Política & Direitos
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Por Nívia Passos (@niviapassos)

Todo dia 8 de março é marcado por textões nas redes sociais. Homenagens e mais homenagens - de homens, principalmente - sobre a força de ser mulher. “Como vocês são maravilhosas! Trabalham em casa e na rua; estudam; arrumam tempo para tudo… inclusive para nós”, muitos dizem, como se estivessem fazendo muito em apenas reconhecer o mínimo. Flores. Chocolate. Mais textos e textos nas redes sociais. Um parabéns no Whatsapp também não pode faltar, só para registrar a lembrança. De repente, vale até um print para os stories para mostrar a desconstrução e valorização.

Seria lindo se nos demais 364 dias do ano, as mulheres não fossem vítimas de feminicídio. Se 52% das moradoras do estado de São Paulo não se sentissem inseguras quando andam de transporte público. Se 75% das pretas e pardas paulistanas não percebessem um aumento da violência de gênero nos últimos 12 meses, e 52.5% delas não vissem suas amigas ou outras mulheres próximas sofrendo o mesmo. Seria até bonito se não fosse necessário uma data comercial para que as mulheres - de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás… do Brasil e do mundo - fossem, de fato, vistas.

Os dados acima fazem parte do resultado da pesquisa “Viver em São Paulo - Mulher”, divulgada no dia 3 de maio com um evento realizado no SESC 24 de Maio. Na ocasião, além de dados mais detalhados do estudo, o público também pôde acompanhar uma roda de debate mediada por Jéssica Moreira - jornalista, escritora e co-fundadora do projeto “Nós, Mulheres da Periferia” - e com outros nomes de peso para discutir o assunto: Erika Hilton, vereadora de São Paulo pelo PSOL; Jéssica Paraguassu, fundadora do “Mulheres no Comando”; e Simone Luciano, consultora na “Mais Diversidade”.

Os dados da pesquisa foram divulgados no evento realizado no SESC 24 de Maio, que também contou com uma mesa de debate sobre o assunto — Foto: Reprodução/Instagram @redenossasaopaulo
Os dados da pesquisa foram divulgados no evento realizado no SESC 24 de Maio, que também contou com uma mesa de debate sobre o assunto — Foto: Reprodução/Instagram @redenossasaopaulo

O fato das mulheres se sentirem inseguras até dentro de casa, como apontaram os dados da pesquisa, mostrou a urgência do debate. “Toda a cidade tem que pensar a violência doméstica”, ressaltou Jéssica Moreira após a análise sobre o aumento dos casos durante a pandemia do Coronavírus. A vereadora Erika Hilton destacou, ainda, o problema do modelo de cidade atual empurrar certos grupos - como o de mulheres, negros e população idosa - à marginalidade. “A cidade que eu sonho é uma cidade onde esses grupos marginalizados possam pertencer”, aponta.

Um ponto importante levantado por Jéssica Paraguassu foi sobre como trazer a consciência dessa necessidade de mudança para quem já está confortável com a situação. Na mesa de debate, um caminho apontado foi o de discutir masculinidade em vez de levantar a questão apenas em rodas de mulheres. E mais: a pauta é para ser considerada em todos os dias do ano e não apenas no dia 8 de março. “O Dia da Mulher é um dia político. Não vamos trazer as discussões sobre esse assunto apenas no mês de março. É sobre provocar esse debate em todas as esferas”, enfatizou Simone Luciano.

Se acostumar com os números alarmantes de violência à mulher também não é uma opção. Para Erika Hilton, todos nós somos responsáveis pela mudança que se torna ainda mais urgente com a divulgação destes dados. “Todos nós somos agentes responsáveis por essa transformação. Nenhuma mulher pode ficar para trás! Que a gente não se acostume a olhar a dor e os números”, finaliza.

Que a luta aconteça em todos os dias do ano e não apenas no dia 8 de março — Foto: Getty Images
Que a luta aconteça em todos os dias do ano e não apenas no dia 8 de março — Foto: Getty Images

O desejo da Glamour é que assim seja: uma luta frequente em março, abril, maio… e em todos os demais meses do ano. E para te convidar a pensar sobre o assunto, reunimos aqui algumas matérias que já fizemos sobre o tema. Confira:

No 8 de março do ano passado, a colunista Betina Roxo refletiu sobre os avanços (ou não) na busca pela equidade de gênero

Uma reflexão sobre por que gênero, raça e/ou classe não podem mais limitar a presença de mulheres nos espaços que são seus por direito.

Em 26 de agosto, é comemorado o Dia Internacional da Igualdade Feminina. Para celebrar a importância da luta, listamos as principais conquistas do movimento feminista.

Representatividade importa - e muito! Aqui, você tem uma seleção de produções audiovisuais com personagens negras que fogem dos estereótipos.

Especialistas mostram a importância de aprofundamento no debate pelos direitos de todas as mulheres, considerando variáveis como gênero, raça e classe.

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