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Seca na Amazônia: tragédia ambiental global

Secas na Amazônia são fenômenos naturais, mas estudos indicam que estão mais frequentes e intensas devido às atividades humanas

As secas na Amazônia acontecem pela variabilidade interanual na circulação da água e variação da temperatura de superfície nos oceanos Pacífico e Atlântico. Fenômenos como o El Niño e o aquecimento da água superficial no oceano Atlântico são causadores de secas na Amazônia. No entanto, existem estudos que associam as recentes e as futuras secas na Amazônia com as atividades humanas tais como a perda de cobertura florestal, a degradação florestal e a mudança climática. De fato, existe uma tendência de aumento nos déficits de água no solo e na atmosfera na Amazônia, principalmente durante os meses de agosto, setembro e outubro em regiões do Pará e Mato Grosso.

Foto cedida por Diego Oliveira Brandão

Não é de hoje que a Organização Meteorológica Mundial (OMM) ligada à ONU vem alertando quanto às constantes perdas ambientais ocasionadas pelos incêndios e desmatamentos das florestas. Estas são cruciais para a captura de carbono da atmosfera. A região da América Latina e Caribe abriga 57% das matas do planeta e guardam 200 gigatoneladas de CO2. Isso vem causando a mudança climática que, por sua vez, ameaça a saúde pois prejudica o regime de chuvas e com isso a produção de alimentos, altera também a produtividade do setor energético e todo o sistema de ventos, essencial para disseminação de sementes e demais insumos necessários à manutenção da vida.

O pesquisador Diego Oliveira Brandão[i], em seus estudos de doutorado alerta para os efeitos deletérios das secas sobre os sistemas extrativistas e agroflorestais na Amazônia, clamando para que medidas urgentes sejam tomadas no sentido de reduzir os impactos negativos.

“As secas na Amazônia reduzem o fluxo de seiva e aumentam a mortalidade da vegetação”, inicia ele. Toda a seiva da planta é formada por água e elementos químicos essenciais como nitrogênio e fósforo. Estes, por sua vez, são absorvidos a partir do solo pela raiz para o sistema vascular (xilema[ii]) para o interior da planta. Pensando no quanto essa seiva é essencial para a sobrevivência de qualquer vegetação é fácil perceber a gravidade da redução na produção desse líquido vital.

Diego explica que quando da ocorrência de uma seca devido a um período de escassez de água, a redução no fluxo de seiva acontece devido à resposta da planta à combinação de embolia[iii] e fechamento estomático[iv]. Trata-se de uma estratégia para reduzir a perda de água da planta para a atmosfera. Mas tal fenômeno reduz a entrada de dióxido de carbono (CO2), comprometendo a produção de tecidos vegetais como folhas, frutos e sementes.

Foto cedida por Diego Oliveira Brandão

Ao se ver com menos seiva circulando, a floresta fica cada vez mais vulnerável aos incêndios florestais. A combinação de secas e incêndios florestais aumenta a mortalidade de árvores em mais de 200% na Amazônia. Entretanto, mesmo diante desse cenário devastador, há plantas mais resistentes aos impactos das secas, como algumas espécies de palmeiras e Vismia.

Foto cedida por Diego Oliveira Brandão

Os períodos secos também causam mudanças na composição de espécies e perda de biodiversidade na Amazônia. Portanto, as secas causam efeitos biofísicos significativos na vegetação. Por isso, os projetos de restauração florestal, bioeconomia, redução de emissões de gases de efeito estufa, viveiros florestais, sistemas agroflorestais e produtos da sociobiodiversidade estão vulneráveis frente aos efeitos das secas na biologia das plantas. Desse modo, as medidas de adaptação[v] são essenciais para reduzir os efeitos deletérios das secas sobre os componentes e sistemas extrativistas e agroflorestais na Amazônia.

Referência:

BRANDÃO, D. O. Mudanças climáticas e seus impactos sobre os produtos florestais não madeireiros na Amazônia. In: SIMPÓSIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SISTEMA TERRESTRE, 10. (SPGCST), 2021, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Anais… São José dos Campos: INPE, 2021. On-line. ISBN 978-65-00-33306-0. IBI: . Disponível em: 1 Biólogo, CRBIO 116152, Email: diegobrandao779@gmail.com

Fonte adicional:https://news.un.org/pt/story/2021/08/1760132


[i] Para ler o artigo original do pesquisador Diego Brandão https://biologiadaconservacao.com.br/cienciaemacao-medidas-adaptacao-amazonia

[ii] O xilema é um tecido vascular que distribui água e solutos pelo corpo de um vegetal. Ele é encontrado de forma contínua na planta, atravessando todos os órgãos e formando uma verdadeira rede de circulação de substâncias. https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/xilema.htm#:~:text=O%20xilema%20%C3%A9%20um%20tecido%20vascular%20que%20distribui%20%C3%A1gua%20e,rede%20de%20circula%C3%A7%C3%A3o%20de%20subst%C3%A2ncias.

[iii] A embolia é a formação de bolhas de ar no xilema causada pelo aumento da tensão de água dentro da planta durante a seca. O ar dissolvido na água se expande causando bloqueios que reduzem o fluxo de seiva dentro da planta.

[iv] O fechamento do estômato, por sua vez, ocorre quando acontece uma redução de solutos na células-guardas. A célula então perde água, e a pressão de turgor é reduzida. As paredes anticlinais retornam à posição normal, e a fenda estomática é fechada. https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/estomatos.htm

[v] Medidas de adaptação são iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima.