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Viscosidade, por que estudá-la?

Alexandre Barbosa Marques

Conhecer sobre a viscosidade dos fluidos é especialmente importante para os Técnicos em Mecânica porque suas atividades profissionais estão diretamente relacionadas a sistemas hidráulicos e pneumáticos em cujo desempenho a viscosidade muito influi. Técnicos que atuam em manutenção (automotiva, sistemas de automação hidráulica, etc.) e em instalações de Utilidades Industriais, incluindo sistemas de Refrigeração, freqüentemente envolvem-se com esta propriedade dos fluidos.

Conceito de viscosidade

De maneira bem resumida, Viscosidade é o conceito físico que mede o atrito entre suas moléculas enquanto os fluidos escoam. A viscosidade existe para fluidos líquidos e gasosos (ou vapores), mas tende a ser maior nos líquidos. No caso dos líquidos, a viscosidade tem origem na força de coesão das moléculas.


Imagine que uma quantidade de fluido esteja contida em um conduto e que esteja inicialmente parada. Ao iniciar seu movimento, as camadas de fluido correrão umas sobre as outras, a diferentes velocidades entre si. A experiência demonstra que as partículas mais afastadas das bordas têm velocidade maior que as outras. Na verdade, é possível estabelecer uma curva que mostra a variação da velocidade das diferentes camadas do fluido da borda até o centro do conduto. A fig. 1 ilustra este fenômeno.

Conforme podemos ver na fig.1, a velocidade da camada vizinha à borda do conduto é zero e varia até o seu valor máximo, que corresponde à camada do centro do conduto. A curva aonde as setas dos vetores das velocidades chegam, geralmente, tem a forma aproximada de uma parábola e é ela que descreve o perfil de velocidades do fluido no conduto.

Comportamento semelhante tem o ar que é impulsionado pelas pás de um ventilador. As moléculas que estão em contato direto com as pás têm velocidade nula, enquanto a velocidade das camadas mais afastadas tende a crescer até o limite imposto pelo trabalho do ventilador.

Existem dois tipos de viscosidade: a dinâmica e a cinemática.

A viscosidade dinâmica (ou absoluta) é calculada pela fórmula:

Não é muito comum aplicar a viscosidade dinâmica para os cálculos da maioria dos Sistemas Hidráulicos e Pneumáticos em que um Técnico em Mecânica de nível médio possa estar envolvido. O mais comum é a utilização da viscosidade cinemática, que é calculada a partir da fórmula abaixo:

Uma outra forma de interpretar o que seja a viscosidade é considerá-la uma medida da dificuldade com que um fluido escoa. Por exemplo, os óleos combustíveis, tais como os óleos APF (alto ponto de fulgor) e BPF (baixo ponto de fulgor) utilizados em caldeiras, apresentam altos valores de viscosidade, o que dificulta muito seu bombeamento. Já os óleos lubrificantes têm valores bem menores, relativamente aos óleos combustíveis.

Sendo assim, podemos avaliar a viscosidade dos líquidos medindo o tempo gasto para que uma determinada quantidade conhecida do líquido leva para escoar através de um orifício de diâmetro conhecido. Este processo descrito é, basicamente, o processo de medição da viscosidade com viscosímetros do tipo SSU (Saybolt Second Universal) e SSF (Second Saybolt Furol), ilustrados na fig. 2. A principal diferença entre os viscosímetros SSU e SSF é o diâmetro do furo no fundo. No SSF este furo é um pouco maior, pois este ensaio destina-se aos fluidos de viscosidade maior que o ensaio SSU. Em resumo, quanto maior o tempo necessário para o esvaziamento do reservatório, maior a viscosidade do líquido. Este ensaio é de fácil realização e o resultado é obtido imediatamente, tornando muito indicado para medições que não requeiram grande exatidão.

A viscosidade é uma propriedade do fluido que varia com as seguintes grandezas:

Temperatura – quanto maior a temperatura do líquido, menor será sua viscosidade.

Pressão – a viscosidade aumenta proporcionalmente a pressão para os óleos, enquanto que para a água é ao contrário.

Agitação – a viscosidade diminui com a agitação para gorduras e melaços, caracterizando estes fluidos como tixotróficos. Se a viscosidade aumentar com a agitação, como no caso de certas argamassas de argila, o fluido é chamado dilatante.

A tabela 1 mostra a variação da viscosidade cinemática da água em função da temperatura. Observe que os valores chegam a reduzir à metade, dependendo da variação de temperatura provocada.

Tabela 1 – Variação da viscosidade cinemática da água em função da temperatura [m²/s x 10-6]

0

1,79

12

1,23

24

0,92

36

0,71

2

1,76

14

1,17

26

0,87

38

0,69

4

1,56

16

1,11

28

0,84

40

0,66

6

1,47

18

1,06

30

0,83

60

0,47

8

1,38

20

1,00

32

0,77

80

0,37

10

1,30

34

0,74

22

0,96

100

0,29

A tabela 2 mostra valores aproximados para a viscosidade do ar a diferentes temperaturas. Estes valores também são aplicáveis para o gás oxigênio.

Tabela 2 – Variação da viscosidade cinemática do ar em função da temperatura [m²/s x 10-5]

20

1,4

80

2,3

40

1,8

100

2,5

60

2,0

120

2,7

Observe também que, enquanto a viscosidade diminui com o aumento da temperatura para os líquidos, no caso dos gases ocorre ao contrário.

Viscosidade e a lubrificação de automóveis

Você já reparou as informações dos rótulos das embalagens de óleos lubrificantes utilizados em automóveis? Lá constam, pelo menos, as seguintes informações, por exemplo: 20W-40. Você sabe o que isso significa?

De acordo com a Sociedade dos Engenheiros Automotivos – SAE – estas informações são relativas à viscosidade dos óleos lubrificantes. A primeira parte refere-se à viscosidade em dias frios ou com os motores frios (momento da partida). A segunda parte refere-se à viscosidade do óleo quando o motor já atingiu a temperatura de trabalho normal. Assim, o óleo em estudo pode ser classificado como multiviscoso, pois atende as exigências de viscosidade em faixas diferentes de temperaturas.

Mas cuidado! A viscosidade não é a única propriedade importante dos óleos lubrificantes. É preciso verificar outras exigências. Uma delas é a Classificação de serviço API, que mede o desempenho do óleo em condições específicas de teste. Estes testes consideram o nível de proteção, desgaste dos componentes, limpeza, contaminação, etc. obtidos com o uso do óleo que está sendo avaliado. Após os testes, o óleo recebe uma classificação API. Atualmente, algumas marcas de óleo lubrificante já atingem o nível SL, onde a letra S significa o tipo de veículo (no caso carros de passeio ciclo Otto – utilizam centelha) e a letra L significa a classificação propriamente dita.

No caso de veículos com motores diesel, a classificação API pode ser, por exemplo, CH, onde C é a inicial das palavras “comercial” e “compressão” e H é a letra da classificação propriamente dita.

As figuras 3 e 4 ilustram a evolução dessas classificações ao longo do tempo.


Fig. 3 – Evolução da Classificação API para veículos ciclo Otto.


Fig. 4 – Evolução da Classificação API para veículos ciclo Diesel.

Oportunamente, estudaremos a lubrificação de equipamentos mecânicos a baixas temperaturas.


Alexandre Barbosa Marques é professor da ETE República, Engº Mecânico, Mestrando de Tecnologia (CEFET-CSF-RJ), Engº de Desenvolvimento de Processos.


Bibliografia:

MACINTYRE
, Joseph Archibald. Bombas e instalações de bombeamento. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1997.
STREETER, Victor L. Mecânica dos fluidos. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1982.

Figuras extraídas do site
www.castrol.com.br acessado em 10/06/04.


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