Internacional

Extrema-direita holandesa promove concurso de caricaturas do Profeta Maomé

28 agosto 2018 11:34

Margarida Mota

Jornalista

“Insulto não é liberdade”, lê-se neste cartaz, empunhado durante um protesto de muçulmanos contra a publicação satírica francesa “Charlie Hebdo”, em Londres, em fevereiro de 2015

stefan wermuth / reuters

O Senado do Paquistão condena a realização de um concurso de caricaturas sobre Maomé fomentado por Geert Wilders, líder da extrema-direita holandesa. Liberdade ou insulto? Está lançada a discussão – e a polémica –, enquanto não se conhece o cartoon vencedor

28 agosto 2018 11:34

Margarida Mota

Jornalista

Dentro de três dias, termina o prazo para apresentação de candidaturas a um concurso de caricaturas que promete levar a revolta às ruas do Médio Oriente — mais uma vez. Promovido pelo líder da extrema-direita holandesa, Geert Wilders, uma competição de cartoons sobre o Profeta Maomé terá o seu vencedor anunciado a 10 de novembro próximo.

Esta segunda-feira, o Senado do Paquistão adiantou-se à previsível controvérsia e aprovou, por unanimidade, uma resolução condenando a iniciativa. “Muito pouca gente no Ocidente compreende a dor que estas atividades blasfemas provocam aos muçulmanos”, afirmou Imran Khan, o novo chefe do Governo paquistanês, em funções desde 18 de agosto.

“Eu compreendo a mentalidade ocidental, já que passei muito tempo lá. [A antiga estrela do cricket estudou e despertou para o desporto em Inglaterra]. Eles não entendem o amor que os muçulmanos sentem pelo Profeta”, acrescentou.

No Islão, são proibidas as representações físicas de Deus (Allah) e do seu mensageiro, Maomé. No Paquistão, insultar o Profeta pode ser punido com pena de morte.

Imran Khan prometeu levar o assunto às Nações Unidas, já em setembro, quando discursar na Assembleia Geral, na tradicional maratona de discursos de chefes de Estado e de governo de todo o mundo.

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, tentou distanciar o seu governo da polémica, considerando a competição anunciada por Wilders — um crítico do Islão e da presença muçulmana na Europa — “desrespeitosa” e “provocadora”. Ao mesmo tempo, defendeu: “O objetivo é provocar ao invés de forçar um debate sobre o Islão. Wilders é um político que provoca e é livre de o fazer”.

Com sede na Holanda, a organização Cartoon Movement defendeu, num comunicado, a liberdade de expressão, mas não especificamente este concurso. “Para nós, a iniciativa de Wilders tem muito em comum com o concurso de caricaturas sobre o Holocausto organizado há uns anos no Irão. Em ambos os casos, é pedido aos cartunistas que ridicularizem um assunto concreto com o objetivo de insultar um grupo específico de pessoas” — os judeus, no caso do Irão; os muçulmanos, na iniciativa promovida por Wilders. “Nos dois casos, os cartoons são empunhados como uma arma política, para atacar um grupo específico. As caricaturas jamais deverão ser usadas desta forma.”

Os vencedores da competição serão anunciados em Haia, na sede do Partido para a Liberdade (extrema-direita), que Wilders lidera e que tem a segunda bancada mais numerosa na câmara baixa do Parlamento holandês: 20 deputados num total de 150.