Em 8 de março celebramos mundialmente o Dia da Mulher, que visa colocar em foco as contribuições e conquistas das mulheres nos âmbitos social, cultural, econômico, político e tecnológico.

Anualmente, a Organização das Nações Unidas (ONU) escolhe um tema para o Dia Internacional da Mulher, trazendo à tona pontos que merecem ser discutidos e reforçando a importância dos direitos das mulheres e de assegurar que todas as meninas e mulheres vivam e atinjam seus potenciais plenamente.

 

Mulheres na ciência

Durante séculos, mulheres não puderam ingressar em universidades ou cursar certas disciplinas. Muitas cientistas foram ignoradas por instituições de pesquisa, pelos comitês do Prêmio Nobel, entre outros, e deixaram de ser reconhecidas pelo simples fato de serem mulheres. 

Segundo as Nações Unidas, as mulheres atualmente representam 33% dos pesquisadores, mas somente 12% dos membros das academias de ciências.

Conheça algumas das cientistas que revolucionaram a ciência e são exemplos de superação e perseverança nos meios acadêmicos.

 

Nettie Maria Stevens (1861 – 1912)

Ilustração do busto de Nettie Stevens e sua descoberta sobre os cromossomos sexuais

Nettie Stevens foi uma das primeiras mulheres com uma carreira dedicada à pesquisa nas ciências biológicas. Suas descobertas foram essenciais para a compreensão de como os cromossomos determinam o sexo.

Formada em biologia pela Leland Stanford University, Nettie se dedicou ao estudo dos cromossomos desde seu mestrado. Devido ao seu excelente trabalho, conseguiu uma bolsa para desenvolver seus estudos no Instituto de Zoologia de Würzburg, na Alemanha. Após terminar seu doutorado no Colégio Bryn Mawr, conseguiu uma posição de assistente no Instituto Carnegie, onde publicou seus mais importantes estudos.

Em 1903, Nettie Stevens teve seu trabalho publicado pelo instituto onde trabalhava. No artigo ela mostrava como a quantidade e tamanho dos cromossomos determinavam o sexo de uma espécie de besouro (Tenebrio molitor). Nos anos seguintes, a pesquisadora demonstrou que o mesmo conceito também era verdadeiro para outras espécies de insetos.

Nettie Stevens morreu em 1912 de câncer de mama. Seu trabalho desmistificou como o sexo biológico era determinado e deu início a diversos estudos sobre hereditariedade.

Barbara McClintock (1902 – 1992)

Ilustração do busto de Barbara McClintock que descobriu os transposons estudando milho

Barbara McClintock foi pioneira na área de citogenética e a primeira mulher a receber sozinha o Prêmio Nobel de Medicina, sendo considerada até hoje uma das pessoas mais importantes para a genética. Seus estudos levaram à descoberta dos transposons, os “elementos móveis” do DNA.

Sua formação em genética se deu na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, desde sua graduação até o seu doutorado. Posteriormente, durante seu trabalho no Instituto Carnegie em Washington, Barbara demonstrou que alguns trechos do DNA, chamados transposons, podem mudar de posição no cromossomo, alterando a ativação dos genes próximos a eles.

Essa descoberta foi negligenciada durante anos, até que outros estudos comprovaram a existência dos transposons em bactérias nas décadas de 1960 e 1970. Hoje sabemos que os transposons têm um importante papel na manutenção da variabilidade genética e estão envolvidos também no surgimento de doenças genéticas.

Em 1983, aos 81 anos, Barbara Mcclintock foi laureada com o Prêmio Nobel de Medicina, uma das poucas mulheres a receber essa honraria. Ela faleceu em 1992, aos 90 anos de idade, mas seu legado vive até hoje nas mais diversas pesquisas na área da citogenética.

A citogenética é uma área da genética que estuda os cromossomos, suas funções e alterações.

Rosalind Elsie Franklin (1920 – 1958)

Ilustração do busto de Rosalind Franklin que obteve a famosa "foto 51" que ajudou a elucidar a estrutura do DNA por raio X

Rosalind Franklin se formou em química na década de 1940 e se especializou no estudo de estruturas cristalinas. Sua pesquisa sobre a estrutura do DNA através de raio-X foi essencial para a elucidação da organização desse material genético

Rosalind se destacou por sua grande habilidade no estudo de estruturas cristalinas, o que lhe rendeu uma vaga para estudar a estrutura do DNA, desconhecida até então, na King’s College em Londres, como pesquisadora independente. Infelizmente, sua chegada foi mal interpretada por outro pesquisador, Maurice Wilkins, que acreditava que ela seria sua assistente. A relação entre os dois era conturbada e dificultava a colaboração entre as equipes.

Rosalind foi responsável pela famosa foto 51 que deu base ao modelo de estrutura do DNA em dupla hélice proposto por James Watson e Francis Crick, em 1953. Franklin apresentou suas descobertas sobre a estrutura do DNA em um simpósio que foi visto por Wilkins, Watson e Crick. Correspondências entre os três pesquisadores mostram que eles se basearam nos dados experimentais de Rosalind para propor a estrutura, que foi publicada sem o devido reconhecimento da pesquisadora.

Rosalind Franklin faleceu de câncer quatro anos antes de Wilkins, Watson e Crick receberem o Prêmio Nobel de Química pela descoberta da estrutura do DNA em 1962. Como o comitê do não concede premiações póstumas, Rosalind não foi devidamente reconhecida por sua contribuição. Até hoje a sua história é conhecida como uma das grandes injustiças contra mulheres na ciência.

Mary-Claire King (1946 -)

Ilustração do busto de Mary-Claire King que mapeou o gene BRCA1 causadoe de câncer de mama e ovários hereditários

Mary-Claire King é uma das cientistas mais influentes do campo da genética, contribuindo imensamente para o estudo da biologia evolutiva e de populações e pioneira no estudo do câncer hereditário de mama e ovário.

Formada em matemática e estatística, Mary-Claire se apaixonou pela genética durante seu doutorado e decidiu seguir carreira na área. Em 1975, dois anos antes do desenvolvimento do sequenciamento Sanger e décadas antes do surgimento das tecnologias de Sequenciamento de Nova Geração (NGS), ela demonstrou em um estudo publicado na revista Science que humanos e chimpanzés compartilham cerca de 99% dos seus genomas

A cientista dedicou boa parte de sua vida profissional ao estudo de genes causadores de câncer de mama e ovários hereditários em mulheres, e publicou suas primeiras descobertas em 1990. Até então não haviam provas de que o câncer pudesse ser causado por mutações herdadas. Seus estudos levaram ao mapeamento do gene BRCA1 e foram essenciais para a prevenção, diagnóstico e tratamento de cânceres hereditários.

A história de Mary-Claire King e a descoberta do gene BRCA1 foram retratadas no filme Decoding Annie Parker.

Jennifer Doudna (1964 -) e Emmanuelle Charpentier (1968 -)

Ilustração dos bustos de Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier que desenvolveram a tecnologia CRISPR de edição genética

A bioquímica Jennifer Doudna e a microbiologista Emmanuelle Charpentier foram as mulheres responsáveis pela descoberta de um mecanismo molecular de edição de DNA que rendeu a elas o Prêmio Nobel de Química em 2020.

Em 2011, Emmanuelle identificou que o sistema CRISPR/Cas encontrado em bactérias era acompanhado de uma molécula de RNA, chamada de trackRNA, que guiava o sistema para cortar sequências específicas do material genético de vírus invasores. E se esse complexo molecular que faz parte do sistema de defesa de bactérias fosse reprogramável?

A fim de testar sua hipótese, Emmanuelle e Jennifer iniciaram uma parceria para desenvolver uma metodologia de edição genética utilizando o sistema CRISPR de bactérias, mas que fosse reprogramável para qualquer trecho do material genético de qualquer espécie. O resultado foi uma metodologia simples, barata e versátil de edição genética publicada na revista Science.

As pesquisadoras fizeram história como a primeira dupla de mulheres a ganhar o Prêmio Nobel de Química. A premiação foi muito merecida dado a grande relevância da tecnologia CRISPR em diversas áreas da ciência, desde o desenvolvimento de alimentos resistentes à pragas até novos tratamentos para doenças genéticas.

Jaqueline Goes de Jesus (1989 -)

Ilustração do busto de Jaqueline Goes de Jesus a cientista brasileira que sequenciou o novo coronavírus pela primeira vez no Brasil em tempo recorde no mundo: somente 48h

Jaqueline Goes de Jesus é uma jovem pesquisadora brasileira que se destacou por liderar a equipe que sequenciou o novo coronavírus no Brasil pela primeira vez e em tempo recorde no mundo todo.

Biomédica e doutora em patologia, Jaqueline tem ampla experiência com o sequenciamento de genomas virais: integrou o Projeto Zibra que sequenciou o vírus zika, liderou a equipe que sequenciou o SARS-CoV-2 no Brasil, utilizando a metodologia Nanopore, e atualmente se dedica ao estudo dos vírus da dengue.

Jaqueline Goes de Jesus ganhou grande destaque em 2020 durante a pandemia do novo coronavírus. Sua equipe obteve o genoma completo do vírus em menos de 48h após a confirmação do primeiro caso brasileiro, tempo recorde no mundo até o momento.

Ela também é integrante do CADDE (Centro Conjunto Brasil – Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus), um projeto de monitoramento de epidemias para respostas em tempo real.

Apesar de ainda serem minoria no meio acadêmico e lidarem com as desigualdades diariamente, as mulheres são protagonistas do desenvolvimento científico no mundo todo.

Com esse post, deixamos uma singela homenagem a todas as mulheres que dedicam suas carreiras à ciência, em especial às nossas extraordinárias mulheres mendelianas que se empenham na missão da Mendelics de tornar o diagnóstico genético rápido, preciso e acessível.

Escrito por: Letícia Marcorin

Atualizado por: Nathália Taniguti, em março de 2024.

Revisão

Quais são exemplos de mulheres que contribuíram para o desenvolvimento científico mundial?

Dentre as mulheres que marcaram a ciência podemos citar Nettie Stevens, cujas descobertas foram essenciais para a compreensão dos cromossomos sexuais; Barbara McClintock, que descreveu os transposons; Rosalind Franklin, cuja pesquisa através de raio-X foi essencial para a elucidação da estrutura do DNA; Mary-Claire King, que descreveu o gene BRCA1, Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier, responsáveis pela descoberta de um mecanismo molecular de edição de DNA; e a brasileira Jaqueline Goes de Jesus, que sequenciou o genoma do SARS-CoV-2 em tempo recorde.

Quem foi a primeira mulher a ganhar sozinha um Prêmio Nobel?

Barbara McClintock foi a primeira mulher a receber, sozinha, um prêmio Nobel de Medicina, em 1983. A cientista descobriu os transposons, elementos genéticos móveis, que conseguem mudar de posição dentro de um cromossomo. 

Referências

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