Vermes de 46 mil anos da Sibéria são descongelados e voltam à vida
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 31 de Julho de 2023 às 10h11
Em experimento internacional, vermes de 46 mil anos foram descongelados, após serem encontrados no permafrost da Sibéria, a cerca de 40 metros de profundidade. Após tanto tempo de inatividade, os nematóides voltaram à vida, se tornando o caso mais duradouro de criptobiose — capacidade de entrar em estado de latência — entre os vermes já conhecido pela ciência.
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Publicado na revista científica PLOS Genetics, o estudo contou com a participação de pesquisadores russos, da Universidade Estatal de Moscou, e alemães, do Instituto Max Planck e da Universidade de Colônia. Segundo os autores, o verme encontrado é de uma nova espécie, a Panagrolaimus kolymaensis.
Para determinar a idade dos vermes, os cientistas recorreram à datação por radiocarbono — um método utilizado para estimar a idade de materiais de até 60 mil anos. Através da análise, calculam que a nova espécie tenha vivido entre 45 a 47 mil anos, durante o final do período geológico Pleistoceno.
Verme milenar tem parentes vivos
Embora a espécie tenha vivido há muitos anos, os pesquisadores identificaram alguns “parentes” vivos, como a Caenorhabditis elegans. Ambas compartilham genes que estão ligados aos mecanismos envolvidos na sobrevivência em condições adversas.
Hoje, isso é estranhamente interessante, já que a C. elegans é encontrada em regiões temperadas, escondendo-se em frutas ou plantas podres, bem distante de qualquer temperatura congelante — isso analisando o seu habitat natural. Só que os dois tipos de nematóides passaram por experimentos de congelamento (-80 °C), onde se saíram muito bem.
No caso da Panagrolaimus kolymaensis foi possível observar que esses vermes passaram por um leve processo de desidratação. Em comum, as duas espécies produziram um tipo de açúcar chamado trealose, que está conectado a essa capacidade de criptobiose. Com o procedimento pouco comum no seu habitat natural, as larvas da C. elegans sobreviveram por quase 500 dias em laboratório, sem sofrer nenhum tipo de dano ao serem descongeladas.
"Nossas descobertas demonstram que os nematóides desenvolveram mecanismos que lhes permitem, potencialmente, suspender a vida em escalas de tempo geológicas", afirmam os autores em artigo. Até então, esta habilidade da C. elegans era desconhecida.
Criptobiose e o permafrost da Sibéria
Embora o recente caso de vermes que voltaram à vida tenha chamado atenção, este não é um caso isolado. Outras espécies já passaram pelo mesmo procedimento, com o mesmo sucesso.
Por exemplo, em 2018, vários nematóides ressuscitados do gênero Panagrolaimus foram datados em cerca de 32 mil anos. Naquele mesmo ano, outros vermes do gênero Plectus também foram descongelados da Sibéria, com idades estimadas em 42 mil anos. Além dos vermes, vírus de 48 mil já foram descongelados.
Com o avanço das mudanças climáticas, na Era da Ebulição Global, esses processos poderão ser desencadeados de forma natural, sem o controle dos cientistas dentro do laboratório. No pior dos cenários, a chegada de uma nova espécie poderá afetar e desequilibrar os ecossistemas existentes.
Fonte: PLOS Genetics e Instituto Max Planck