Isidro Ferrer

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A propósito do trabalho que temos vindo a desenvolver para Projectos – Pop-Up Shop – foi inevitável revisitar o trabalho de um dos autores que mais admiro dentro do Design e da Ilustração. Isidro Ferrer, na sua página (http://www.isidroferrer.com) é apresentado como “Ilustrador y diseñador por devoración”, que “actúa con la realidad de manera parecida a la máquina de hacer versos que imaginó el machadiano Juan de Mairena: por un lado entra el mundo, por otro sale la poesía. Se puede pensar que allí dentro se alberga uno de los grandes estómagos del planeta.”.

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O trabalho de Isidro Ferrer parece-me ser um óptimo exemplo para quando se fala em descontextualização e não tomar nada por garantido, procurando antes um questionamento contínuo sobre o que está à nossa volta. A forma como se apropria de objectos do quotidiano, objectos comuns e banais, e os transforma em algo novo, com muito para dizer é, para mim, o mais cativante da sua obra. Além disso, é um autor que, a meu ver, não se deixa cair na repetição. Pelo contrário, vai construindo, trabalho-a-trabalho, um vocabulário de imagens muito próprio, através do qual consegue criar interpretações renovadas, quer dos assuntos que trata, quer dos materiais/objectos/imagens que utiliza.

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“Entre a apropriação, a manipulação e a transformação, Isidro não trabalha só: priva com a persistência, convive com o sacrifício, relaciona-se com a dúvida, conversa com as horas a fio…

Isidro Ferrer não tira do nada, tira de tudo. É um sonhador vigilante – sobre o material e o imaterial, sobre o natural e o humano. Vigilante porque sonha acordado; acordado porque realiza com a cabeça e pensa com as mãos. Lembrando que são as mãos que fazem a arte, que “elas são o instrumento da criação, mas, antes do mais, o órgão do conhecimento”, Focillon refere que “o que distingue o sonho da realidade é o facto de o homem que sonha não poder criar uma arte: as suas mãos dormem. Enquanto o diabo esfrega um olho e Deus decide se dá a ver, Isidro deita mãos à obra: procura, encontra, ingere, digere, metaboliza. Desce em Viagem ao Centro da Terra, dá A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (ou A Volta ao Dia em Oitenta Mundos, para lembrar o seu querido Cortázar). E cada centímetro percorrido é matéria-prima para transformar em imagens, gestos, ideias, palavras, objectos, histórias. Como se tudo isto fosse uma e a mesma coisa. Entre a apropriação, a manipulação e a transformação, Isidro não trabalha só: priva com a persistência, convive com o sacrifício, relaciona-se com a dúvida, conversa com as horas a fio… privilégios de quem não confunde metodologia com prestidigitação ou design com epifania (o que não quer dizer que não nos confunda, tal é a sua capacidade de síntese). Servindo-se de uma sofisticada maquinaria retórica, fabrica um repertório cujos produtos nunca esgotam (apesar da procura!) nem saem de prazo (consumir antes de ver a data de hoje e de novo amanhã!). Quem vê uma das suas imagens, imagina a existência de centenas delas. Uma por todas e todas por uma: quem vê uma quer ver todas, quem vê todas quer mais uma.”

O Labirinto Translúcido, de Emílio Remelhe para Isidro Ferrer
in PLI * Arte & Design #1, Verão 2011

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