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Por Diogo de Oliveira; Marcus Vinicius Gasques


Chery Tiggo 5x é um dos cotados pela Caoa Chery (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Chery Tiggo 5x é um dos cotados pela Caoa Chery (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte

Uma das novidades mais quentes do ano na indústria automobilística nacional é a compra de metade da operação da Chery do Brasil pelo grupo Caoa, anunciada neste mês. Pelo acordo firmado entre as empresas em Pequim (China), a brasileira pagará US$ 60 milhões para ter 50% das ações da filial, enquanto a matriz chinesa mantém a outra metade dos papéis. A meta com o acordo de "cooperação estratégica" é ousada: conquistar 5% do mercado local nos próximos cinco anos — até 2022.

Por enquanto, poucos detalhes da sociedade foram revelados. As empresas prometem anunciar os rumos da operação no início de 2018, incluindo planos para produtos e as fábricas de Jacareí (Chery) e Anápolis (Caoa). Mas as especulações sobre o futuro da nova companhia já começam a fervilhar. Será que a Caoa vai parar de produzir os SUVs da Hyundai? O que será feito na unidade de Jacareí? Conversamos com Mauro Correia, presidente da Caoa, e respondemos a seguir dez perguntas sobre a Caoa Chery.

Mauro Luis Correia, presidente do grupo CAOA (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Mauro Luis Correia, presidente do grupo CAOA (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte

Por que a Caoa comprou a Chery do Brasil?

É a pergunta elementar. À primeira vista, participar da operação da Chery parecia improvável e arriscado. Além de a Caoa estar vinculada à Hyundai e representar a Subaru, os negócios da marca chinesa estavam à beira do colapso. Mas, convenhamos, a Chery custará US$ 60 milhões, o equivalente a R$ 193,7 milhões na cotação atual, valor modesto perante o investimento de R$ 1,2 bilhão feito só para a construção da fábrica de Jacareí. Contudo, é importante lembrar que, apesar de produzir veículos da Hyundai, o negócio da Caoa se restringe aos contratos com a marca sul-coreana, enquanto a parceria com a Chery é societária e tende a se tornar um negócio maior a médio e longo prazos, com vínculo direto na produção, no desenvolvimento e na distribuição de veículos.

"Foram 18 meses de conversa. A questão não é o quanto custou a aquisição, mas o quanto será investido nos próximos anos. Não estamos comprando um bem, uma tevê, um celular, mas uma estratégia empresarial. Compramos parte da Chery brasileira porque é a maior montadora da China, a maior exportadora de veículos nos últimos 14 anos, tem um centro de desenvolvimento de última geração, uma engenharia altamente competente com profissionais do mundo inteiro, está desenvolvendo um novo ciclo de produtos altamente competitivos. Hoje a indústria mundial produz mais de 90 milhões de veículos por ano, e a China detém cerca de 30% da produção. Quando se junta a experiência da Caoa no mercado com uma base de industrialização tão robusta, tem muito potencial", explica Mauro Correia.

Tiggo 2 esteve no último Salão de São Paulo (Foto: Marcos Camargo/Autoesporte) — Foto: Auto Esporte
Tiggo 2 esteve no último Salão de São Paulo (Foto: Marcos Camargo/Autoesporte) — Foto: Auto Esporte

Qual o futuro da Hyundai-Caoa com o nascimento da Caoa Chery?

Esta é a grande questão do momento. A Caoa tem a representação oficial da Hyundai no Brasil desde 1999, e abriu sua fábrica em Anápolis (GO) em 2007, com um investimento de R$ 1,2 bilhão. Atualmente, produz na unidade os SUVs Tucson, ix35 e New Tucson, além dos comerciais HD80 e HR. Para todos os efeitos, a empresa brasileira segue firme e forte nos negócios da sul-coreana, uma vez que a Caoa também é dona de boa parte da rede de concessionários, tendo elevada participação nas vendas da Hyundai, incluindo o HB20, vice-líder nacional que é produzido em Piracicaba (SP) na fábrica controlada pela matriz da coreana. Mas tudo isso pode mudar nos próximos anos.

"Continuaremos produzindo ix35 e New Tucson, além de HD 80 e HR. O Tucson antigo segue em linha, é um modelo que fez um sucesso monstruoso e ainda existe grande procura por ele, mas vamos tomar uma decisão em breve sobre sua continuidade. A Caoa seguirá produzindo os Hyundai, mas vamos utilizar a capacidade das duas fábricas para as marcas. Teremos compartilhamento em Anápolis para Hyundai e Chery, e Jacareí será exclusivo dos modelos da chinesa", pontua Mauro Correia.

Chery Tiggo 7 é flgrado em testes no Brasil (Foto: Thiago Torres) — Foto: Auto Esporte
Chery Tiggo 7 é flgrado em testes no Brasil (Foto: Thiago Torres) — Foto: Auto Esporte

Afinal, a Caoa vai parar de produzir os SUVs da Hyundai?

O contrato entre os coreanos e a Caoa é periodicamente renovável — 2018 é próximo período de acerto. Hoje o grupo mantém dois contratos, um com a matriz na Coreia do Sul, que prevê a importação e a produção do Tucson e dos veículos comerciais, outro com a Hyundai Motor Brasil (HMB), que compreende as vendas da linha HB20 e do Creta por meio de concessionários Caoa. É uma operação complexa que não existe em nenhuma outra parte do mundo — a empresa emplaca mais de 4 mil carros da Hyundai por mês.

Só que a Caoa não tem licença para produzir novos modelos, e com o provável fim de linha do velho Tucson neste ano (até dezembro), a fábrica de Anápolis perderá volume — a ociosidade está em 60%. Por isso, a tendência é que a Caoa comece a produzir modelos da Chery na unidade goiana, que deve seguir dedicada aos utilitários esportivos. O problema é o risco de vazamento de informação técnica em uma linha compartilhada por duas empresas. Se a Hyundai se mostrar contrariada, isso pode representar o fim de produção para ix35 e New Tucson, que são modelos globais da marca. O contrato permite o uso compartilhado, mas a questão da confidencialidade técnica é um aspecto sensível.

"Hoje já mantemos a confidencialidade entre as três marcas que trabalhamos — Ford, Hyundai e Subaru. O que vamos fazer é produzir uma nova marca e administrar a confidencialidade com grupos diferentes, pessoas dedicadas a cada empresa. Temos um diretor para cada marca, e na parte técnica vamos manter isso, as informações e acessos são específicos para os profissionais. Não acho que isso possa oferecer algum impacto, sempre foi assim e continuará sendo", comenta o presidente da Caoa.

Sedã Arrizo 5 é outro que deve ser vendido no Brasil (Foto: Marcos Camargo) — Foto: Auto Esporte
Sedã Arrizo 5 é outro que deve ser vendido no Brasil (Foto: Marcos Camargo) — Foto: Auto Esporte

A HMB pode assumir a produção do ix35 e do New Tucson?

Não há movimento na Hyundai Motor Brasil quanto a assumir a importação de modelos ou mesmo produzi-los no país. Não haveria onde fabricar o New Tucson, já que a fábrica de Piracicaba (SP) está operando no limite da capacidade com a linha HB20 e o SUV Creta. O volume do New Tucson também não é expressivo para justificar a operação. Há estudos para uma ampliação da fábrica se o mercado continuar a dar sinais positivos, mas quando isso acontecer será para produzir um novo modelo.

A HMB pode comprar a fábrica de Anápolis?

Esta possibilidade está descartada. A unidade da Caoa em Goiás sequer tem funcionários da Hyundai. Sua construção foi feita com capital 100% nacional do grupo e possui capacidade instalada para 80 mil unidades com apenas um turno.

O que a Caoa vai fazer com a Chery?

A Caoa quer tornar a Chery mais conhecida dos brasileiros e, para tanto, investirá R$ 6 bilhões em campanhas de marketing e na expansão da rede de concessionários, que atualmente é composta por apenas 20 revendas. O plano é ampliar a malha para mais de 100 pontos em todo país. Com isso, o pós-vendas, um dos pilares mais frágeis da operação da Chery, subirá de nível. Mas não é só. Agora com 50% dos papéis da chinesa, a Caoa também participará diretamente na escolha dos produtos que serão comercializados no mercado brasileiro nos próximos anos. E a renovação será completa e imediata.

Quanto a Chery vende hoje no Brasil?

Atualmente o negócio da Chery no país é catastrófico. A fábrica de Jacareí, a primeira da montadora chinesa fora de sua terra natal, foi inaugurada em agosto de 2014 com capacidade de produzir 50 mil carros, podendo chegar a um volume de 100 mil unidades anuais. Mas a crise econômica destruiu os planos da chinesa, que hoje produz cerca de 30 carros por dia e soma pouco mais de 3 mil emplacamentos entre janeiro e outubro. Em participação de mercado, a Chery tem meros 0,2% das vendas e respira com aparelhos.

Chery QQ é o best seller atual da marca no Brasil (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Chery QQ é o best seller atual da marca no Brasil (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte

Em que produtos Chery a Caoa deve apostar?

Isso ainda é uma incógnita, mas é certo que a Caoa não fará aventuras. O mais provável é que as empresas apostem nos SUVs, dentro da tendência do mercado. E neste filão temos o SUV compacto Tiggo 2, exibido na última edição do Salão de São Paulo, há um ano. O modelo é uma versão aventureira do Celer e seria lançado neste ano, mas a parceria entre as empresas adiou a estreia para o início de 2018. Outros dois utilitários no radar são o Tiggo 5x, que seria o legítimo sucessor do Tiggo atual pelas proporções, e o médio Tiggo 7, com espaço interno maior, design moderno e cabine requintada. Estes são os três modelos da linha atual da Chery que parecem mais alinhados com o Brasil. Contudo, os automóveis não estão descartados, e devem surgir modelos como o sedã Arrizo 5.

"Temos produtos em desenvolvimento e já desenvolvidos, todos com potencial de vir para o nosso mercado. Vejo a Chery não como um copo vazio, mas cheio. Há um grande perfil, nós viemos reorganizando a Caoa, criamos um corpo de engenharia e pós-vendas mais fortes, fizemos um projeto de serviço e vendas, estamos bem preparados para o desafio. Fizemos uma avaliação muito positiva dos novos produtos que estão por vir e vamos trazer modelos altamente adequados. Não há 'frio na barriga' pela situação da marca chinesa, mas pelo projeto, todo projeto deste tamanho envolve riscos. Mas tudo foi bem planejado e estruturado, e vejo um potencial de sucesso muito grande", garante Mauro.

Compacto Celer não emplacou e tende a sair de linha (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Compacto Celer não emplacou e tende a sair de linha (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte

Como ficará a rede da Caoa com Chery e Hyundai?

O tema está em discussão, e parte das revendas Caoa pode virar bandeira Chery — não há restrição contratual quanto a isso. Mas essa troca não está nos planos da empresa, que quer expandir a rede. Hoje a Hyundai-Caoa tem 131 concessionários no Brasil e responde por 21% das vendas da marca sul-coreana no país. Por ser dona da lojas, a empresa pode fazer o que quiser, e as mudanças tendem a acontecer conforme novos produtos forem lançados — hoje não faz sentido fechar lojas com bandeira Hyundai para colocar QQ e Celer no showroom. Mas os lançamentos podem mudar isso.

"Não estamos pensando em trocar lojas de Hyundai, Ford e Subaru por Chery. Nós nunca paramos de investir na rede. O que temos agora é um plano de lançamento de novos produtos para 2018, quando começaremos a fazer a transformação. Não é tão simples e não dá para fazer essa virada num curto espaço de tempo. O lado positivo é que estamos trazendo produtos com tecnologias de ponta em segurança ativa e passiva, em construção e conectividade. Enfim, vamos colocar toda a nossa experiência em qualidade de serviço e vendas nesta nova rede. E teremos produtos altamente competitivos", reforça Mauro.

A Chery pode tirar o QQ e o Celer de linha?

A Caoa não comenta, mas esta possibilidade é grande, sobretudo em relação ao Celer, que nunca vendeu bem e segue produzido em Jacareí. É provável que as empresas optem por projetos mais modernos para a linha nacional da marca chinesa, o que coloca em xeque o pequeno QQ, que tem sustentado as vendas (é o carro mais barato do Brasil). Mas com ou sem o QQ, o fato é que a Caoa Chery vai trocar toda a gama de veículos nos próximos três anos, para renascer em definitivo no Brasil. "Vamos produzir os veículos da Chery em Jacareí e em Anápolis. Será uma operação grande", conclui o executivo.

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