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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O FANTASMA DA ÓPERA (MUSICAL)

Sob a direção de Joel Schumacher

"E quase impossível ler O Fantasma da Ópera sem sermos tomados por um conflito de sentimentos. A começar pela própria figura do Fantasma. O que ele nos inspira: medo ou compaixão?
E aqui convém superar a obviedade da deformidade do rosto do protagonista. SE nos fixarmos nessa cicatriz, sem enxergarmos a beleza que ela oculta, perderemos justamente as contraposições que tornam esse personagem tão forte, e sua história ao mesmo tempo trágica, assustadora... e comovente. O Fantasma é um personagem terrível. Mas apaixonante,"  (Luiz Antônio Aguiar)
 
É, sim. muito apaixonante.  Minha torcida foi por ele o tempo todo. Então, vamos na visão de Reflexão&Opinião, rachar o bico ou se emocionar em uma viagem triunfante.
 
Embora o fantasma tenha incorporado três armações esqueléticas, "de olhos tão fundos que só se vê buraco, e, que de perfil, não tem nariz, horrível de se vê", como cadáveres que permutam entre o céu, a realeza e o Homem, eu escavei esses mortos-vivos para libertar, se não aquele que espelha o gênio, o compositor, o arquiteto, o designer e o mágico.
Repugnante, pois, a realidade em que o perecimento e a deformidade não tem lugar nesse mundo de meu Deus.
Definindo-o, claramente e por encanto, nada melhor do que a música de Elis Regina - "Fascinação"
Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui              
E no teu olhar, tonto de emoção
Com sofreguidão mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria e entontece
És fascinação, amor
Dada a largada, que venha nos encantar o "Anjo da Música".  E assim atravessei...
O musical com algumas diferenças marcantes em relação a obra literária de Gaston Leroux, é extremamente magnífico na trama e no arranjo.  O que nos parece subentendido no livro, Joel Schumacher e Andrew Lloyd Webber, traduz em belas canções, reunindo uma densa gama de gêneros literários: comédia, tragédia, drama, história, sátira, terror e suspense, todos, emoldurados por assassinatos, tortura, medo, impunidade e traição.
A riqueza literária e interpretativa é vasta.  Por afinação, a proposta a seguir está inspirada no prólogo do Musical, que com propriedade, destaca objetos vendidos em leilão do que restou do patrimônio destruído na tragédia, assim como, destaca na arquitetura do Teatro, estátuas seminuas e cegas.
Para melhor compreensão, é necessário elucidar o que representa esses objetos antes do desenrolar da trama:
 
1. O Cartaz de "Hannibal"
Trata-se da peça de teatro a ser interpretada pela prima dona. Opera Síria, chama a atenção o cartaz... Conceituando a palavra "Hannibal", genericamente, pode-se dizer que sua origem é um nome Fenício: aquele que tem a graça Baal. De forma estendida significa canibal. Este último lembra a triste história vivida pelos Judeus e indica uma situação implícita no Musical bem semelhante a dois filmes e, dentre outros: "O Silêncio dos Inocentes"  e "Hannibal - a origem do mal".


2. A Pistola de madeira e três caveiras
Ai, Don Juan Triunfante! hum. A arma poderia ser uma alusão a câmara de tortura toda planejada pelo Fantasma em conluio com as três caveiras que se alternam entre o céu, a realeza e o homem de acordo com a conveniência. Entre as armadilhas que lá estavam, a mais praticada pelo Fantasma da Ópera era o " LAÇO PUNJAB" e, com reflexo a crimes com arma de fogo - "Príncipe dos estranguladores" e "Rei dos prestidigitador".

Manter a mão à altura dos olhos, braço dobrado em posição de atirar. (LEROUX, 2007, p.190)

3. Uma caixa de música de papel machê junto com um macaquinho em traje Persa que toca pratos
Em resumo, curto e grosso, este brinquedo é representação do inferno.
Nas palavras de Raul é: "uma peça de colecionador. Você vai continuar tocando mesmo depois que todos nós morrermos?" (o filme)
É isso! O inferno está bem vivo enquanto o céu desaba.
O brinquedo é uma criação do Fantasma que o acompanha desde a infância como um símbolo da vida humana e cruel vivida por ele dia após dia. Preso como um animal feroz. Refém de um mundo circense sem a permissão para amar - em um lugar onde somos todos atores.
Porque um MACACO?
Fácil deduzir! Não é este animal a origem e semelhança do Homem?
Para mim, "O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele." (Friedrich Nietzsche)
"Vivem nos países quentes, onde se alimentam de frutas e de sementes. São geralmente animais inteligentes, sociáveis e muito ágeis." E muito amáveis. "São os animais mais próximos do homem. Aquele que parodia, imita as ações dos outros, é um verdadeiro macaco." [1] (dicionário online português) Sagaz, astucioso.
O céu, a realeza e o homem, todos, mascarados. Nisso reside a canção que ressoa da caixinha de música: "Masquerade".
Um brinquedo de papel machê nas mãos do demônio. É o que somos.

4. O Candelabro
"Talvez possamos afugentar o espectro de tantos anos atrás com um pouco de iluminação". (o filme)
Com a queda do céu, a luz se apaga. As chamas se espalham rapidamente pelo teatro na ascensão do inferno.

O IMPÉRIO E SUAS PAIXÕES

Na sequência temos vistas do teatro em cores ouro e carmesim.
Nos bastidores, uma verdadeira estrebaria: Máscaras, bebidas, correria, espionagem e dança.
No palco, uma cena típica do Oriente Médio tinha a incumbência de colocar na berlinda a Roma antiga ao lado de Israel (por conveniência minha). Uma curiosa situação de conflitos por expansão do império nas regiões de Cartago, Ásia, África. Um processo Histórico que requer muito conhecimento para decifrar. A julgar pela cena da ópera e do musical, não resisto associar as regiões da Índia, do Egito, das "Arábias" e um processo sangrento em toda marcha imperial. Todavia, isso não cria legitimidade alguma na intenção do produtor do musical-filme e, sim, de parecer que está pronto para puxar as lanças e espadas no satisfazer suas conquistas e paixões. Uma espada se agitava no ar, em evidente procura de alguma coisa ou de alguém, e nesta máxima, um sultão... um rei Persa em uma noite de celebração. Pelo salvador! Pela Salvação! Parece Xerxes em 300?

Os nossos salvadores nos libertam da tirania de Roma! Com festas, danças e canções em noite de celebração. Saudamos a frota vitoriosa que voltou para trazer a salvação. Trombetas de Cartagena ressoam! Ouçam romanos! Agora tremam! São os nossos passos em marcha. Ouçam os tambores! Chegou Hannibal! É triste retornar e encontrar a terra que amamos ameaçada mais uma vez pelo domínio de Roma. Os amigos de Hannibal. Os elefantes ressoam. Ouçam, romanos! Agora tremam! São os nossos passos em marcha. Ouçam os tambores! Chegou Hannibal! (Overture&Hannibal - The Panthom of the Opera)
"Halo 4: em direção ao amanhecer", há uma passagem no filme sobre Hannibal da seguinte forma:
Um movimento de lanças foi a estratégia usada na segunda Guerra Púnica da Terra contra a República de Roma na Batalha de Canas. Hannibal ou General Cartaginês Aníbal, colocou seus homens de lanças e lançadores à frente. Atrás deles, os espadachins são protegidos pela cavalaria.
Quando os romanos atacaram, os espadachins de Hannibal recuaram. Para os romanos parecia que o recuo era devido a sua força, mas na verdade, Hannibal havia ordenado a retirada. E enquanto os romanos continuaram a forçar os espadachins para trás, a cavalaria de Hannibal avançou vindo de trás. Depois que os homens de Hannibal com as lanças chegaram, os romanos ficaram completamente cercados. As tropas romanas tinham 10.000 homens a mais, e mesmo assim, foram derrotados. Por quê? Excesso de confiança. Nunca subestime seus adversários. Nunca subestime o que vão sacrificar pela vitória. (do filme Halo 4)
 
LA CARLOTTA TEM QUE APRENDER ATUAR!

Tinha que ser tão exibida, gente? Irritante! Antipática! Escandalosa! Pois é, virou sapo. hahaha!
Prima Donna, Diva, Soprano por cinco estações, Carlota, na verdade, e apesar de imponente, era uma cantora amada por seu público. "Temperamental, se irrita pela ausência de um solo na nova produção da companhia, bem como, as exigências do Fantasma que se dizia dono do Teatro, então, decide abandonar os ensaios. Com a estreia marcada para o mesmo dia, os novos donos do teatro não tem outra alternativa senão aceitar a sugestão de madame Giry e escalar em seu lugar a jovem Christine Daaé, que fazia parte do coral."  (Christine Daaé por Eduardo Temperini)
Ordens! Advertências! Exigências bizarras são de praxe. Ainda haverá coisas piores do que estas!
Carlota "supunha alvo dos ardis do ciúme, e comentava em público que tinha um inimigo secreto que jurara arruiná-la. Cismava que havia um complô que explodiria qualquer dia. Mas não era mulher de se intimidar". Não tinha um perfil de quem era submissa as regras e ordens, por isso, fora repreendida pelo Fantasma transformando-se em sapo. A despeito de Christine, a quem ela chamou de "pequeno sapo", foi humilhada diante de seu público com problemas nas cordas vocais. De início ressoou traços fônicos em tom "KKKKKK", logo depois, foi inevitável o grasnar de um sapo medonho: croac croac croac.
"Croac!" Nunca batráquio em brejo algum, rasgou a noite em tão horrendo grasnar: "Croac!" O coaxar que suas cordas vocais produziam era um barulho infernal.(LEROUX, 2007, p.78)
Significa dizer que o Fantasma escolhe, aprova e reprova todos que não se alinham a órbita de seus planetas que estão sobre seu domínio gravitacional.
"Eu sou a música!", diz o Fantasma.

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam se tratar
De um outro cometa (Nando Reis)
Dessa forma termina a carreira... o sonho de Carlotta como soprano.

'A NOVA MARGARIDA"

Treinada pelo Fantasma da ópera, Christine assume o papel de soprano. Para a surpresa de Carlotta, "o espetáculo de gala fora incomparável. Christine Daaé revelara seu verdadeiro talento a plateia entusiasmada." Como anjo, "nunca ninguém ouvira nada igual." (p.22)
A música cantada por Christine Daaé foi um aceite ao convite do Fantasma a entregar sua alma ao "Anjo da Música". Christine entrega-se, alcança o sucesso e realiza seu sonho. Em troca, o Anjo da música enaltece seu ego, compartilhando na voz de Christine alto teor de perfeição material, moral e intelectual. Cantando, celebra-se um contrato:
Pense em mim com carinho
Quando nos despedirmos
Lembre-se de mim de vez em quando
Por favor, Prometa-me que irá tentar
Quando achar aquilo que tanto deseja
Venha buscar o seu coração e fique livre

E se tiver um momento
Pense um pouco em mim

Nunca dissemos que o nosso amor era perfeito
Nem imutável como o mar
Mas se ainda puder se lembrar
Pare e pense em mim

Pense em todas as coisas
Que passamos e vimos
Não pense em como
As coisas deviam ter sido

Pense em mim, quando acordava Silenciosa e resignada
Imagine me esforçando para afastá-lo de meus pensamentos


Lembre daqueles dias, Relembre aquela época
Pense nas coisas que nunca faremos
Nunca haverá um dia Em que eu não pense em você

As flores perecem, As frutas do verão perecem
Elas tem as suas épocas, Assim como nós
Mas, por favor, Prometa que de vez em quando,
Você vai pensar...


AAAAAAH

...EM MIM!

Christine previa seu futuro entre o amor de Raul e as paixões de um monstro. Seria uma escolha segura, confortável, eterna, feliz e sem medo. A música pretende induzir a reciprocidade do "Anjo da Música", caso sua decisão fosse a favor de uma vida normal ao lado de uma pessoa normal, e, financeiramente abundante.
Nas palavras do "Anjo da Música", conteúdo da obra de Gaston Leroux, diz:

Sua alma é muito bela, criança. Eu lhe agradeço. Imperador algum recebeu dádiva semelhante. Os anjos choraram esta noite.

A DESCIDA AO SUBTERRÂNEO
 
Será sonho novamente? Será o Céu? Ou Poder de Persuadir, Corromper a mente?

No sono ele cantou para mim, nos sonhos ele veio
Aquela voz que me chama
E diz meu nome
E estou sonhando novamente? Agora eu descubro
O Fantasma da Ópera está aqui
Dentro da minha mente (The Panthom of The Opera)
Havia névoas por todo camarim! Uma voz a cantar. A nova Diva "Vivia numa espécie de sonho vertiginoso que a voz comandava". (LEROUX, 2007, p.112)
De repente, Christine estava fora do camarim sem saber como. "A voz voava como um sonho" e,  "Nunca antes a beleza dos sons a absorvera daquele jeito." (idem)
Surge um homem de manto negro e máscara estendendo sua mão para conduzir Christine até o subterrâneo. Gentil, encantador, de uma delicadeza irresistível, a voz conduzia Christine pela escuridão segurando-a pela mão, enquanto a outra carregava uma tocha que iluminava  a galeria. Por onde passavam, as tochas fixadas nas paredes se transformavam em fortes braços animados e escravos. Por fim, chegara "ao coração dos abismos terrestres" (LEROUX, 2007, p.115). O Fogo e a brasa que "apaga o pequeno e inflama o grande". (Roger Bussy-Rabutin) Um cavalo a recepcionava... Estavam a beira de uma lagoa ilustrada por uma canoa ancorada. A escuridão ganhava luminosidade e vida! Christine entendia que "não havia nada sobrenatural". "Mas pense nas condições excepcionais que ela se abeirou da margem". (LEROUX, 2007, p.117) "O efeito de algum calmante teria terminado? O ar fresco do lugar estaria dissipando seu torpor?" O Amor a seduziu? (idem)
Um olhar penetrante e o barco a deslizar no escuro completo até chegar a outra margem. Inferno ou céu? Ali estava um fantasma que queria infernizar Deus.
Os móveis, as tapeçarias, as tochas, as cestas de flores e a iluminação a luz de velas, decerto, demandava um excêntrico que morava oculto nos porões do teatro cinco andares abaixo da superfície da terra (LEROUX, 2007, p.116)
De quem o fantasma se escondia? De sua Fealdade ou de Deus?
CÉU, REALEZA, HOMEM... Certo é que ele sempre está onde quer, faz o que quer.
O Fantasma pressiona Christine:
 
meu espírito e sua voz misturados em um só
O Fantasma da Ópera está aqui/aí
Dentro da minha/sua cabeça
a armadilha
Em todas as suas fantasias, você sempre soube
O homem e o mistério
E nesse labirinto onde a noite é cega
O Fantasma da Ópera está aqui/aí
Dentro da minha/sua mente
Cante, meu anjo da música!
Cante para mim!

Christine já não era dona de si. Era mero objeto nas mãos do fantasma! "Como foi que, percebendo o egoísmo da voz, não suspeitou de alguma impostura?" (LEROUX,2007)
 
O ANJO DA MÚSICA
Christine acreditava que esse Anjo era o seu genitor DAAE. Ao visitar o túmulo paterno, no cemitério de Perros, ela descobre que o "Anjo da Música" era o "Pai eterno", ou uma divindade, com capacidade intelectual tanto para o bem quanto para o mal. Um Anjo que vive em um "subterrâneo"? Imperioso entender que, "Anjo ou "Pai", "ali presidia, ora, uma partícula de pequeno diâmetro, muito fino de pão sem fermento, ora,  um fraque curto na frente, longo na cauda e uma gravata plastron de seda ou cetim, presa por uma pérola,  dono dos destinos de cada homem, cidade ou Estado", mais conhecido como o demônio. [2](Dicionário online Português)
1. O Pai Daae - guia e guardião
Era um grande músico! O melhor da Escandinávia  e ensinou Christine a "decifrar o alfabeto musical muito antes que ela soubesse a ler." Daaé sustentava que os grandes músicos e grandes artistas recebiam a visita do Anjo pelo menos uma vez na vida (LEROUX, 2007, p.51)
Isso explica porque Daae junto a filha, em épocas de festa, "apresentavam-se de aldeia em aldeia, recusando cama em pousada, e dormiam em celeiros, como quando pobre, na Suécia." 
Ninguém compreendia tal atitude de Daaé. Realmente não se reconhece a VIRTUDE quando não a tem. Daaé sabia que nada é de graça nesse mundo. Por trás de uma esmola tem sempre um "Anjo da Música" a te fazer pagar o que deve sem ter. Esta foi a primeira ADVERTÊNCIA/AULA DE MÚSICA que Christine teve DE SEU VERDADEIRO PAI.
Nunca se vê o Anjo, mas as almas predestinadas o ouvem.
Então, o ouvido percebe harmonias celestiais de que se lembrará a vida inteira.
As pessoas visitadas pelo Anjo ficam como inflamadas.
Vibram com frêmito desconhecido ao comum dos mortais.
Tem o dom de tocar um instrumento ou cantar, produzindo sons cuja beleza amesquinha os demais sons humanos.
OS QUE NÃO SABEM QUE O ANJO VISITOU ESSAS PESSOAS DIZEM QUE ELAS TÊM GÊNIO. (LEROUX, 2007, P.54)
 
Na infância, ao perguntar o Pai se ele ouvia o Anjo da música, Daaé, balançando a cabeça e fitando-a com um olhar brilhante responde a altura da criança que ela era: "você vai ouvi-lo um dia. Quando eu estiver no Céu, prometo enviá-lo a você." (LEROUX, 2007, p.54)
Daaé limitara-se a inocência daquela criança, ou talvez, em querer dizer que era ela o próprio "Anjo da Música" que ele ouvia. De outra forma, teríamos, então, dois "anjos da Música" misturados em um só. "Para quem persegue o fio da ação principal, mas deleitosos para o curioso da atmosfera social e do momento histórico em que Erik, O Anjo da Música, viveu" e conheceu Daaé. (Margarida Patriota)
Momento em que Erik e Christine cantam "Wandering Child", um nomeia o outro de Anjo: "Anjo da Música, você me recusou - Anjo da Música, eu te recusei."
Mal sabia Daaé que naquela conversa de Pai para Filha, a criatura subterrânea que a todos os lugares vagueia, escutava a tudo e, já planejando "uma maquinação diabólica, que nem por isso deixava de ser humana" roubou a titularidade para si. (LEROUX, 2007, p. 83)


A imaginação exaltada da jovem, sua alma terna e crédula, a educação tosca que cingira seus primeiros anos num círculo de mitos e lendas, o contínuo pensamento no pai morto e, sobretudo, o estado de êxtase em que a música a mergulhava, sempre que se manifestava a ela em certas condições excepcionais - como no cemitério de perros -, tudo isso parecia constituir terreno propício aos planos malévolos de alguma pessoa misteriosa e sem escrúpulos" (idem)

Christine havia de descobrir, por si só, as mentirinhas contadas para criança:
Você já foi O meu único companheiro
Você era tudo Que importava
Você já foi Um amigo e um pai
Até meu mundo Se despedaçar
(Wishing you were somehow here again)


2. O Pai eterno

Sonhar com você não me ajudará a realizar tudo que sonhei fazer. Sinos e anjos esculpidos, frios e monumentais. Eram para você companhias erradas.
Foram muitos anos lutando contra as lágrimas. Anos perdidos! Anjo ou pai? amigo ou fantasma? Quem está aí olhando? anjo, diga quais desejos intermináveis ecoam nesse sussurro? (Wishing you were somehow here again)

Ao singelo trono da música. A este reino onde todos devem homenagear a música. Onde a voz do Anjo preenche sua alma com um som estranho e suave. Onde a música faz a sua alma se elevar e ouvir como nunca havia ouvido antes. Esqueça tudo sobre a vida que conhecia até agora. Deixe que sua alma a leve onde você deseja estar. Flutuando, caindo em doce INTOXICAÇÃO. Toque-me, confia em mim. Saboreie cada sensação. Deixe o sonho começar. (Trechos de algumas canções)
Quem mais poderia ser uma farsa e um enganador? As chamas surgem em lugar da luz.

O BELO É FEIO: NO CIRCO, NO TEATRO. É A CASA DO DIABO
 
Decididos ou não a entrar no Jogo, "a ordem do próprio Fantasma é para nos comprometermos a ser amáveis com ele e conceder-lhe o que nos pedisse. Em Instituição dominada por tal sombra tirânica, na qual nossas mentes estavam despreparadas", a morte era certa. A história existe para nos lembrar que, sempre que desconsideraram os desejos do Fantasma, algum acontecimento funesto logo os traz de volta ao
sentimento da dependência em que estavam. Fazer careta, é uma delas. E QUE BAILE DE MÁSCARAS!








NA MIRA DE UM ASSASSINO?
O Fantasma da Ópera seria um assassino? Sim... Não.
Volvendo-se ao início do filme, precisamente, no leilão da pistola e  três caveiras "divisão do esqueleto em que estão compreendidos os ossos da face e do crânio, descarnados" [3] - Mencionei  o Céu, a Realeza e o Homem. Então, pode-se perceber que a intenção é a de decifrar três Fantasmas da Ópera. Se a questão é um assassino, diga-me: Quem é o assassino mais antigo do mundo? Qual desses é um animal político? Qual desses sobrevive escondendo a face? Qual desses alimenta-se de sátira e crueldade?
Pois bem, se algum desses possui esse perfil, ele é um assassino.  Mas se você escavar a vida injusta de um homem como Erik, oculto por uma máscara para se esconder do terror que o aguarda dentro de uma sociedade e pela sua deformidade, eu afirmo: NÃO! ELE NÃO É UM ASSASSINO. Primeiramente deve-se perguntar: As pessoas que ele matou são inocentes? Óbvio que não. Encontre nesse mundo(o subterrâneo) um SER HUMANO inocente, e eu, terei perdido a razão. Todos usam máscaras. A Música "Masquerade" quer mostrar exatamente isso. Vejamos:

Mascarados! Rostos de papel desfilando. Mascarados! Esconda o rosto para que o mundo nunca descubra. Cada rosto uma sombra diferente. Mascarados! Olhe em volta há outras máscaras atrás de você. Brilho cor de malva, pingo arroxeado. Bobo e Rei, Diabo e Ganso, Verde e Preto, Rainha e Padre. Um traço de vermelho, rosto de FERA. ROSTOS! É a sua vez, dê uma volta no carrossel, numa corrida desumana. Olho dourado, coxa azul. O Verdadeiro é falso. Quem é Quem? Lábio encrespado, vestido rodado. ÁS de Copas, Cara de palhaço. ROSTO! Bebam, bebam tudo até se afogarem na luz, no som. MAS QUEM SABE DIZER O NOME? Mascarados! Amarelos dissimulados, vermelhos brilhantes. Mascarados! Escolha o seu e deixe o espetáculo maravilhar você. Mascarados! Olhos intensos, cabeças que acompanham. Mascarados! Pare e olhe o mar de sorrisos à sua volta. Mascarados! Sombras em ebulição, mentiras sussurradas. Mascarados! Você pode enganar mesmo o amigo que o
conheça. Mascarados! Sátiras em ebulição, mentiras sussurradas. Mascarados! Você pode enganar mesmo o amigo que o conheça. Sátiros sorrateiros, olhos indagadores. Mascarados! Corra e esconda-se, mas um rosto o perseguirá. Que noite! Que multidão! Quanta felicidade! Quanto orgulho! Toda a nata. Nós os vemos, eles nos veem. Três meses de alívio, de prazer. De uma paz elísia! Podemos respirar! Basta de cartas! Basta de Fantasmas! Á saúde! Um brinde a um próspero ano aos amigos que estão aqui. E QUE O NOSSO ESPLENDOR NUNCA PEREÇA. ABENÇOADA LIBERTAÇÃO! E QUE BAILE DE MÁSCARAS!
O LAÇO PUNJAB
 
Pode ter sido a corda que enforcou José Buquet, e que tanto procuraram. (LEROUX, 2007, p.181)
Considerando toda a história do Fantasma que inicia em 1870, Christine e as outras dançarinas, eram menor de 18 anos e maior de 14, talvez. Lembrando o Personagem de José "Boca", oops!, digo, José Buquet, enforcado  em plena apresentação da Peça "Quermesse" ou "d'O Rei de Lahore" pelo Fantasma da Ópera, poderíamos deduzir que ele era um dos criminosos que se escondia pelos bastidores culpando o "Anjo da Música". Atitude bem comum daqueles que praticam crimes hediondos sucessivos. Com ar sarcástico, era um daqueles homens que olhava "pelo buraco da fechadura" as mulheres em momentos íntimo como nos bastidores das dançarinas, também, era admirador secreto de Christine - estuprador talvez! Faz parte da corja que acompanha as tramas do subterrâneo que ele vigiava. São Crimes Hediondos:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994) 
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) (...)
Crimes equiparados aos crimes hediondos: tortura, terrorismo e tráfico ilícito de entorpecentes.
A TRAIÇÃO DE CHRISTINE OU O AMOR À PROVA DE FOGO?

Sentia-me atraída, fascinada. Queria ser consumida por aquela paixão. Antes de morrer, contudo, queria ver as feições que o fogo da arte ia transfigurar. Quis ver o rosto da voz e, num ímpeto incontrolável meus dedos arrancaram a máscara. Oh, horror! (p.120)
Christine, entregue a sua maldita imprudência, curiosidade e paixão, retirou a máscara do Fantasma da ópera, que imediatamente, soltou um grito de dor tão intenso que "despertou a morte Vermelha, exprimindo com os buracos dos olhos, do nariz e da boca, a fúria soberana de um demônio sem brilho nas pupilas das órbitas oculares!" (LEROUX, 2007, p.120)

A imagem do espanto enfrentando a fealdade praguejando.

O Fantasma deixa Christine voltar para o camarim, mesmo consumado a primeira atitude de desconfiança entre eles; mesmo dizendo e cantando pra ela:

"Por que quis me ver, insensata?! Quando meu pai nunca me viu, e minha mãe me deu, chorando, minha primeira máscara!" (LEROUX, 2007, p.121)

"Agora Nunca mais poderá ser livre!"

"O medo poderá transformar em amor!"

"Você aprenderá a olhar, a encontrar o homem por trás do monstro desta repulsiva carcaça que parece um animal!" (I Remember - The Panthom of the Opera)

Seria apenas a curiosidade ou Christine precisava conhecer o rosto que a enlouquecia?

Não fugiu. "E devo dizer que não foram as ameaças dele, que a ajudaram a manter sua palavra. Foi o soluço dilacerante que deu à beira do caixão. Foi isso que a acorrentou ao infeliz mais do que ela supunha". (LEROUX, 2007, p.122)

Outras passagens literárias demonstravam que o amor verdadeiro de Christine era Raul, mas o chamava de "amigo" e evitava falar sobre seus sentimentos em relação ao Fantasma. Ei-las aí!

"Minhas mentiras foram tão horrendas quanto o monstro que as inspirou, mas eram o preço da liberdade." "Representei meu papel muito bem." (LEROUX, 2007, p.121)

"Ah, esta noite eu dei minha alma a você e estou morta!" (LEROUX, 2007, p.27)

"Se Erik fosse belo me amaria?", disse Raul.

"Infeliz! Por que provocar o destino, perguntando coisas que eu mesma escondo no fundo da consciência, como se esconde o pecado?" (LEROUX, 2007, p.122)

"Christine vamos fugir!" (LEROUX, 2007, p.110)

Um diálogo com Raul:

"Não, agora não - disse ela, balançando a cabeça com ar condoído - Seria cruel demais. Que me ouça cantar mais uma vez, amanhã à noite. Aí a gente vai. Você me apanha à meia noite no meu camarim. Nesse horário ele estará me esperando na sala do lago e você poderá me carregar. Mesmo que eu recuse ir, entendeu? Sinto que dessa vez, se eu voltar para lá, talvez nunca mais saia! - acrescentou com um suspiro que um eco atrás pareceu repetir.
(idem)

"MAS A VOZ PREENCHIA A MINHA ALMA COM UM SONHO ESTRANHO E SUAVE."

Ao final, na peça "Don Juan Triunfante, Christine, a contragosto, se une a Raul para destruir o reinado do Fantasma para sempre. E lá, bem no "infinito onde se movem os astros, na morada da divindade e dos bem-aventurados"
[4], onde vivem os anjos, afirma:
Não há mais nada em que pensar. Eu já decidi. A partir de agora não tem mais volta. Não há como voltar atrás. A nossa peça sobre paixão finalmente começou superando todo pensamento de certo ou errado. Uma pergunta final: Quanto tempo nós dois ainda temos que esperar para nos tornarmos um só?

Do Céu para o Céu, O Anjo da Música pede que ela diga que:

"compartilhará com ele, um amor, uma vida"

Pede a ela: "guia-me e salve-me desta solidão." Aonde quer que você vá deixe-me ir também." Christine! É só o que eu peço a você..."

Em público e pela segunda vez, Christine arranca a máscara fazendo-o voltar para o "calabouço de seu desespero", "mergulhando fundo na prisão de sua mente", "descendo à escuridão tão profunda quanto o inferno".

Sem qualquer palavra de carinho, sem qualquer tipo de compaixão,
Christine! Por quê?

Porque embora Christine pratique um ato de traição ao arrancar a máscara do Anjo da Música, seu desejo era descobrir a beleza que ela oculta. Descobrir as contraposições que existe em um monstro terrível, apaixonante, isolado, insensível e invisível. Descobrir a capacidade de um monstro AMAR, mesmo após tamanha traição, humilhação e total destruição. Descobrir o que a divide: se a "fascinação pela genialidade musical e o medo que lhe inspira o amor obcecado e loucamente possessivo que ele devora", descobrir que o AMOR é verdadeiramente sublime e correspondido, ou, descobrir que é MEDO... MEDO DE AMAR UM MONSTRO, COLECIONADOR DE "ROSAS VERMELHAS QUE PARECEM DESABROCHADAS POR MILAGRE NA NEVE."
"Esse rosto assombroso não me causa mais horror. É na sua alma que está a verdadeira distorção." (Musical)A ESCOLHA

Retirada a máscara do Fantasma, o céu e o inferno se confundem em uma vazante inigualável na formação de um crânio descarnado solidificando sua verdadeira identidade. "Um assassino louco, predador de seres humanos, de pessoas normais, cuja vida toma sem razão, aleatoriamente, apenas porque estavam em seu raio de alcance" [5] ou diversão. Christine vê uma "mera máquina de matar" que lhe impõe uma aliança, dizendo:

Já saciou, finalmente, o seu desejo por sangue? Agora, serei eu, o seu desejo pela carne? Anjo da Música, você me enganou. Entreguei-lhe minha mente sem questionar. Pobre criatura da escuridão! Que tipo de vida conhece? Deus me deu coragem de lhe mostrar que não está sozinho... (musical)
As palavras de Christine aqueceram aquela "fria e insensível luz" com tanto vigor, que o Anjo da Música retornara do céu, logo, inundado de sentimento e afeição, deixando Raul e sua amada viverem livres e juntos.
Expurgada a carcaça de monstro, inconsolado, o Anjo da Música canta:

Mascarados! Rostos de papel desfilando. Mascarados! Escondam seus rostos, para que o mundo nunca o encontrem.(Masquerade)

 
Christine ouvia a triste voz com compaixão que também declarou seu Amor. Sem palavras, Christine, generosamente, e da mesma forma que o monstro, devolve a aliança rompendo-se definitivamente. Parece mais um casamento!?
Ao partir, e na presença do Anjo da Música, Christine canta para Raul como se estivesse pedindo uma promessa:
"Diga que compartilhará comigo um amor, uma vida."
"É só dizer que eu a seguirei, diz Raul."

A seguir e olhando para trás em direção ao Anjo da Música, também canta:
"Divida cada dia comigo. Cada noite, cada manhã."
"Somente você pode fazer com que a minha canção alce voo, diz o Anjo."

Olhar para trás seria apenas um ato de compaixão? Ou "um impacto indelével que uma vida pode ter sobre outra"?

Como se envolver com uma criatura da escuridão?

"O HOMEM POR TRÁS DO MONSTRO"

"Não sou um anjo, gênio ou fantasma. Sou Erik." A humildade do gesto. A coragem na fraqueza. A delicadeza na brutalidade. A luz na escuridão. Amor incondicional.  Sedução! 
Também, não era um assassino.  Se cometeu crime, foi em legítima defesa e pelas leis da natureza. Não conhece o sistema? O Céu é perdão e misericórdia. A realeza defende seus próprios atos e o Homem... é melhor ser amigo do diabo. Chamam-no de monstro! De fantasma! Juízes por todos os lados, os maiores culpados. "A luz circundante era bem fraca, mas, por ter saído da escuridão, não conseguem distinguir a forma das coisas." (LEROUX, 2007, p.174)
No "Jogo de órgão", que não era um "instrumento musical, o edifício da Ópera e o próprio palco eram iluminados a gás hidrogênio".(LEROUX, 2007, p.175) Quanta combustão, meu Deus! Onde está você, ERIK? "Aqueles que falam o que sabe, descobrem, tarde demais que o silêncio é mais prudente".  CALAR jamais!
"Uma saleta perto do palco era reservada ao chefe da iluminação, que dali dava ordens aos ajudantes e supervisionava o cumprimento delas." Ora o Patrão, ora o criado. Dormem profundamente o céu, a realeza e o homem. Que história curiosa! Houve interferência no serviço da iluminação... sequestro! Ideia excêntrica! Sequestrar no palco em plena apresentação? Onde está você, Erik?
"Passirino, fiel amigo. Mais uma vez recite o plano. Acreditem! Os convidados creem que eu sou você. Eu, o patrão, Você, o criado. Meu chapéu, capa e espada. A conquista é certa, mas não posso esquecer que não posso rir". (Don Juan Triunfante)
"Voltando para os prodigiosos porões embaixo do palco." Erik "devia estar no fundo da bacia, a grande profundidade, considerando que quando se construiu a ópera, a terra foi cavada quinze metros abaixo do lençol freático". (LEROUX, 2007, p.189)
Pobre Erik! Culpado! O silêncio Pesado! Terá que drenar toda a água!
Era, também, a cicatriz, a doença e deformidade de toda sociedade.

O MONSTRO POR TRÁS DA MÁSCARA
É guerra!  Justificável e bela. "Era a tortura surtindo efeito num espírito desprevenido." 
"Toque nos espelhos porque, pelas leis da ótica, o iluminismo que nos cerca, não podemos nos tornar vítimas, como qualquer pessoa ignorante."(idem) A pretexto do ser solidário, amigo e bondoso, encontrava-se neste, "Criatura que quer nos arrebatar de nosso mundo,  de nossa vida, e submeter-nos aos seus desejos. Também, sua beleza tem um lado terrível: deformado." (LEROUX, 2007, p.207) "Aí, o azar é para muitos da espécie humana!" (LEROUX, 2008, p.187)
Santo Deus! É uma comunhão de impostos... 20.000 libras! Ordens! Advertências! O Camarote nº 5 é propriedade exclusiva. "Era um pouco de vida entre os mortos, pois a morte lá reinava. Ela transbordava da terra que regurgitava seu excesso de cadáveres. Centenas de crânios e esqueletos amontoavam-se na parede da igreja, retidos tão somente por um fino alambrado que deixava à mostra o entulho macabro." (LEROUX, 2007, p.59-60) Caveiras empilhadas, alinhadas como tijolos cimentados por ossos esbranquiçados. Na ópera, "ligava a memória do Pai ao brilho do último triunfo na ópera. Nenhuma criatura humana canta como você cantou na outra noite, sem a intervenção de um milagre, sem que o Céu tenha interferido," (LEROUX, 2007, p,61)
DO RIDÍCULO AO SUBLIME
Bichos, saiam dos lixos. Baratas, me deixem ver suas patas;
Ratos, entrem nos sapatos Dos cidadãos civilizados.
Pulgas, que habitam minhas rugas.
Oncinha pintada, Zebrinha listrada, Coelhinho peludo, Vão se foder!
Porque aqui na face da terra Só Bicho escroto é que vai ter!
Bichos escrotos, saiam dos esgotos. Bichos escrotos, venham enfeitar... Meu lar, Meu jantar, Meu nobre paladar. (Bichos Escrotos - Titãs)

É o circo! É o teatro. É a casa do diabo!
"Pelo medo da chuva e da lama", "Pelo chicote dos domadores". [6] Um banzé de risos e comentários, pois, são bichos mais podres que os "nobres pecadores". Estão pendurados com um "Laço Punjab" até pescoço. É osso! Intestinos abrigando vermes excretando a própria sorte. "Filhos da mesma agonia!" [7]
Venham ver! É o circo! É o teatro. É a casa do diabo! Estão fedendo a vagabundo que não quer ver.
Fumo de rolo, não como, não durmo. Estou ficando cego e surdo.
"Precipitaram-se em tumulto, umas, com risadas forçadas, outras, com gritos de terror."
Venham ver! É o circo! É o teatro. É a casa do diabo!
Tanta crueldade que só pode vir da Humanidade. São tolos escravos. Mascarados!

Este rosto, esta infecção. A vida lhe condena pela imperfeição. Seu primeiro "trapo de roupa e o mundo não mostrou compaixão". "As lágrimas que possa ter derramado pelo trágico destino", só os anjos do inferno respeitarão. "Pobre criatura da escuridão!" Como animal, era açoitado e enjaulado. Morto-vivo entre ciganos, aprendeu truques e magias, onde encontraria "a chave do enigma" de um grande tenor "cantando como nenhum mortal jamais cantou". "Cedo fugiu da casa paterna onde sua feiura era objeto de horror para os próprios pais." (LEROUX, 2007, p.228)

Erik! Tinha um nome a zelar e nos subterrâneos do teatro foi parar. Céus! Ergueu as mãos ao espaço infinito que parece abóbada celeste acima de sua cabeça, procurando se esconder. Ao ver-se no firmamento, "dominou seu temperamento artístico e sonhou construir para si um lar ignorado do resto da Terra. Um que o escondesse dos olhares humanos." (LEROUX, 2007, p.230)
Tornou-se o "Anjo da Música".

"Em um rosto comum, teria sido dos mais nobres da espécie humana. Tinha um coração capaz de abrigar o mundo, e no, fim teve de contentar com um porão. Acreditando-se fora da humanidade, não era tolhido por escrúpulos e usava os dons extraordinários  que compensava sua feiura atroz, explorando "os humanos", de maneira artística." (LEROUX, 2007, p.229) 
Exploração muito bem paga ao Anjo da Música, que por sinal, é digna dos Arquivos Nacional de Música. Se observamos o trecho acima, perceber-se-á, que, "explorando os humanos", terá um sentido conotativo ao imaginarmos um oponente dos Céus - "O Fantasma da Ópera". Aqui, sim, encontraremos uma "maquinação diabólica que não deixa de ser humana",  capaz de tudo e sem limites para satisfazer seus anseios de civilidade. "Não hesitar-se-á falar de quem é bom e quem é mau". (LEROUX, 2007, p.237) Um assassino, um predador, um ventríloquo universal, um ator, uma cicatriz errante e imortal, um criminoso, cujo personagem, qualquer cidadão gostaria de exterminar.
Erik, um anjo de fato. Renunciara ao amor, a vida e a Terra. A verdadeira beleza está oculta aos olhos da Diversão.


Erik, mostra o rosto sem medo! Você é o mais horrendo e sublime dos homens! (LEROUX, 2007, p.121)

 

 DOM JUAN TRIUNFANTE

Passirino, fiel amigo. Mais uma vez recite o plano. A conquista é certa. Passirino, pode ir que armadilha está pronta e aguarda por sua presa. (Don Juan Triunfante) Você veio até aqui por um motivo apenas. Para me servir e para cantar a minha música. A escuridão agita e desperta a imaginação. Silenciosamente os sentidos abandonam as defesas. Suave e gentilmente a noite estende o seu esplendor. Pegue, sinta, trêmula e suave. Esconda o se rosto da ostensiva luz. Esconda os seus pensamentos a fria e insensível luz e ouça a música da noite. Feche os olhos e entregue-se aos seus mais obscuros sonhos. Abra a sua mente. liberte suas fantasias. Nesta escuridão que você sabe que não pode combater. A escuridão da música da noite através de um mundo novo e estranho (The Music of the Night - The Panthom of the Opera)
O sabor pela guerra, pelo sangue e pela carne.
"Selvagem...SELVAGEM... SELVAGEM"
Aqui o patrão pega a carne. Aqui o cordeiro do Sacrifício emite um balido desesperado. Pobre donzela!  Pela emoção em sua língua dos sabores roubados. Mesas, planos e donzelas dispostos. Don Juan Triunfante mais uma vez.
A transcendência do Céu revestida por hipócritas que adulteravam o único e incomparável propósito da existência humana de "paz elísia".

O ÚLTIMO DUELO

O que você levaria para o túmulo de quem ama?

1854 - 1917. Esposa e mãe - uma Rosa amarrada por um laço e um anel brilhante e que nunca poderá desabrochar sem influência de alguém. Uma Aliança desfeita de um lado, Uma caixa de música com um macaco em traje Persa tocando pratos e simbolizando o inferno, do outro. Irônico demais, não é. Atípico até! De soprano a simplicidade do lar. Nada mais. Visitar o túmulo da pessoa amada abrange reviver bons momentos pretéritos e, exteriorizar no tempo presente. Ao que tudo indica, para Christine, foi um último duelo entre Raul e o Fantasma. Os suspiros de Raul revelara algo mais que a saudade! O que teria faltado em tão grande amor compartilhado? Observando os objetos trazidos, percebe-se que, ambos, pertenciam ou eram criação do fantasma. Bem, parece que o Fantasma da ópera foi sempre uma sombra entre Raul e Christine. Talvez ela tenha "recusado a verdadeira beleza" ou a felicidade. 

 
Visitar o túmulo é a exteriorização da lembrança que se tem do espírito querido, é uma forma de manifestar a saudade, o respeito e o carinho. Desde que realizada com boa intenção, sem ser apenas um compromisso social ou protocolar, desde que não se prenda a manifestações de desespero, de cobranças, de acusações, como ocorre em muitas situações, a visitação ao túmulo não é condenável. Apenas é desnecessária, pois a entidade espiritual não se encontra no cemitério, e pode ser lembrada e homenageada através da prece em qualquer lugar. A prece ditada pelo coração, pelo sentimento, santifica a lembrança, e é sempre recebida com prazer e alegria pelo desencarnado. (Equipe do CVDEE)
CONCLUSÃO 
A voz do "Anjo da Música" estava por toda a Ópera. O "céu era o seu único limite"[8], mas a sua força enfraquecia diante do calor infernal do subterrâneo. O "egoísmo desmedido"[9] vibrava com autoridade se escondendo por trás da máscara da "Divina modéstia".[10]
Erik consegue mostrar as várias faces do espectro que nos aterroriza sem ser visto. Gárgula repugnante! Controla a mente humana desejando secretamente a beleza e o paraíso, mas nos obriga a conviver com as regras enquanto deleita-se superando todo conceito de certo e errado. A ópera é o firmamento entre o céu e o inferno. Estão misturados em um só. E você não está em um lugar frio e sombrio por causa de um pecado mortal, mas por você ter um rosto horrendo. Nada melhor do que mostrar a história da humanidade através de um drama e um romance infeliz. Desde quando podemos escolher nossos caminhos e quem irá compartilhar dele? O Fantasma da Ópera escolhe. É o próprio tráfico. Dante já dizia:


Quando eu me encontrava na metade do caminho da vida. Me vi em meio a uma selva escura: perdi o rumo, desviado do caminho certo. É difícil descrever aquela selva cruel - que ainda agora a lembrança renova o medo. (Dante, inferno)

Significa dizer que quando o Estado-nação declara guerra matando milhões de pessoas sem compaixão é porque a honra para a espécime humana é uma piada de mau gosto. Esquecem seus deveres e obrigações morais para com seu semelhante ao primeiro sinal de dificuldade, não se importando com a dor do outro. Você é tão bom quanto o Fantasma o permite ser. "No teatro ninguém é modesto".
Não se pode duvidar que Erik mostrou através da ópera, crimes irrefreáveis e planejados. O Fantasma assassina, suborna, ordena, tortura, provoca tragédias, administra, arquiteta, rouba e mente para "satisfazer seu desejo por sangue e pela carne". Afinal, quem pode dizer o que é LUZ e ESCURIDÃO? É mesmo um paradigma contraditório! A verdade não é absoluta e nos permite encontrar LUZ na ESCURIDAO, e, ESCURIDÃO na LUZ. Em certas circunstâncias, a LUZ é até mais fria e insensível do que podemos imaginar. Exponha-se ao sol por muito tempo e verá o que acontecerá. As pessoas civilizadas estão comendo umas as outras. Vaidade! Arrogância! Intolerância! Dinheiro! Prazer! Violência! Esta é a saída para os fracos de corpo e alma para quem não quer perecer. É o único jeito sensato de viver. Neste mundo! No novo mundo! Já chegou a Nova ordem Mundial!
O Fantasma da Ópera usa de armadilhas, narcose e do terror para atrair suas vítimas, matando-as com um "Laço Punjab". Sabem por quê? Porque as armas são rápidas demais para matar, e assim, o fantasma não poderá saborear as emoções vinda da dor a altura de um ser humano. Diz o Coringa! [11]
"Em momentos tão derradeiros, as pessoas mostram o que elas são na verdade", diz o Coringa. [12]
Caçado pelo mundo e odiado por toda parte, Erik demonstrou amor e compaixão. Desistir da vida era abdicar-se de fazer o mal as pessoas. Aqui neste mundo se paga com o mal. Estamos no subterrâneo! Prazer, diversão e abominação! Erik era a exceção. Mostrou o quanto é ridículo as tentativas do Fantasma da Ópera controlar tudo e todos, diz o Coringa. [13] Uma eternidade disso e o mundo jamais encontrará compaixão. O Fantasma é o ventríloquo que te aprisiona e te limita. Ele é onipotente. Para ele as pessoas não possuem "decência e devem ser exterminadas sem hesitação, sem pena".[14] "E quando uma floresta fica selvagem demais, um incêndio purificador é natural e inevitável".[15] (Ras´s al Ghul - Batman Begins) Enquanto houver máscaras estaremos cegos e incapazes de superar aquele que diz dominar o Céu e o Inferno. Prepare-se para receber a rosa do Fantasma da Ópera. IMORTAL!  BRINQUEDO DE PAPEL MACHÊ. No sono... no sonho... na vida... é o amor em conflito.
em andamento



 EM ANDAMENTO
Equipe do CVDEE. Disponível em: http://www.cvdee.org.br/artigostexto.asp?id=121

LEROUX, Gaston. O Fantasma da Ópera. Tradução e adaptação Margarida Patriota. ed. I. São Paulo FTD, 2007.  Coleção grandes leituras. Clássicos Universais.
 
Temperini, Eduardo. O Fantasma da Ópera. Disponível em:  http://tpeventos.com.br/tag/o-fantasma-da-opera/

Ficha Técnica: Diretor: Joel Schumacher
Elenco: Gerard Butler, Emmy Rossum, Patrick Wilson, Miranda Richardson, Minnie Driver, Ciarán Hinds, Simon Callow, Victor McGuire.
Produção: Andrew Lloyd Webber
Roteiro: Andrew Lloyd Webber, Joel Schumacher
Fotografia: John Mathieson
Trilha Sonora: Andrew Lloyd Webber
Duração: 143 min.
Ano: 2004
País: EUA/ Reino Unido
Gênero: Musical
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Classificação: 14 anos

 

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