Diversifique-se

Por Liliane Rocha*


Liliane Rocha: para além dos meses comemorativos, é bom reforçar a necessidade de valorizar as mulheres e grupos minorizados de sua equipe todos os dias do ano,  — Foto: Divulgação
Liliane Rocha: para além dos meses comemorativos, é bom reforçar a necessidade de valorizar as mulheres e grupos minorizados de sua equipe todos os dias do ano, — Foto: Divulgação

É difícil refletir sobre as particularidades e peculiaridades que encontramos dentro de grupos que sofrem opressões sociais, que vivenciam as dores do racismo, do machismo, do capacitismo e da LGBTfobia em níveis estruturais, mas é necessário. A interseccionalidade talvez seja a fronteira mais profunda de compreensão sobre o abismo entre a nossa realidade atual e uma sociedade mais equânime.

Precisamos repensar a posição da mulher sob o aspecto de gênero e raça, o que me remete a um conceito importante introduzido por Simone de Beauvoir, que nos revela a mulher como sendo sempre vista como o “outro”, a partir da perspectiva do homem, e jamais como a si mesma.

Concordo! Mas eu, enquanto mulher e negra, peço licença à autora para acrescentar que a mulher negra é o “outro” não só na perspectiva do homem, como também da mulher branca, que ainda insiste em nos enxergar como uma unidade.

O estudo Diversidade, Representatividade e Percepção - Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, com esforço e esmero, nos traz dados interseccionais, buscando ampliar a consciência para que o mês das mulheres não seja, portanto, exclusivamente um período no qual pautemos somente mulheres, brancas, heterocisnormativas e sem deficiência.

Vejamos, em empresas que são referência em diversidade, segundo o estudo feito entre 2019 e 2021 com mais de 26 mil respondentes, temos que mulheres são 32% do quadro funcional. Porém quando mergulhamos nestes números, 88% são mulheres brancas, 9% são mulheres negras (sendo 7% pardas e 2% pretas), ou seja, número quase 10 vezes menor em termos de representatividade, seguidas por 2% de mulheres amarelas e 0,2% de mulheres indígenas.

Já em relação à diversidade sexual, 97,4% são heterossexuais, 1,5% lésbicas, 1,1% bissexuais. Ao todo 99,7% são cisgênero e somente 0,3% são transgênero. Quando falamos de deficiência, 99,7% delas são sem deficiência e 0,3% são mulheres com deficiência. Em relação à idade, apenas 7,6% são mulheres com 40 anos ou mais e somente 1,4% têm 50 anos ou mais.

Por isso, para este Dia Internacional da Mulher, pergunto, de que mulher sua empresa falará? Qual mulher sua empresa escolhe para representar toda a gama e singularidade das mulheres brasileiras, em comerciais, eventos, premiações ou para palestrar neste mês tão importante?

Enquanto continuarmos falando de mulheres LGBTQPIAN+ somente em janeiro (mês da visibilidade trans), em junho (mês do orgulho LGBTQPIAN+), em julho (mês da mulher negra latino-americana e caribenha), em agosto (mês da visibilidade lésbica e bissexual) ou em novembro (mês da consciência negra), e assim por diante, seguimos mostrando que não entendemos e não aprendemos nada.

Afinal, se quando falamos simplesmente –“Mês da Mulher” – há um padrão preponderante e único que vem à nossa mente, ou seja, uma universalização do que é ser mulher a partir da mulher branca, heterocisnormativa, sem deficiência, entre os 20 e 30 anos, e assim por diante, deixamos claro que, mesmo na tentativa de tratar o tema de diversidade de forma consciente e inclusiva, seguimos falhando, excluindo e marginalizando.

Se você quer realmente enaltecer as mulheres nesta data, e fazer dela um marco político de luta e afirmação da igualdade e da equidade de gênero, garanta que está abrangendo todas as mulheres com representatividade e proporcionalidade, em todos os cargos da empresa, em todos os comerciais e propagandas, em todos os serviços oferecidos, em todos os eventos realizados, em todas as palestras ministradas neste mês na sua empresa.

E para além dos meses comemorativos, é bom reforçar a necessidade de valorizar as mulheres de sua equipe todos os dias do ano, não só contratando, mas, principalmente, dando a elas as mesmas oportunidades de ascensão que os homens têm - além, é claro, de garantir a equiparação de salários entre homens e mulheres nos mesmos cargos ou posições dentro de sua companhia.

*Liliane Rocha é CEO e fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade, autora do livro Como ser um líder Inclusivo e premiada com o 101 Top Global Diversity and Inclusion Leaders

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