o pivô da prisão do zagueiro argentino Leandro Desábato, do Quilmes, acusado de racismo em jogo da Libertadores. No início desta temporada, já no Wolfsburg,

k

virou motivo de piada ao desmaiar durante um treino físico do técnico Felix Magath. Agora Grafite volta às manchetes. Desta vez pelos gols, muitos gols, que tem marcado. O mais impressionante deles, na goleada por 5 x 1 sobre o Bayern de Munique, escreveu definitivamente seu nome na história da Bundesliga. O lance é repetido à exaustão na televisão local e tornou o atacante uma celebridade em solo alemão. Os pedidos de entrevista são tantos que a assessora de imprensa do Wolfsburg já sabe de cor e salteado a his- k

EDIÇÃO JONAS OLIVEIRA

© FOTO PIER GIAVELLI

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DESIGN K.K.U. L.

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planeta bola k tória de vida do paulista de Campo Limpo, que vendia sacos de lixo de porta em porta e ganhou um apelido politicamente incorreto quando jogava na Matonense. Seu nome, aliás, provoca discussões intermináveis na Alemanha quanto à pronúncia: fala-se “GrafiTE” ou “GrafiTCH?” Só nesta temporada, Grafite marcou 29 gols em 25 partidas. “Eu teria feito mais se não tivesse me machucado e ficado tanto tempo parado pela minha cirurgia no joelho”, diz. Em seu segundo ano na Alemanha, o jogador do Wolfsburg tem aproveitamento inferior apenas ao do lendário Gerd Müller, que tem média de 0,85 gol por partida, contra 0,76 de Grafite. Marcas tão expressivas levam à clássica questão, tão repetida quanto o gol contra o Bayern: como ele não está na seleção? “Sonho com isso todos os dias, mas só chegarei lá se estiver jogando bem. Foi assim em 2005, quando fui convocado para o lugar do Ronaldo para um jogo contra a Argentina. Na mesma semana sofri uma contusão e fui cortado. Se continuar assim, acho que a convocação acaba vindo”, afirma.

Imagine receber um bom salário, morar em paraíso fiscal e turístico do Caribe, falando inglês, com

vida do brasileiro Thiago Cunha, 30 anos, das Ilhas Cayman, arquipélago

Esqueceu de mim Abandonado por Dunga, Afonso Alves fala sobre a seleção brasileira e a reserva no quase rebaixado Middlesbrough Quando foi seu último con-

k

tato com Dunga?

Faz tempo, mas não há nada de estranho nisso. Se não faço gols, se minha equipe não vence, é normal que eu não seja lembrado. Não tenho nada para reclamar, pelo contrário.

As pessoas falam mal do Dunga, mas os jogadores gostam dele. Nunca um treinador abriu tantas portas para os jogadores de fora dos grandes centros. Deu chance a quem estava na Rússia, Ucrânia, Holanda, convocou vários jovens. E ganhou a Copa América, então ninguém pode criticá-lo.

cara da história. O que houve?

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gosta: futebol. De bônus, competições eleição de craques do ano. Essa é a

No Middlesbrough, você é criti-

84

vida, trabalhando com o que mais oficiais da Fifa e direito a voto na

cado por ser a contratação mais

Na Bundesliga, média de gols impressionante

sossego e excelente qualidade de

Rodrigo Teixeira: o melhor brasileiro em atividade — ao menos para a IFFHS...

convocou não foram poucas... ©1

DOCE CAYMAN

©2

Lembra do Afonso? Nem o Dunga...

As críticas ao Dunga quando o

CARLOS EDUARDO FREITAS

©2

Ah, os jornais aqui adoram escrever isso de “o jogador mais caro”, mas eu não dou bobeira para eles. Nosso time tem bons jogadores, mas deixaram

sair muitos jogadores experientes. Aí, de uma hora para a outra, eu passei a ser o mais velho do grupo. A cada derrota, a equipe sente muito, perde confiança. Até o técnico é jovem. Você se arrepende de ter ido para o Middlesbrough?

De jeito nenhum. Eu estou na melhor liga do mundo, jogando sempre contra os melhores. Mesmo o Manchester City, com o Robinho e todo o dinheiro, está tendo problemas.

Melhor que Eto’o

britânico que, até o ano passado, era

Rodrigo Teixeira é o melhor brasileiro em ranking da IFFHS

criar a seleção feminina caimana.

planeta. Thiago chegou em 2003 para Acumula ainda a preparação física

Artilheiro do Deportivo Cuenca na Libertadores, Rodrigo Teixeira pode ser considerado o melhor atacante brasileiro em atividade — ao menos pelos critérios da IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol). Conhecido por seus rankings polêmicos, o órgão internacional classificou Rodrigo na nona posição entre os melhores artilheiros de todo o mundo em 2009 — o camaronês Eto’o, por exemplo, aparece apenas em 50º. Natural de Barra Mansa-RJ, Rodrigo surgiu para o fu-

tebol nas categorias de base do Vasco da Gama — foi vice-campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 1999. Depois de ser emprestado para equipes de pequena expressão no Brasil, Rodrigo foi contratado pelos equatorianos do Esmeraldas Petrolero. De lá, foi para o Barcelona de Guayaquil, antes de chegar ao Deportivo. Em 2003, chegou a ser convidado para defender a seleção do Equador. “Meu empresário da época disse que era melhor não. Me arrependo até hoje”, diz o atacante. A L E X A N D R E S A L V A D O R

k

E fora de campo? Middlesbrough foi eleita a pior cidade

o quinto maior centro financeiro do

©2

do time masculino. “É muito bom comandar um país há cinco anos e meio. São duas Eliminatórias de Copa e uma do Mundial feminino, dois Pré-Olímpicos em cada categoria”, diz Cunha.

ELIANO JORGE

©3

Thiago (dir.) com a seleção feminina caimana

RODÍZIO MEXICANO

para morar na Inglaterra...

Realmente aqui não é um lugar dos mais bonitos. Joguei na Suécia e na Holanda, com cidades bem bonitas e mulheres lindas também. Essa é outra grande diferença... Na Holanda, você saía à noite e o técnico já estava na balada [risos]. Mas, dentro de campo, não dá para comparar. O nível aqui é muito mais alto. R A F A E L M A R A N H Ã O ©1 FOTO PIER GIAVELLI ©2 FOTO AFP ©3 FOTO DIVULG AÇÃO

Carlos Vela e Giovani dos Santos, ambos com 20 anos, deixaram cedo o México rumo à Europa. Aos 16, Vela fechava contrato com o Arsenal e Giovani era descoberto por olheiros do Barcelona. Mas, enquanto Giovani despontava na equipe principal do Barça em 2007, Carlos Vela estava esquecido, emprestado ao Osasuna-ESP. Agora a situação se inverteu. Sem oportunidades no Barça, Giovani foi vendido ao Tottenham e, no início de março, emprestado ao Ipswich Town, da Vela e Giovani dos Santos: sucesso alternado

segunda divisão inglesa. Já o pupilo dos Gunners, de volta à Inglaterra desde o ano passado, vive sua melhor fase. Começa a se firmar no time de Arsène Wenger e ganha espaço, também, na seleção principal do México.

BREILLER PIRES

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planeta bola

lSOBE

Pior impossível

Diego

Com o 6 x 1 para a Bolívia, a Argentina igualou seu pior resultado na história. Mas há vexames piores POR LEANDRO GUIMARÃES

SANTA CRUZ DO PARAGUAI

©1

Feliz com o sucesso na equipe do

Tem sido o principal homem do

principal atacante paraguaio da

mais cotados para jogar na Itália

1

na próxima temporada.

Uruguai empatou com a Argentina e venceu os anfitriões

Werder Bremen na campanha da Copa da Uefa. É um dos jogadores

Brasil

atualidade, Roque Santa Cruz, o

Para chegar ao título do Sul-Americano de 1920, o

Blackburn se rendeu ao estilo sulamericano dentro da área. Irmão mais novo de Roque, Julio Santa Cruz, que

chilenos. Entre as duas partidas, goleou o Brasil por

faz 19 anos este mês, era jogador das

Michel Bastos

6 x 0, no dia 18 de setembro. José Pérez e Ángel Romano,

categorias de base do Cerro Porteño

Jogando como meia no Lille, o lateral-

artilheiros da competição, marcaram duas vezes cada.

esquerdo que passou por Grêmio e Figueirense briga pela artilharia do Campeonato Francês.

2

Itália

disputado em 1910, em Budapeste, com vitória da seleção

O volante do Manchester United,

da casa: 6 x 1. Quatorze anos depois, em 6 de abril de 1924,

que recentemente adquiriu a

o jogo se repetiu na capital magiar. Mesmo sem a estrela

cidadania italiana, foi convocado

Imre-Schlosser Lakatos, a Hungria fez 7 x 1 na Azzurra.

pela seleção sub-20 da Azzurra.

pDESCE

Inglaterra A primeira derrota inglesa para um time não-

britânico em Wembley veio em 1953, quando a Hungria venceu por 6 x 3. Em 23 de maio de 1954, as seleções se

Carlos Eduardo Levou um gancho de cinco jogos

reencontraram em Budapeste. Dois gols de Puskas e dois de Kocsis ajudaram a construir a goleada húngara por 7 x 1.

por ter dado uma cotovelada em um adversário. E o Hoffenheim, que chegou a liderar o campeonato, despencou na tabela.

4

Alemanha Em 1908, em plena Berlim, os ingleses venceram

os alemães por 5 x 1. Em 13 de março do ano seguinte, os

Edu Dracena

alemães viajaram a Oxford em busca da revanche. Mesmo

Cotado para se transferir para a

com uma seleção amadora, graças a três gols de Dunning

Roma na próxima temporada, sofreu

e outros três de Porter, a Inglaterra fez 9 x 0.

uma grave lesão no joelho e deve ficar parado por quatro meses.

Kerlon

5

Em sua primeira temporada no

últimos campeões mundiais, ninguém supera a França. Em

Chievo, o “Foquinha” não se livra

22 de outubro de 1908, os Azuis foram a Londres enfrentar

das contusões. Jogou apenas três

a Dinamarca. O destaque foi Nielsen Sophus Erhard, que

partidas e ainda não marcou. 86

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irmão, o também atacante ganhou uma chance de mostrar seu valor na Inglaterra. Não deu outra. O técnico

O primeiro jogo entre Hungria e Itália foi

Rodrigo Possebon

3

até a metade de 2008. Ajudado pelo Éderson: alegria em sua primeira temporada no Lyon

França Apesar de todos os placares elásticos, entre os

Sucessor natural

do Blackburn na época, Paul Ince, se

Mesmo sem aceitar comparações, Éderson segue os passos de Juninho e deve ser o brasileiro da vez do Lyon

três anos. Em sua primeira temporada

A comparação é inevitável. Olhar para um brasileiro que hoje faz sucesso pelo Lyon, da França, meio-campista, e não vê-lo como um sucessor de Juninho Pernambucano é quase impossível. Atualmente, esse cara se chama Éderson, que joga na França há cinco anos — quatro pelo Nice e um pelo Lyon. Já Juninho está desde 2001 no time e venceu os sete campeonatos franceses disputados. Com o iminente fim de contrato de Juninho Pernambucano (acaba no meio de 2010), o caminho da sucessão está aberto para Éderson. Apesar de toda essa expectativa, o jogador não gosta da comparação. “Eu sempre disse que não seria o substituto do Juninho”, afirma o meia. Éderson teve uma passagem discreta no Brasil — atuou por RS, Juventude e Inter. “Não consegui ter uma sequência de jogos. Sofri algumas lesões

anotou seus primeiros gols. O caçula

k

sozinho fez dez gols.: vitória dinamarquesa por 17 x 1. ©1 FOTO AFP

©2 FOTO DIVULG AÇÃO

e acabei jogando pouco”, diz a nova sensação do Lyon. Mesmo assim, foi emprestado ao Nice em 2004, pelo RS, e, após boas atuações, o clube o contratou em definitivo. Mas seu namoro com o Lyon existia há tempos, desde que chegou à França. Juninho já começava um convencimento para jogarem juntos. “Antes adversários, nós conversávamos pouco, só nos jogos. Mas o Juninho falava que o Lyon estava de olho em mim. Aí, no início de 2008, ele começou a me explicar os objetivos do clube”, diz Éderson sobre sua relação com Juninho. Hoje, além de companheiros de clube, Éderson e Juninho fazem uma parceria que pode render ao Lyon o oitavo título consecutivo. Na próxima temporada, ela deve continuar. Mas, em 2011, se Pernambucano sair, Éderson, seu sucessor natural, deve virar a engrenagem do time. B E R N A R D O I T R I

impressionou tanto com os testes de Julio que lhe propôs um contrato de com os reservas dos Rovers, Julio assegurou uma vaga como titular e também já figura no elenco principal, esperando a oportunidade de estrear na Premier League para, quem sabe, realizar seu grande sonho. “Jogar ao lado de Roque é um desejo pessoal. Não é sempre que irmãos jogam juntos no futebol profissional”, diz Julio.

MARCELO SILVA

©2

Julio Santa Cruz: seguindo os passos do irmão

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4/20/09 7:37:35 PM


★ CLÁSSICOS DO MUNDO ★

planeta bola SETE POR SETE

Em 1911, por causa de ventos fortes, a maioria dos jogadores do Galatasaray não pôde chegar ao estádio do Fenerbahçe. Com isso, o time começou o jogo com apenas sete atletas e, mesmo assim, venceu por 7 x 0. Além disso, o Fenerbahçe terminou a partida com dez jogadores, depois de o goleiro ter se machucado. ©1

APENAS 14 O menor público registrado no clássico foi em 17 de novembro de 1922, com apenas 14 torcedores. Por causa da forte tempestade, o juiz Fethi Tahsin Basaran apitou a partida

363 JOGOS

137 VITÓRIAS DO FENERBAHÇE

115 VITÓRIAS DO GALATASARAY

usando um guarda-chuva. Já o jogo de maior público foi em 21 de setembro de 2003, no estádio Atatürk Olimpiyat, quando 70 125 Rustu, com a camisa do Fenerbahçe Pancadaria no último clássico: fim da chance de título para ambos

Zero a zero absoluto Em um clássico marcado pela violência em campo, o resultado diz tudo: sem gols, sem chances, sem sucesso para os inimigos mortais Galatasaray e Fernerbahçe

pessoas compareceram.

ARTILHEIRO O maior artilheiro do clássico foi Zeki Riza Sporel, do

©2

11 EMPATES

Taffarel, que defendeu o Galatasaray

ÍDOLOS Vários jogadores importantes do futebol mundial passaram pelos

507 GOLS DO FENERBAHÇE

dois clubes, entre eles muitos brasileiros. Defenderam o Galatasaray o romeno Gheorghe Hagi, o goleiro

Fenerbahçe. Ele jogou entre 1915 e 1934 e marcou 27 gols

Taffarel e o atacante Jardel. Do lado

em 42 jogos. Os outros grandes artilheiros também são do

do Fenerbahçe, atuaram o argentino

donyadis, 20. O maior artilheiro do Galatasaray no dérbi é

462

Metin Oktay, com 19 gols. Quem mais jogou o clássico foi

GOLS DO GALATASARAY

Fenerbahçe. Alaattin Baydar fez 24 gols e Lefter Küçükan-

Ariel Ortega, o francês Nicolas Anelka, o nigeriano Jay-Jay Okocha e o goleiro turco Rüstü Recber.

Turgay Seren, ex-goleiro do Galatasaray, com 55 jogos.

Há 100 anos acontecia o primeiro clássico turco entre Galatasaray e Fenerbahçe, uma das maiores rivalidades do mundo. Em turco, a palavra “yüz” tem dois significados: “rosto” e “cem”. Se alguém faz algo vergonhoso, pode-se dizer, em turco: “yüz karasi”. No ano do centenário do dérbi, o jogo entre as equipes no estádio Ali Sami Yen, em Istambul, foi realmente vergonhoso. Os dois times decepcionaram seus torcedores, mesmo com grandes personagens ali, como Dani Güiza, Roberto Carlos, Harry Kewell e Milan Baros. Quem perdesse o jogo perderia

k

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ainda as esperanças de vencer o Campeonato Turco. Um empate também acabaria com as chances de troféu das equipes e, quando os jogadores perceberam que esse seria o desfecho do jogo, transformaram a noite de espetáculo em pancadaria. O curioso é que alguns dos atletas que estrelaram a briga estavam juntos na abertura de uma loja do ex-jogador do Galatasaray Serhat Akyüz, no dia 8 de abril, e falaram sobre amizade na seleção. Apenas cinco dias após essa cordialidade, esses mesmos jogadores mais pareciam heróis de luta-livre. Depois de uma falta cobrada para fora

por Roberto Carlos, Lugano deu uma cabeçada em Emre Asik e, a partir daí, começou a pancadaria. O jogo ficou parado por 6 minutos e Semih, Lugano, Arda e Emre Asik foram expulsos. Após o término da partida, a sete rodadas do fim da competição, as duas equipes ficaram 8 pontos atrás do Sivasspor, a surpresa do torneio. Nunca na história Galatasaray ou Fenerbahçe perderam as chances de ser campeões tão cedo, na 27ª rodada. O placar refletiu bem as notas que os times merecem pela temporada — e pela atitude em campo: 0 e 0. POR GALIP ÖZTÜRK , DE ISTAMBUL

GALATASARAY CENTENÁRIO

TÍTULOS

O primeiro clássico entre

1 COPA DA UEFA

Galatasaray e Fenerbahçe

1 SUPERCOPA DA UEFA

ocorreu em 17 de janeiro de

17 CAMPEONATOS TURCOS

1909, no local onde hoje está

14 COPAS DA TURQUIA

o Sükrü Saracoglu, estádio do Fenerbahçe. O Galatasaray,

FENERBAHÇE

que venceu a partida por

TÍTULOS

2 x 0, fica na porção euro-

1 TAÇA DOS BÁLCÃS

peia de Istambul, enquanto

17 CAMPEONATOS TURCOS

o Fenerbahçe fica na parte

4 COPAS DA TURQUIA

asiática. A divisão é marcada

ÚLTIMO JOGO

pelo estreito de Bósforo,

12/4

que liga o mar Negro ao mar de Mármara. © 1 FOTO PIER GIAVELLI © 2 FOTO AFP

O estreito de Bósforo divide a Istambul asiática da europeia

ESTÁDIO ALI SAMI YEN

Galatasaray 0 x 0 Fenerbahçe M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR |

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planeta bola

HUNGRIA CAPITAL: BUDAPESTE IDIOMA: HÚNGARO MOEDA: FLORIM HÚNGARO POPULAÇÃO: 10 050 000 RANKING DA FIFA: 44º NA FIFA DESDE: 1907 JOGADORES REGISTRADOS: 127 226 CLUBES REGISTRADOS: 2 778

O lateral Szélesi (esq.) em jogo contra a Dinamarca: perto da classificação

©1

Retorno magiar

NOVO PUSKAS?

Com bagagem repleta de glórias e craques, a Hungria tenta voltar à Copa do Mundo e resgatar sua tradição

Destaque da seleção e do PSV

A Hungria sempre foi mestra na arte de surpreender o mundo do futebol. Primeiro, com a revelação de craques como Kubala, Czibor e Kocsis, que brilharam no Barcelona nos anos 50. Depois, comandada pelo maior dos craques húngaros, Ferenc Puskas, foi vice-campeã mundial em 1954. A derrota por 3 x 2 para a Alemanha Ocidental naquela decisão, que ficou conhecida como “O Milagre de Berna”, também foi uma surpresa — a Hungria jogava o melhor futebol da Copa e havia batido a própria Alemanha por 8 x 3 na primeira fase. Com pouco mais de 10 milhões de habitantes, o país já ocupou o topo do ranking da Fifa, ganhou três medalhas de ouro olímpicas (1952, 1964 e 1968), além de outro vice-campeonato mundial, em 1938. No entanto, a

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última Copa disputada pela Hungria foi em 1986, no México. De lá para cá, os craques, que abundavam no passado, pararam de surgir, e o futebol húngaro entrou em decadência. Mas a Hungria de tantas tradições quer surpreender novamente. Nas Eliminatórias para a Copa de 2010, a seleção húngara ocupa o primeiro lugar do grupo A, ao lado da Dinamarca, com 13 pontos, deixando para trás Suécia e Portugal. Nesses 23 anos fora de uma Copa, a Hungria nunca esteve tão perto da classificação. “Quando cheguei, minha primeira impressão da equipe não foi nada boa. Mas isso mudou; todos os jogadores estão motivados a levar o país de volta à Copa”, diz o técnico holandês Erwin Koeman. É ver para crer em mais uma surpresa magiar. B R E I L L E R P I R E S

Eindhoven, Balázs Dzsudzsák é uma das maiores promessas do futebol húngaro. Dono de uma canhota habilidosa, o meia de 22 anos chega a ser comparado na Hungria ao lendário Puskas, que brilhou no Real Madrid entre 1958 e 1967. Mas ao contrário de Puskas, que marcou 84 gols pela seleção húngara, Dzsudzsák não é muito de balançar as redes: marcou apenas um gol pela Hungria, num amistoso contra a Grécia. ©2

Dzsudzsák, a grande promessa dos húngaros

©1 FOTO PIER GIAVELLI ©2 FOTO ANP

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11ªchuteiradeouro PLACAR PREMIA O MAIOR ARTILHEIRO DO BRASIL

Gols sem moderação Destaque do Mineiro, Tardelli é o cara deste mês. Pernambucanos dominam as outras posições Em abril, Keirrison mantinha uma boa distância entre seus concorrentes à Chuteira. Ele não parava de fazer gols e, até o fim dos campeonatos estaduais, o K9 dava pinta de que permaneceria isolado. Mas, como dizia a matéria de Placar do mês passado, “Antes tarde do que nunca”, Diego Tardelli marcou sete gols e agora é líder ao lado do palmeirense. Tardelli vem sendo decisivo para o Atlético Mineiro. O Galo terminou a primeira fase do Estadual como líder, passou fácil nas quartas-de-final e, nas semifinais, dos três gols marcados pelo Atlético, dois vieram de Tardelli. Nada mais merecido que premiar essa fase com a liderança na Chuteira de Ouro. Abaixo de Tardelli e Keirrison, entre o terceiro e o sétimo colocados, quatro atletas são de Pernambuco. Gilmar (Náutico), Marcelo Ramos (Santa Cruz), Fabio (Central) e Ciro (Sport), que disputaram o Pernambucano, estão entre os maiores goleadores do Brasil. A explicação para isso é a fragilidade da competição. O fato de o artilheiro ser o veteraníssimo Marcelo Ramos e de o Sport vencer o campeonato com sobras comprova a tese. Agora o Brasileirão começa, os jogos ganham equilíbrio, fazer gols se torna cada vez mais difícil e a disputa pela Chuteira de Ouro deve ficar ainda mais acirrada.

k

© FOTO EUGÊNIO SÁVIO

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Tardelli: especialista em marcar gols

★ 1

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C H U T E I R A D E O U R O 2 0 0 9 | AT É 2 0/4 DIEGO TARDELLI

ATLÉTICO-MG

0

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6 (3)

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KEIRRISON

PALMEIRAS

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GILMAR

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MARCELO RAMOS

SANTA CRUZ

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TAISON

INTERNACIONAL

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CENTRAL

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CIRO

SPORT

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SÃO PAULO

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KLÉBER

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KLÉBER PEREIRA

SANTOS

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MAICOSUEL

BOTAFOGO

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NILMAR

INTERNACIONAL

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PEDRÃO

BARUERI

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26 (13)

0

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RAFAEL MOURA

ATLÉTICO-PR

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SANDRO SOTILLE

SÃO JOSÉ-RS

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BRUNO MENEGHEL

GOIÁS

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S - SELEÇÃO; BRA - BRASILEIRO - SÉRIE A; CB - COPA DO BRASIL; L - LIBERTADORES; CS - COPA SUL-AMERICANA; EST - PRINCIPAIS ESTADUAIS; EST/B - DEMAIS ESTADUAIS E SÉRIE B

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4/20/09 7:39:13 PM


batebola POR TIAGO LEME, DE LONDRES

Pede pra sair! Feliz com a titularidade no Chelsea de Guus Hiddink, Alex diz que prefere sair do clube a ficar no banco — e fala dos motivos que provocaram a demissão de Felipão A concorrência na zaga do Chelsea é grande, e você nem sempre é titular. Isso o incomoda?

O pessoal do clube sempre gostou de mim. Só que aqui tem o Ricardo Carvalho e o John Terry, que são jogadores top, já ganharam muita coisa. É difícil. Mesmo estando em um clube grande, não é bom aceitar e se acostumar a ficar no banco. Quero sempre jogar. Cheguei a falar que queria ir embora, mas agora penso em dar continuidade, jogar. Você chegou a pedir para sair do clube?

Falei com o Felipão que queria ir embora 15 dias após a chegada dele. Conversei numa boa, mas ele falou que não me liberaria. Na época do Avram Grant e do Felipão, eu jogava sempre que o Terry ou o Ricardo se machucavam. Na FA Cup do ano passado, joguei a Copa toda. Mas na final, contra o Tottenham, o Grant me tirou porque o Terry estava voltando. Isso não é bom para ninguém. Você trabalhou com Guus Hiddink no PSV e ele o conhece bem. Isso está ajudando agora?

Sempre me dei bem com o Hiddink, e estou jogando bastante agora. Ele foi ver alguns jogos do Santos no Brasil, em 2002, e cheguei a conversar com ele. Foi ele quem pediu minha contratação. Espero que ele fique mais tempo aqui. Na sua opinião, por que Felipão foi demitido?

Ele teve muitos problemas com o idioma, de comunicação. Ele queria motivar os jogadores nas preleções, mas as palavras em inglês fugiam. Ele também mudou muito os treinamentos. Eram no estilo do Brasil, muitos coletivos 11 contra 11, e o pessoal aqui não está acostumado a fazer isso. O normal aqui é treinar em campo curto, trabalhar mais forte. Os jogadores reclamavam dos treinamentos dele?

Às vezes eles reclamavam um pouco porque não tinham muito o costume. Tanto os ingleses quanto os holandeses querem as coisas do jeito que eles são acostumados a fazer, aí chega um treinador brasileiro e é totalmente diferente. É verdade que o grupo estava rachado?

Não é verdade, pelo menos nunca presenciei nada. Teve uma situação que foi um mal-entendido. O Felipão sempre dava liberdade para o Peter Cech e falava: “Dentro da área 94

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você é o capitão, você manda”. Aí, em um jogo contra o Fulham, tomamos um gol no último minuto. Depois, o Felipão falou que dentro da área quem mandava era o Cech. Mas ele entendeu mal, entendeu que ele, Cech, disse que foi falta de comunicação na área porque ele não teria falado nada no lance. Mas não foi nada disso, depois esclareceu tudo. A demissão dele já era esperada por vocês?

Foi uma surpresa quando vi a notícia na internet. Pensei que ele ficaria até o fim da temporada. Mas não falei com ele depois, ele não foi nem ao centro de treinamento se despedir. Acho que o Felipão teve muita falta de sorte. A gente estava ganhando alguns jogos que pareciam fáceis, mas dava um branco e tomávamos gol no fim. Ele teve muito azar.

Felipão teve muitos problemas com o idioma, de comunicação. Ele queria motivar os jogadores nas preleções, mas as palavras em inglês fugiam

Quais são seus planos para o futuro?

Tenho contrato até a metade de 2011. Fico aqui se continuar jogando. A cidade é boa, e minha família gosta bastante, mas tenho de pensar nessa área também. Tem Copa do Mundo no próximo ano; quero voltar à seleção. Vou esperar para ver o que acontece até o fim da temporada, e dependendo disso a gente conversa com a diretoria. Como foi a decepção de perder a final da última Champions League nos pênaltis?

O Terry chorou até o dia seguinte. Saímos no outro dia de manhã, e dava para ver que o olho dele estava bem fechado de tanto que ele chorou. Mas o grupo deu apoio, porque ele é uma pessoa muito boa, que ajuda todo mundo. O Lampard, por exemplo, é mais fechado. Não que seja mala, mas o John Terry é mais aberto, mais moleque, sempre brincalhão. Você acha que deixou o Santos na hora correta?

No Brasil, se você está em um momento bom, acho que tem que sair mesmo. Em 2003, o Cruzeiro estava muito bem e a gente não conseguia chegar neles. Saía na rua em Santos e o pessoal cobrava. Às vezes, você perdia jogos em casa e não podia nem passear com a família. Aí você acaba ficando chateado e quer ir embora. Aqui na Europa nunca passei por isso. Ano passado não ganhamos nada no Chelsea, mas, mesmo em segundo lugar no Campeonato Inglês, demos a volta olímpica no último jogo em casa e a torcida aplaudiu. © FOTO TIAGO LEME

4/20/09 7:41:31 PM


batebola POR FLÁVIA RIBEIRO

O Rio é minha praia De volta ao Fluminense, Parreira lamenta não poder disputar a próxima Copa — mas descarta voltar à seleção brasileira e deixar o Rio de Janeiro Por que você deixou a seleção da África do Sul an-

O que mudou no Fluminense desde a sua chegada?

tes da Copa do Mundo?

Acho que incuti confiança na equipe. Aumentei também a carga de trabalho em intensidade. Agora tenho de definir o grupo. Não é bom trabalhar com 32, 35 jogadores. O time está começando a ter uma cara, a ganhar uma identidade.

Larguei porque tive de largar mesmo. Foram problemas de ordem familiar, mas não quero falar sobre isso. Lamentei ter deixado para trás a oportunidade de participar de minha oitava Copa do Mundo. Não estou aqui para brigar por recordes, mas gostaria de ter ido à Copa, claro. É verdade que você recusou uma proposta do Flamengo 30% melhor que a do Fluminense?

É boato, nem chegamos a falar sobre valores. Na época do convite do Flamengo, ainda não podia aceitar. Recebi quatro convites, um do próprio Fluminense, e foi duro ter de rejeitálos. Em março, então, três meses depois desses convites, recebi mais um do Fluminense. A vida estava monótona e os problemas familiares, resolvidos. Achei que não podia mais recusar. E claro que ajudou ser o Fluminense, um time com o qual tenho uma identificação. E ajudou ser no Rio. Continuo morando na minha cidade, pego minha neta na escola...

Como administrar um time em que uns recebem em dia e outros convivem com salários atrasados?

Nunca ninguém comentou nada comigo. Até porque, hoje, o Fluminense está com os salários em dia. Mas nem sempre esteve. Você já passou por isso?

Já passei por isso. É muito difícil. Trabalhei em um clube que teve jogador devolvendo carro, até casa. E o treinador fica sem ter o que fazer. Todo mundo pensa que jogador é rico. Alguns ganham muito bem, sim. Mas aqui mesmo, no Fluminense, tem jogador que ganha 800 reais. Você prefere seleção a clube?

que era um primeiro passo para sair das quatro li-

Nunca preferi seleção a clube. Sempre aconteceu. Aí criei esse perfil de seleção. É mais responsabilidade, você está envolvido com um país. Mesmo que o clube tenha uma torcida muito exigente, é mais fácil que dirigir a seleção brasileira.

nhas. Por que voltou?

Você dirigiu uma seleção brasileira campeã e outra

Cheguei a pensar que poderia sair mesmo. Mas não disse que sairia com todas as letras porque é difícil cortar um cordão umbilical de 40 anos. Passa a estar dentro de você.

que fracassou. O que faz uma seleção vencedora?

Quando começou a trabalhar na Traffic, você disse

Como foi seu trabalho na Traffic?

O trabalho ia começar agora, quando o centro de treinamento ficou pronto. Pouco fiz nesse tempo. O que eu ia fazer era dar cursos para treinadores, trazer jovens jogadores de fora e observar os daqui. Conversei com o Hawilla, e ele disse: “Vai lá, faz seu trabalho no Fluminense. Quando você terminar, a gente conversa de novo, se você quiser”. O que você fez para não misturar o Parreira da Traffic com o técnico?

Não teria condições de ficar ligado à Traffic, me desliguei totalmente. Se vierem críticas, serão completamente injustas e infundadas. Quando cheguei aqui, não trouxe ninguém. No futuro, posso até indicar alguém de lá ou qualquer outro grupo econômico, mas não vou indicar porque é da Traffic. 96

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Mesmo com os melhores jogadores do mundo, foram 24 anos entre um título e outro, sem nem chegar a uma final de Copa. O que leva ao título? São condições especiais, a química da vitória. Em 1994, fizemos uma Eliminatória difícil, mas fomos campeões. Em 2006, deu tudo certo até a Copa. Aí não deu mais, e não chegamos à final. Jogadores importantes como Ronaldo, Ronaldinho e Adriano não estavam no melhor de sua forma — e nunca voltaram a ser os mesmos. Você voltaria a comandar a seleção brasileira?

Para voltar à seleção, você tem de ser a bola da vez. E eu não sou. Tem mais é que dar oportunidade a caras novas. Já dirigi a seleção quase 130 vezes. E se fosse a bola da vez? Descartaria um convite?

Descartaria. Aceitaria comandar alguma outra seleção?

Nunca preferi seleção a clube. Mesmo que o clube tenha uma torcida muito exigente, é mais fácil que dirigir a seleção brasileira

Não saio mais do Brasil. Dificilmente saio do Rio. © F O T O A N D R E A M A R Q U E S / F O T O N A U TA

4/20/09 7:42:01 PM


moRTOSvivos POR DAGOMIR MARQUEZI

Flechada na alma O Brasil de Pelotas fez do uruguaio Cláudio Milar seu maior ídolo. Uma curva de uma estrada o transformou em um mito xavante Do site oficial de Cláudio Milar: No dia 15 de janeiro de 2009, Milar 12 janeiro 2009 — Cláudio Milar jogou um amistoso em Vale do Sol em boa atuação ajudou o G.E. Brasil contra o Santa Cruz do Sul. O Pelotas a vencer o primeiro amistoso oficial ganhou por 2 x 1. O uruguaio tinha da temporada 2009. O jogo foi contra jurado desde o fim de 2007 não bater a seleção do Chuy (Uruguai). mais pênaltis (quando cobrou três 16 janeiro 2009 — É com muito vezes no mesmo torneio na trave do pesar que nós, administradores do Caxias). Nessa tarde, quebrou a proBlog de Cláudio Milar, anunciamos messa: marcou de trivela, com o pé o falecimento do nosso eterno camisa direito. Foi o último gol de sua vida. 7 Cláudio Milar na madrugada desNa saída do jogo, um repórter de TV sa sexta-feira em acidente de ônibus perguntou se ele já tinha recuperado junto à delegação do G.E. Brasil. as chuteiras perdidas. Sorrindo, o boMilar: carreira interrompida em uma curva Roberto Cláudio Milar Decuadra nitão e sempre bronzeado Milar resnasceu no dia 6 de abril de 1974 no lado uruguaio da fronpondeu: “Sim, consegui. O rapaz que estava com ela levou teira, em Chuy. Seu início de carreira foi no Nacional de uma pressão muito grande da torcida, acabou devolvendo Montevidéu. Passou pelo argentino Godoy Cruz. Mas em e os gols voltaram. Está bem guardadinha, é uma chuteira 1998 veio para o Brasil jogar no Caxias. Tinha 1,78 metro histórica tanto para mim quanto para o clube, e eu às vezes de altura e talento para marcar gols. uso em ocasiões especiais”. Foi sua última entrevista. Depois Milar virou ídolo no Recife, tanto pelo Santa Cruz Pouco antes da meia-noite, o ônibus do clube seguia pela quanto pelo Náutico. Teve também uma ligeira passagem RS-471, próximo à cidade de Canguçu. Entrou numa curva pelo futebol carioca no Botafogo. A carreira de Cláudio Miascendente que levava à BR-392 para os últimos quilômelar tomou então um rumo bizarro. Alternou passagens entre tros rumo a Pelotas. Mas o motorista perdeu o controle. o Brasil de Pelotas e uma carreira internacional por times No alto da rampa, o ônibus capotou e rolou 40 metros pelo exóticos: Club Africain, da Tunísia (2001), o LKS Ptak, da barranco. Parou com as quatro rodas para cima. Polônia (2002), o israelense Hapoel Far Saba (2003-2004) O primeiro a sair foi o goleiro Danrlei, o ex-ídolo gree outro clube polonês, o Pogon Szczecin (2005-2006). mista. Antes mesmo de sair, ele já tinha visto que Cláudio Mas seu coração passou esses anos de século 21 plantaMilar havia morrido instantaneamente no desastre. Logo do em Pelotas. Lá estabeleceu a mulher Caroline e o filho chegou o resgate, e mais duas vítimas fatais foram enconAgustín. Ganhou uma camisa comemorativa ao marcar seu tradas no ônibus: o zagueiro Régis e o preparador de gocentésimo gol pelo Brasil-RS em 2008. Comemorou tanto leiros Giovani Guimarães. o gol que suas chuteiras desapareceram. Procurou-as por O dia 16 foi uma sexta-feira de choque e tristeza em Peum bom tempo, e foi até apelidado de Cinderela. lotas. Os três caixões foram levados sob aplausos de 2 000 A torcida xavante era devotada ao atacante uruguaio. Espessoas e velados no centro do estádio Bento Freitas. Em pecialmente desde a volta à primeira divisão do Gaúcho, seguida o corpo de Cláudio Milar seguiu para ser enterrado em 2004. Milar retribuía comemorando seus gols com uma no outro lado da fronteira, em Chuy. Seu plano era jogar até flechada imaginária em direção às arquibancadas. o centenário do clube, em 7 de setembro de 2011. 98

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