Temperaturas extremas estão a ‘matar’ telemóveis na Sardenha: onda de calor sem precedentes obriga a mudanças nos hábitos na ilha italiana

Telemóveis que ‘morrem’ durante a gravação de um vídeo. Carros que assam por dentro. Ruas vazias no que seria tradicionalmente um movimentado centro turístico. Temperaturas que atingiram os 48,8°C.

De acordo com a ‘Bloomberg’, estas cenas tornaram-se normais em Cagliari, capital da Sardenha, cujos termómetros atingiram 45,9°C na passada quarta-feira. Um homem de 84 anos morreu no seu carro depois de parar na Sardenha na terça-feira, dias depois de outro homem, com metade da sua idade, ter desmaiado enquanto pintava marcações de rua para uma faixa de pedestres em Milão.

Uma onda de calor sem precedentes – chamada Cerberus em homenagem ao cão de várias cabeças do Inferno de Dante – continua a assar o Velho Continente, que tem colocado em risco vidas, meios de subsistência e infraestrutura crítica. A temperatura média mundial subiu acima de 17°C pela primeira vez a 3 de julho, de acordo com dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA. O planeta teve os seus 16 dias mais quentes já registados apenas em julho.

“Estamos no caminho para obter um recorde de três semanas para a temperatura média global e possivelmente o mês inteiro”, disse Carlo Buontempo, diretor do Copernicus Climate Change Service.

“No momento em que parou a brisa, ficou insuportável”, explicou Justin Valentine, turista americano na Sardenha. “Acho que nunca bebi tantas garrafas de água em tão pouco tempo”, explicou o triatleta. Temperaturas elevadas podem levar à desidratação, aumentar o risco de ataque cardíaco, derrame e problemas respiratórios. A exposição ao calor também é conhecida por piorar dores de cabeça, enxaquecas e interromper os padrões de sono, especialmente porque as temperaturas noturnas também permanecem altas, dando ao corpo muito pouco tempo para se recuperar do calor diurno.

O Ministério da Saúde da Itália alertou sobre condições de emergência em 23 grandes cidades, incluindo Roma, Veneza e Palermo. Cagliari tem o nível mais alto de alerta de calor do ministério – um alerta de ponto vermelho – até esta sexta-feira. As autoridades locais também aconselharam as pessoas a não se expor ao sol entre as 11 e as 18 horas, evitar atividades físicas extenuantes, manter-se hidratadas e usar roupas de cores mais claras.

O calor extremo deve-se ao anticiclone que chega de África todos os anos, referiu Carlo Spanu, tenente-coronel da Força Aérea da Itália. “Mas este ano é diferente”, disse. “O vento costuma durar alguns dias. Chegou há 10 dias e não parou. Estamos a aproximar-nos dos recordes de temperatura já registados na nossa ilha.”

O calor também tem afastado muitos turistas de um país cujo setor movimenta 20,51 mil milhões de euros. No entanto, embora o turismo esteja ‘lento’ em Itália, a indústria mais afetada pelo calor é a agricultura. As temperaturas elevados estão “a alimentar um repensar das colheitas e do que produzimos e vendemos na Sardenha”, friou Valeria Satta, funcionária do Governo regional com responsabilidade na agricultura – até porque a tendência de aquecimento dos últimos cinco anos levaram a uma invasão sazonal de gafanhotos. “As estações mudaram completamente”, apontou. “Devemo-nos preparar para um verão muito longo.”

Ler Mais