Acorda cedo, joga uma partida de ténis, faz uma longa caminhada na praia e termina a manhã reunido com um grupo de amigos no Bar do Henrique. É assim que
Alberto João Jardim passa as suas manhãs durante os 15 dias de férias que passa todos os anos em Porto Santo. Aos 67 anos, o presidente do Governo Regional da Madeira tem noção de que a sua resistência física não é a mesma. Por isso, após o almoço, gosta de dormir uma pequena sesta para, logo de seguida, passar pelo escritório e ‘despachar’ os assuntos mais urgentes.Ao fim da tarde regressa a casa e ao convívio da família. Casado há 42 anos com
Ângela Jardim, de 70 anos, os dois têm três filhos:
Cláudia, de 40 anos,
Pedro, de 37, e
Andreia, de 35. Foi ao lado do neto mais novo,
Pedro Afonso, de cinco anos – filho de Andreia -, que se deixou fotografar para a CARAS. A neta mais velha,
Carlota, de 12 anos, ainda se encontrava no Funchal com os pais, Cláudia Jardim e
David Gomes. Esta rotina viria, por certo, a ser perturbada dias depois, quando a queda de uma palmeira na ilha fez uma vítima mortal e dois feridos graves.
– É um ritual passar férias em Porto Santo?
Alberto João Jardim – Não é um ritual, é um sítio onde me sinto bem, onde consigo conjugar o não fazer nada com o fazer alguma coisa, porque à tarde consigo trabalhar um bocado no meu gabinete. Por outro lado, como ando o ano inteiro de um lado para o outro, não viajar nas férias dá-me a sensação de sossego. Não é uma obrigação, é uma opção, um prazer.
– E consegue reunir aqui toda a família?
– Primeiro estamos só eu e a minha mulher. O resto da família vem e vai, sem compromissos, não há datas estipuladas.
– Todos os dias faz a sua caminhada ao longo da praia…
– Sim, para um lado ou para o outro. Normalmente termino no Bar do Henrique, que já ficou célebre no continente por muitas, altas e poderosas coisas que se disse lá. O bar é tão célebre que uma vez o Dr.
Álvaro Cunhal disse em Lisboa que estava um golpe de Estado em preparação no Porto Santo, e tudo não passava de loucuras e farras que se disseram no Henrique e que a imprensa em Lisboa transmitia como se fossem declarações a sério.
– É nesse bar que se encontra todos os dias com um grupo de amigos…
– É a nossa universidade de verão que se reúne, e é a única que tem a segurança social em dia, paga os seus impostos e não recebe subsídios do Estado.
– A caminhada na areia, fá-la para se obrigar a fazer exercício físico?
– É uma forma de relaxar. Vamos conversando, às vezes há jornalistas conhecidos que se juntam e aproveitam para fazer o seu trabalhinho, mas sabem que é só naquele momento, depois, tudo o que se diz ali é em
off. Já passei alguns maus bocados por ter havido jornalistas de fora da Madeira que não perceberam nem respeitaram as regras do jogo, e essas brincadeiras de praia transformaram-se em sarilhos!
– Portanto, agora tem mais cuidado quando fala nessas ocasiões?
– Não, procuro que quem não conheço não vá. [A mulher faz uma expressão de aprovação…]
– E ouve a opinião da sua mulher?
– Eu oiço a opinião de todo o povo.
– Mas a da sua mulher deve ter mais peso?
– Obviamente, porque é casada comigo.
– Em tempos deixou entender que não se iria recandidatar…
– Antes de continuar a sua pergunta, deixe que lhe diga que é muito cedo para lhe dar essa ‘cacha’. Teria muito prazer em fazê-lo, mas ainda não tomei qualquer decisão. Estou a pensar na minha vida.
– Diz-se que vai tomar essa decisão durante estas férias…
– Eu só tenho congresso do partido em março ou abril.
– Mas poderia fazer agora uma conferência familiar. Para tomar uma decisão dessas terá de falar com a família?
– Só que a família não está toda, logo, não há
quorum.
– Mas seria importante falar primeiro com a família?
– Ninguém vai fazer uma conferência formal e solene, vai-se trocar impressões.
– Porque é importante a opinião e o apoio deles?
– Convém ouvir todas as pessoas.
– Tenciona um dia escrever uma autobiografia?
– Se tiver tempo.
– Houve uma biografia sua, não autorizada, que saiu há pouco tempo…
– Sim, e que é uma série de mentiradas, que vai ser denunciada publicamente porque estou a tomar as notas e depois vou dizer onde estão as mentiras. Aquilo não é uma biografia, é uma reportagem feita junto de dois tipos de módulos: um módulo foi de gente que não me grama e o outro foi passar em revista a imprensa destes últimos 30 anos. A autora fez uma reportagem e depois chamou-lhe uma biografia não autorizada. De facto é não autorizada, é um chorrilho de aldrabices, e é lamentável que neste país se possa falar da vida das pessoas sem autorização delas.
– Daí fazer sentido começar a preparar a sua biografia, escrita na primeira pessoa?
– É preciso que eu tenha tempo. As biografias na primeira pessoa são sempre complexas. No meu caso, tudo o que fiz na vida foi com paixão, de maneira que a biografia também terá que ser feita com paixão e, quando assim é, as coisas perdem objetividade.
– Não tem sequer tópicos para a começar a organizar?
– A metodologia é sentar-me no arquivo do jornal da região e passar os olhos no que sucedeu nos últimos 32 anos, porque tomando nota dos factos acabo por me lembrar muito bem do que se passou em cada circunstância. A questão agora é fazer o tal trabalho de pesquisa e depois desenvolver ponto por ponto, isto leva anos.
– Os seus netos começam a perceber a importância do avô nesta ilha?
– Penso que o Pedro ainda não percebe, mas a Carlota começa a perceber. Ela é muito reservada e, portanto, às vezes é difícil perceber o que vai na cabeça dela.
– Quando está junto deles fala de política?
– Com os netos é só brincadeira. Já tive que criar três filhos – a minha mulher, fundamentalmente, é que os criou -, agora os outros que criem os seus filhos.
– Que brincadeiras gosta de partilhar com eles?
– O que me dá na cabeça. Ensino-os a serem malcriados, não muito pesadamente.
– Gosta de mimar os netos ou tem pouco tempo para mimos?
– Uma coisa é a afetividade, outra coisa são baboseiras. Isso não é comigo.
– Mas é um avô afetuoso?
– Sim, mas nada de excessos nem baboseiras.
– E partidas de ténis? Gosta de jogar quando aqui está?
– Só consigo jogar aqui no verão. Faz-me bem. Já não jogo muito tempo porque na minha idade já custa, mas isto não há dúvida que desenferruja. É preciso é não exagerar, não forçar, ter noção da idade que temos.
– Começa a ter em atenção a sua idade?
– Começo a gerir a idade quando estou a jogar. Por exemplo, quando jogo com o filho ou os genros, sei que já não vou ao cantinho do campo buscar a bola, mas tenho de pô-los a correr o mais possível para os cansar.
– Parece estar ligeiramente mais magro…
– Acho que não. Eu também penso que estou, mas a minha mulher diz que não, que é para me desmoralizar, para afetar o meu ego.
– Quer dizer que não se costuma pesar?
– Nunca, quero é sentir-me bem.
– E em relação ao álcool? É conhecido por gostar de beber uns copos…
– Neste país exagera-se tudo. Gosto de me divertir, sou como sou, nunca escondi às pessoas a minha maneira de ser, agora, não gosto de excessos. Aguento muito a bebida, podia estar uma noite inteira a beber, mas assim que me dá uma pancadinha de sono, não insisto, não forço a natureza. Tenho uma filosofia que é: faz o que a natureza te deixa fazer. A partir do momento em que sinto que tenho bebida a mais ou que estou cansado, aplico a mesma regra do ténis: há que gerir o corpo. O corpo manda. O corpo pede cama, vou para a cama, pede alimento… por aí fora, e tome as suas conclusões.
– Faz também questão de fazer uma sesta após o almoço?
– Em férias, uma horinha de sono, até porque forcei mais a máquina: joguei ténis, nadei e fiz a caminhada na praia todas as manhãs, portanto, também se justifica. Lá está o corpo a pedir.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.