Blog A Borda

Eu detesto cercas

Cercas de arame farpado dividindo campos e banhados

Reconheço a importância e a necessidade das cercas, sejam elas de madeira, pedra (taipas), de arame liso ou as famigeradas feitas de arame farpado. Como não tenho propriedade rural e, consequentemente não crio gado, ovelha ou cavalos, as cercas para mim são obstáculos, assim como o são para os animais de criação. Para mim elas quebram a paisagem, carimbando lugares distantes e ermos, seja em campo fora ou através de matas e banhados, como uma marca da presença e domínio do homem. Gosto de gauderiar pelos campos e matas atrás de bichos, plantas, paisagens e lugares incomuns e muitas vezes as cercas são um problema para mim. Há muito desenvolvi a técnica de cruzar cercas não por cima, como fazia e arriscava ficar preso pelos “documentos”, caso escapasse o grampo que prendia o arame de apoio do pé. Agora eu procuro um vão maior da cerca, entre o último arame de baixo e o gramado, que seja maior, e me deito ali deslizando para o outro lado, tranquilo e seguro sem medo de ficar espetado com um dedo ou rasgar as calças numa ponta do farpado, como muito me aconteceu.

Hoje resolvi dar uma campereada por dentro de uma mata úmida aqui perto da Borda, onde fiz alguns bons registros de árvores com coberturas de líquens e musgos em abundância. Andei tranquilo com o equipamento fotográfico, tripé, mochila e bastão de caminhada e saí no topo de um morro, no final do mato. Pensei descer pelo costado deste mato para ver se achava alguns nós de pinho e assim fui descendo pelo campo, que estava com grama alta, na altura dos meus joelhos. Avistei um touro vermelho no campo, a minha direita, que ficou me cuidando, parou de pastar e só ficou me controlando. Olhei para ele e disse que não se preocupasse, estava só de passagem, que já ia seguir adiante pelo costado do mato. Quando terminei este pensamento e me virei para frente, senti meu pé direito seguro em alguma coisa. Forcei o passo e a “coisa” não me soltou. Como era uma descida, perdi o equilíbrio e caí embolado numa depressão do terreno. Só lembro que caí meio de lado defendendo a cabeça por puro instinto, mas senti uma dor forte no joelho direito, o da perna que ficou presa, que bateu numa pedra. Minha câmera voou e se perdeu no meio do capim alto, saindo do tripé e quebrando a peça que segura um no outro. Fiquei deitado, quieto, analisando a situação e percebi que era só o joelho que me doía. Lentamente me levantei e firmei a perna. Aparentemente tudo no lugar, sem fratura ou rompimento de algum ligamento. Aí fui pegar a máquina, toda molhada do capim que ainda estava encharcado do sereno da madrugada, guardei na mochila, peguei o tripé, que estava mais adiante e fui ver o que tinha segurado o meu pé. Pois era exatamente o odioso arame farpada de uma velha cerca abandonada que ainda estava esticado, mas há muito já coberto pelo capim ficando completamente invisível.

Visão de um horizonte sem cercas, o meu preferido

Já odiava cercas ostensivas, estas de se ver e se contornar, mas uma cerca invisível, uma verdadeira trampa pronta a derrubar o primeiro que passar, esta ganhou todos os prêmios. Meu joelho inchou e dói muito quando articulo a perna, e vou avaliar nos próximos dias e ver da necessidade de procurar um médico. Acho que não vai ser o caso. Eu odeio cercas... (Em tempo: escrevi esta crônica no dia 13 de março, dia da queda. Hoje, 3 de abril, depois de colocar muito gelo e minha filha fazer umas fisioterapias milagrosas, estou novamente em forma e pronto para outra)

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